Um médico, secretário de Estado, subentende-se que seja uma pessoa esclarecida, de nível social, econômico e cultural, acima da média. Inconformado porque havia marcado horário para almoçar em um restaurante, e ao chegar encontrou as portas fechadas, registre-se, não por vontade da proprietária, mas sim, por conta de uma determinação da capitania dos portos de Salvador, que proibiu as embarcações de fazerem as travessias marítimas, com destino as Ilhas que compõe a região metropolitana da Capital baiana. Quem reside, quem passeia, que veraneia nestas ilhas, sabem que estão sujeitos as intempéries. Por outro lado, claro que a trabalhadora, reconhecida e requisitada Preta, da ilha dos Frades, com suas comidas maravilhosas, também sofre com isso, e certamente queria estar com o seu comércio aberto, ganhando os seus trocados para sustentar a si, seus empregados, e acima de tudo, para atender o seu público, dos quais faz parte muita gente, como Bel do Chiclete, Ivete Sangalo, bem como muitos anônimos, que se encantam com a sua culinária.
Na contramão de tudo isto, eis que surge o secretário de saúde do Estado da Bahia, o senhor Flávio Vilas Boas, que ao chegar no local, apesar da capitania dos portos ter proibido a travessia, encontra o estabelecimento fechado. Não conformado, pega o seu telefone celular, liga para a proprietária, D. Preta, a qual educadamente lhe responde por mensagens de texto, dizendo da inesperada, e inoportuna situação, a qual teve que fechar seu restaurante, pois como dito: a travessia para as Ilhas estava proibida, e por tal razão, não faria sentido ela contrariar uma decisão da capitania dos portos e deixar o comércio funcionando. As explicações razoáveis da proprietária, irritaram o todo poderoso senhor da saúde baiana, que não aceitou as desculpas pelo transtorno, do qual a proprietária não teve culpa, e mais, ameaçou denegrir o restaurante nos sites de seu amigo José Eduardo (Bocão), fazer campanha com o fulcro de denegrir o comércio, dentre tantas outras medidas que iria fazer, antes, porém, ofendendo a proprietária, D. Preta, de vagabunda.
Imaginem nas mãos de quem está uma pasta tão importante como a da saúde do Estado? Uma pessoa despreparada, desqualificada, e que demonstra total desequilíbrio em lidar com uma pequena adversidade, apenas porque não lhes satisfizeram a sua gula.
Senhor secretário, nós baianos nos orgulhamos de uma "vagabunda", que tem a arte da culinária, que gera dezenas de empregos, que trabalha sábado, domingo feriados, que com sua arte faz com que pessoas como o senhor transgridi-se as leis e atravessa-se a península para ir comer das suas iguarias.
Fico a imaginar, se poderíamos dar o mesmo tratamento quando vamos a um médico, com hora e consulta marcada, e este, por motivos que não nos compete julgar, não comparece, seria esse também um "vagabundo"?
Bel LUIZ FERREIRA