Me passe o dinheiro, disse o Ladrão quando invadiu o ônibus, os passageiros se entreolharam assustados, esse ladrão tinha perdido a noção, ninguém mais carregava dinheiro no transporte coletivo, um ou outro resistentes ao progresso e que ainda se aventuravam eram, as vezes, severamente advertidos pelo cobrador, mal sabia ele que há muito o Capitalismo havia enxergado uma forma de se proteger dos ataques diários ao seu patrimônio e desde então, a profissão de cobrador, aquele que cobra e guarda valores, alvo frequente de ataques, passou a estar ameaçada de extinção.
Quem seria a próxima vítima? (pergunta que não quer calar)
Fazendo uso da Estatística, vários motivos foram apresentados pelo Patrão para implantar o cartão de passagem no Transporte Coletivo, inclusive o de assegurar a segurança de todos e a diminuição de crimes coletivos e em coletivos que punham em risco a vida de toda humanidade.
Isso agora era passado, a nova Lei já havia se estabelecido e hoje, desatentos a seu futuro certo, muitos cobradores ainda se incomodam quando algum passageiro desavisado teima em pagar com dinheiro e não simplesmente passar o Cartão, que elimina, por assim dizer, o intermediário.
E os ladrões se viram de uma hora para outra perdidos, as coisas caminhavam para um desfecho inesperado e quando todos achavam que seria mesmo o de um Final Feliz, surgiu...uma nova moeda de mercado: o Celular.
Mesmo parecendo estranho dizer, qualquer um pode passar um tempo até mesmo sem comida, mas sem um celular é praticamente impossível.
-Eu quero mãe, mas quero o melhor!
- Eu preciso para trabalhar...
- É a única forma de me comunicar com meu filho.
- Eu trabalho tanto, vou me dá um novo de presente.
E haja justificativas e prestações ...
Então não foi de admirar que essas pequenas jóias, exemplo vivo da genialidade humana, rapidamente passou a ser objeto de admiração e de cobiça.
No mercado paralelo tornou-se moeda de troca fácil e rápida, agora só bastava ter acesso ao mesmo em grande escala e de uma fonte renovável e porque não dizer até mesmo segura e o ladrão pensou rápido sobre como solucionar essa equação, respondendo às perguntas sobre que lugar é vitrine de diversas variedades e modelos, marcas e tecnologias de ponta, onde ele e o resto do mundo teria livre acesso?
- O Coletivo.
E o que antes causava prejuízo ao Empresário passou a causar prejuízo ao cidadão, talvez tenha sido por isso que ninguém se surpreendeu quando hoje, na transição do tempo, um indivíduo aparentando estar sozinho, adentrou no transporte coletivo e fingindo ser passageiro, ou melhor, ele também era passageiro pois pagou a passagem, fazendo uso de um cartão, de posse de um revólver e sob grave ameaça, em alto e bom som, anunciou o assalto com a seguinte frase:
- Me passe o celular!
Telma Lino
06/10/2021