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Alto risco

É uma avalanche de mortes, mais do que uma guerra. E há os sequelados, cuja vida mudou para sempre. E muita gente continua chorando de norte a sul.

14/12/2020 às 14h00 Atualizada em 14/12/2020 às 14h10
Por: Carlos Nascimento Fonte: capitalpolitico.com/
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Alto risco

Por André Gustavo Stumpf

A eleição recentemente realizada em todo o país, na totalidade dos 5.570 municípios, deixou sequelas. Não apenas políticas. As multidões se formaram nas cidades brasileiras, pequenas, médias ou grandes. Foram centenas de manifestações, milhares de discursos, carreatas, debates, enfim, gente na rua falando, bebendo, cantando, beijando, abraçando, sem máscara, como se não houvesse amanhã.

Para boa parcela delas não haverá mês que vem. A covid 19 passeou liberada pelos eleitores e provocou o repique da pandemia em todos os estados brasileiros. 

Os gráficos da pandemia apontam para cima. Mas, o ínclito presidente Bolsonaro afirmou que o Brasil foi o país que se saiu melhor no trato do problema. Disse isto sem demonstrar piedade das almas dos 180 mil brasileiros que mudaram de dimensão.

É uma avalanche de mortes, mais do que uma guerra. E há os sequelados, cuja vida mudou para sempre. E muita gente continua chorando de norte a sul.

Não há nada a comemorar. As vacinas estão chegando. É negócio milionário. O governo brasileiro está completamente despreparado para enfrentar esta nova fase. João Dória, governador de São Paulo, lançou o desafio. Pretende vacinar paulistas e brasileiros a partir de 25 de janeiro. Desafio público.

O general Pazzuelo, atrapalhado ministro da saúde, anuncia medidas que são desmentidas logo depois. Ele afirmou que começaria a vacinar em março. As pessoas passaram a fazer planos para viajar a São Paulo e receber o imunizante. Os governadores entraram em estado de ebulição. Correram para Brasília ameaçar ministro e presidente.

A correria não provocou resultado concreto. O governo brasileiro não tem plano nenhum. Não se preparou para o momento. Foi surpreendido. Não tem vacina, agulha ou injeção. Um desastre de proporções bíblicas. O laboratório Pfizer fez a proposta ao governo brasileiro no mês de setembro. Não recebeu resposta.

O momento ideal passou. Não há quantidades necessárias disponíveis, o preço subiu e a população foi duramente penalizada. E ainda vai haver, como sempre ocorre, intermediações nebulosas, na compra e distribuição dirigida para atender poderosos.

E as três vacinas foram produzidas pelos laboratórios sob intensa pressão internacional como se fosse tempo de guerra. Os imunizantes são precários e vão ser testados, na realidade, ao longo de 2021. Os vacinados serão cobaias deste experimento. Uma vacina será mais eficiente que outra. A experiência vai revelar a verdade.

A gripe espanhola surgiu num quartel no Kansas, nos Estados Unidos, quando a primeira guerra mundial estava se desenrolando na Europa. Os batalhões de soldados norte-americanos levaram a doença para os campos de batalha. E de lá, foi para o mundo inteiro. Chegou ao Brasil a bordo de um navio inglês que saiu de Liverpool, fez escala em Recife, Salvador e Rio de Janeiro. A segunda onda foi devastadora. Fez mais de 50 milhões de mortos no mundo. A doença desapareceu de maneira tão misteriosa quanto apareceu. Não houve vacina.

A contrapartida política desta confusão gerada pela pandemia é que o nome do governador de São Paulo está se colocando como o principal adversário do presidente Bolsonaro. Ele procura demonstrar eficiência na sua administração, não hesita diante dos problemas e se coloca sempre ao lado da ciência. É o reverso da posição do presidente brasileiro.

Dependendo do resultado da disputa pela presidência da Câmara dos Deputados, o outro nome deverá ser Rodrigo Maia, que trabalhou bem no Congresso para conter as excentricidades do capitão-presidente.

A esquerda terá candidato, mas deverá passar por um processo de digestão de alguns batráquios para alcançar o consenso interno. O presidente já disse a que veio. Não surpreende ninguém. Mas cometeu jogada de alto risco. Ele antecipou para dezembro o debate sobre a sucessão nas mesas do Senado e da Câmara.

Normalmente, dezembro seria o momento para aprovar o orçamento e votar as emendas necessárias. O debate eleitoral liquidou esta possibilidade e antecipou o confronto no parlamento.

O ano legislativo terminará em duas semanas. E só voltará no final de janeiro, já para a reta final das eleições para as mesas das duas casas. Maia terá seu candidato. E Arthur Lira já assumiu ser o candidato do presidente Bolsonaro.

Na história recente todas as vezes que o Palácio do Planalto se envolveu na corrida pela presidência da Câmara o resultado foi contrário ao pretendido. Na primeira vez, o eleito foi Severino Cavalcanti. Na outra, Eduardo Cunha venceu e colocou o impeachment em votação. Liquidou o reinado petista. 

Formado em Direito pela Universidade de Brasília (UnB), onde lecionou Jornalismo por uma década. Foi repórter e chefe da sucursal de Brasília da Veja, nos anos setenta. Participou do grupo que criou a Isto É, da qual foi chefe da sucursal de Brasília. Trabalhou nos dois jornais de Brasília, foi diretor da TV Brasília e diretor de Jornalismo do Diário de Pernambuco, no Recife. Durante a Constituinte de 88, foi coordenador de política do Jornal do Brasil. Em 1984, em Washington, Estados Unidos, obteve o título de Master em Políticas Públicas (Master of International Public Policy) com especialização política na América Latina, da School of Advanced International Studies (SAIS). Atualmente escreve no Correio Braziliense.

E-mail: andregustavo10@terra.com.br

Fonte: capitalpolitico.com/

 

 

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