O Pix, sistema de pagamentos instantâneos, ganhou popularidade no Brasil por permitir transferências rápidas e gratuitas, a qualquer dia e horário. No entanto, o sistema acaba estimulando alguns golpes virtuais como a clonagem da conta de WhatsApp, e outros crimes como o sequestro relâmpago.
Com o Pix, os estelionatários conseguem sacar ou movimentar o dinheiro rapidamente, dificultando e reduzindo o tempo da vítima para perceber o golpe e pedir o cancelamento da operação.
Para ajudar a população, o Valor Econômico conversou com especialistas e listou algumas dicas do que fazer em casos de golpes, além de como se proteger dessas situações.
Pix não pode ser ressarcido
Um ponto ressaltado por todos os especialistas é que as transferências feitas pelo Pix, por serem instantâneas, são impossíveis de serem ressarcidas. Muitos golpistas usam chaves aleatórias e ligadas a contas abertas com documentos falsos ou de “laranjas”.
Uma das dicas é, se possível, comunicar o banco da conta de destino logo após a transferência. Isso não fará o dinheiro ser devolvido, mas pode ajudar a identificar as contas usadas nos crimes, assim como os autores.
Cuidado com vírus
Apesar de muita gente não saber, existem antivírus para celular. Ele aponta que a pessoa só deve baixar aplicativos confiáveis e, se não for mais usá-los, deve primeiro encerrar sua conta e depois excluí-los.
Para proteger as contas de eventuais roubos e sequestros, os especialistas indicam usar aplicativos para deixar os bancos em pastas ocultas no celular, ou usar um aparelho separado com apps financeiros e deixá-lo em casa. A autenticação em dois fatores em todas as plataformas também é essencial.
Fique atento ao Pix Cobrança
Com o lançamento do Pix Cobrança, modalidade na qual o boleto bancário é substituído por um QR Code para a realização de pagamento imediato, tanto em loja física, como no e-commerce, Márcio D’Avilla, especialista em segurança digital e consultor técnico da Certisign, diz que é preciso ter cuidado com essa funcionalidade. Assim como ainda ocorrem muitos problemas com os boletos falsos, o QR Code abre um mundo de possibilidades aos cibrecriminosos.
Há também dicas listadas pelo próprio Banco Central para os usuários do Pix evitarem golpes. São eles:
Operações via site e aplicativo do banco
Utilize apenas o site e aplicativo do seu banco para fazer pagamentos, cadastrar seu Pix ou realizar qualquer transação, e evite clicar em links recebidos via SMS ou por e-mails. Eles podem ser provenientes de sites falsos. E não passe nenhuma informação sobre a sua conta por telefone.
Não faça transferências usando qualquer rede wi-fi
Não use wi-fi de shoppings, bares ou qualquer outro tipo de local público para realizar suas transferências. Pode haver vírus que colocam em risco seus dados.
Desconfie de pedidos via Whatsapp
Desconfie dos pedidos de Pix que chegam via Whatsapp, mesmo que eles venham de números de conhecidos de amigos e parentes. A clonagem das contas de Whatsapp tem acontecido com frequência e o recomendado é sempre desconfiar, e confirmar por telefone ou pessoalmente a solicitação antes de efetuar o envio do dinheiro.
Caiu no golpe? Faça um BO
Se a pessoa cair em um golpe, deve comunicar seu banco o quanto antes e registrar um boletim de ocorrência. Além disso, existem formas de remover aplicativos do celular à distância e também é indicado ligar para a operadora de telefonia e bloquear o chip.
Dinheiro roubado pelo Pix é difícil de ser recuperado, afirma desembargadora
Cuidado extra com os golpes realizados pelo PIX. Conforme declaração dada pela desembargadora do Tribunal de Justiça de São Paulo(TJ-SP), Ivana David Bariero, em entrevista ao UOL News, o dinheiro perdido em golpes realizados na plataforma é bem difícil de ser recuperado.
A desembargadora comentou que a plataforma de pagamentos instantâneos do Banco Central foi feita de tal forma que acabou criando uma grande dificuldade de rastrear valores transferidos para contas de terceiros (ou seja, laranjas) em bancos digitais
A magistrada afirma que os golpistas se organizaram de forma muito rápida, já adotando o Pix como ferramenta importante para os crimes. Ainda em entrevista ao UOL News, a desembargadora recomendou os mesmos passos de segurança que o Banco Central divulga:
Diminuir o limite da transferência;
Avisar a instituição sobre transferências;
Caso seja vítima do crime, realizar o boletim de ocorrência.
O boletim de ocorrência, além de permitir que a vítima possa exigir o ressarcimento do valor roubado para os bancos, também permite que as autoridades de segurança tenham conhecimento sobre as áreas mais visadas por criminosos, para assim aumentar o patrulhamento desses locais.
Golpes com Pix em alta
Bariero, ainda em entrevista para o UOL News, também comentou que as investigações sobre os golpes do Pix apontam que os criminosos estão organizados por “células”, com uma parte responsável por andar pelos bairros e estudar o comportamento das vítimas em potencial, outra sendo responsável pela abordagem e roubo e uma última agindo nas contas digitais em nomes de laranja.
Em setembro, a Justiça de São Paulo fez as primeiras condenações em casos envolvendo golpes do Pix. Em 17 de setembro, quatro criminosos receberam penas que variaram de dez a 46 anos de prisão em regime fechado. Os quatro condenados faziam parte das chamadas “quadrilhas do Pix”, grupos de criminosos que realizam os delitos com o sistema de transferência instantânea do Banco Central.
Desde que os golpes começaram a ser relatados, o Banco Central vem tomando medidas para tentar evitar os crimes. No final de agosto, após constantes pedidos de instituições financeiras, a instituição anunciou um conjunto de medidas para tornar o uso do PIX mais seguro:
Limite de R$ 1000 para soma das operações realizadas via Pix no período noturno (das 20 horas às 6 horas), incluindo transferências dos tipos: intrabancárias, PIX, cartões de débito e liquidação de TEDs;
Oferecer aos clientes a possibilidade de reduzir ou aumentar os seus limites do sistema Pix para os períodos diurno e noturno. A redução tem efeito imediato, enquanto que o aumento levará de 24 a 48 horas para ser efetivado;
Disponibilização funcionalidade que permite cadastrar previamente contas que poderão receber Pix acima dos limites estabelecidos;
Prazo mínimo de 24h para que o cadastramento prévio de contas por canal digital produza efeitos, impedindo o cadastramento imediato em situação de risco;
Prazo mínimo de 24 horas e máximo de 48 horas para a efetivação de pedido de aumento de limites de transações com meios de pagamento feitos por canal digital, (TED, DOC, transferências intrabancárias, Pix, boleto, e cartão de débito);
Permitir que usuários do Pix possam reter uma transação por 30 minutos durante o dia ou por 60 minutos durante a noite para a análise de risco da operação;
Exigir histórico comportamental e de crédito para que empresas possam antecipar recebíveis de cartões com pagamento no mesmo dia.
Porém, mesmo com essas mudanças, os casos continuam em alta, fazendo com que na última quinta, dia 16, o Procon-SP pedisse ao Banco Central que as transferências via Pix tivessem seus valores limitados a R$ 500 por mês. O Banco Central, até o fechamento desta matéria, ainda está estudando a proposta.
Fonte: UOL