Na segunda-feira, 28/06, chegou ao fim a operação de busca e captura de Lázaro Barbosa, acusado de matar quatro pessoas de uma mesma família em Ceilândia. O criminoso foi morto em troca de tiros com a polícia na área rural do município de Águas Lindas de Goiás.
A operação policial virou uma verdadeira caçada que se estendeu por 20 dias. Foram mobilizadas unidades da Polícia Militar, Polícia Civil, Bombeiros de Goiás e do Distrito Federal. Cerca de 270 policiais foram empregados na operação.
Agora que tudo acabou, resta fazer um balanço geral dos acontecimentos. Em primeiro lugar, é preciso destacar a urgência de capturar o criminoso, pois havia risco de novos homicídios. Embora necessária e urgente, a operação se tornou um espetáculo macabro. Ao longo desse período, o caso recebeu grande cobertura da mídia. Diariamente jornais e emissoras de televisão veiculavam matérias sobre o assunto.
A excessiva midiatização do caso atrapalhou as operações, pois gerou uma pressão desnecessária sobres as forças policiais. Às vezes, a cobertura da mídia obriga as polícias a agirem. Não foi o caso. Os policiais já estavam tentando capturar o fugitivo. A midiatização serviu apenas para entreter uma sociedade ávida por consumir esse tipo de notícia.
Os programas de lei e ordem exibidos diariamente na televisão dedicaram quase que integralmente sua programação à cobertura da caçada de Lázaro. Embora seus apresentadores demonstrassem indignação - como geralmente fazem - a cobertura rendeu pontos na audiência que foram rapidamente convertidos em lucros.
A enorme exposição também beneficiou aqueles interessados em ganhos políticos. Vários parlamentares pegaram carona na cobertura midiática para conquistar eleitores. Algumas autoridades estaduais e lideranças policiais também tentaram extrair dividendos políticos.
Se apresentadores, jornalistas e políticos se beneficiaram da superexposição midiática, outros foram prejudicados. Como frequentemente acontece nesses casos, pessoas e grupos foram injustamente retratadas como suspeitos. A mídia não demorou a estabelecer uma conexão inexistente entre o criminoso e as religiões de matriz africana. Como resultado, aconteceram ações policiais truculentas em pelo menos dez terreiros nos municípios da região. A ânsia por notícias não poupou as famílias das vítimas nem as testemunhas. Essas pessoas tiveram suas vidas expostas apenas para satisfazer a curiosidade da audiência.
Teria sido mais prudente tentar manter o grau de sigilo e reserva necessário para as atividades de investigação, afastando os holofotes dos policiais. Se isso não aconteceu no começo da operação, será necessário que ocorra daqui para frente. Pois ainda há muitas questões que precisam ser esclarecidas. Tudo indica que Lázaro recebeu ajuda de outras pessoas. Resta saber qual era o tamanho e a complexidade dessa rede de apoio. São questões que só podem ser respondidas por investigações policiais. Será muito ruim se essas investigações se transformarem em entretenimento para apresentadores e suas audiências.
Fonte: fontesegura.org.br