O processo eleitoral das seccionais da OAB de 2021 deve promover uma série de mudanças que deverá ter reflexos no Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil. A principal mudança é a implementação de cota racial e da paridade de gêneros, que vai aumentar a participação de negros e mulheres nos espaços de poder da entidade.
O pleito também pode significar o aumento da presença de advogados evangélicos. Ao menos é para isso que tem trabalhado o criminalista Alexander Barroso. Ele afirma já ter visitado 18 estados no último semestre para articular a participação de advogados evangélicos nas chapas que irão concorrer nas seccionais.
Em entrevista, ele explica que a iniciativa surgiu nas eleições de 2018 para seccional de Minas Gerais.
Alexander Barroso nega pauta política ou moral de movimento de evangélicos na eleição das seccionais da OAB este ano.
"Eu vinha reunindo profissionais evangélicos e nosso grupo foi um dos responsáveis por virar a eleição", explica. Na ocasião, a chapa OAB Mais Forte, presidida pelo advogado Raimundo Cândido Júnior, foi eleita para assumir a diretoria da seccional mineira para o triênio 2019/2021, com pouco mais de 35% dos votos válidos.
O processo eleitoral da OAB-MG em 2018 deixou valiosas lições para Barroso e seu grupo. "Foi prometido que teríamos representação em determinado número de comissões e isso não ocorreu. Por isso, agora nosso foco é fazer com que evangélicos sejam inseridos na composição das chapas para garantir essa representação", afirma.
Barroso explica que o movimento que tem articulado não se reúne em torno de nenhuma pauta moral ou política. "É bom deixar claro que nosso único objetivo é diminuir a sub-representação de advogados evangélicos nos espaços de poder da OAB. Hoje em dia ninguém questiona a importância do segmento evangélico em nossa sociedade e isso deve refletir também na OAB", diz.
Otimista, Barroso diz acreditar que a atuação de seu grupo deve aumentar consideravelmente a representação dos evangélicos na OAB, mas não tem estimativa em relação à eleição de membros do grupo para presidência das seccionais. "O objetivo principal não é eleger presidentes seccionais, e sim eleger diretores nas seccionais da OAB, conselheiros estaduais e federais", explica.
Preconceito
Um dos pontos de insatisfação dos advogados evangélicos é, segundo Barroso, a tentativa de resumir a atuação desses profissionais a comissões religiosas das seccionais. "Não é possível que entre milhares de advogados evangélicos não existam pessoas com perfil de liderança e competência para militar em outras comissões", reclama.
Segundo ele, essa dinâmica é alimentada pelo preconceito em torno de evangélicos. "A OAB deve ser o retrato da sociedade. Deve ser composta por mulheres, negros, profissionais LGBTQ+ e evangélicos. Quanto maior a diversidade dos quadros de direção, maior será a legitimidade da entidade na defesa do Estado democrático de Direito."
O advogado argumenta que os evangélicos são subrepresentados não apenas na OAB, mas também no Poder Judiciário, e cita como exemplo a resistência em torno de André Mendonça ao Supremo Tribunal Federal pelo presidente Jair Bolsonaro.
"Quando o presidente da República verbalizou que nomearia em uma de suas duas opções de indicações a ministro do STF alguém terrivelmente evangélico, acabou fazendo que parecesse que só isso era preciso para ser ministro. Quem conhece o André Mendonça sabe da capacidade técnica, moral e pessoal. Ele é extremamente ponderado e tem muita qualificação. Infelizmente sofremos muito preconceito. Ele foi colocado em uma situação de jogo político", lamenta.
Fonte: conjur.com.br/