Não era uma narrativa de um filme medieval que exibe cenas de abusadores sexuais em tempo de guerra. O que é pior para nós brasileiros, trata-se de um parlamentar e desnuda nossas dificuldades em elegermos representantes do poder popular.
É uma narrativa narcisista que se alimenta sarcasticamente de sofrimento, o qual não somente sente prazer no sofrimento alheio, como também não tem qualquer sentimento altruísta pela dor causada por uma guerra insana.
A narrativa do deputado estadual Arthur do Val (Podemos) não é apenas de um homem xucro que tem dificuldades de expressar para objetificar um corpo feminino que chama atenção, mas o fato dele representar um universo masculino que na nossa contemporaneidade, objetifica, mesmo que de forma sutil, o corpo feminino, com naturalidade exibicionista.
Da mesma, forma é surpreendente escutar as expressões ignóbeis referindo ao feminino como: “bagulho”, “fáceis, porque são pobres”, “não peguei ninguém porque não tive tempo”, “inacreditável a facilidade”, “se ela cagar a gente limpa...”, “pega loura tem que ter técnica”, “pega as minas”, “pega no mercado”, “pega na padaria”, “nas cidades mais pobres são melhores”, “já sabe o que eu ia fazer...”
O que torna a narrativa ainda mais torpe, deve-se por referir a refugiadas de guerra, com vidas dilaceradas a poucos dias. Cenas que tem levado à comoção mundial. Como Arthur do Val nos envergonhou!!!
Este Xucro homem é um parlamentar, o qual recebeu pelo voto democrático, o papel institucional do exercício legislativo e preservar a igualdade de gênero em termos de direitos e obrigações.
Os “Arthur do Val” estão em todos os ambientes, como ele bem disse no mercado, na padaria, nas universidades, no ambiente profissional, e o que pior nos espaços de representação pública.
Neste Dia Internacional da Mulher, ainda refletimos que a vida feminina é uma batalha de diária, é uma batalha secular.
Sair da escuridão da opressão feminina, é a primeira das grandes batalhas, cuja batalha milhares, eu digo milhões não conseguirão vencer e romper com a obscuridade mantida exaustivamente pelo machismo.
Muitas, porém, através da educação conseguirão romper a escuridão trancafiada pelo patriarcalismo. Entretanto nem sempre o processo da intelectualização abre horizontes da clareza e liberdade.
Uma vez liberta das estruturas patriarcais a luta continua sendo diária, os embates são constantes com “colegas hipócritas” de trabalho, pela misoginia social, uma vez que, o feminino que FALA e PENSA ainda é sinônimo de loucura ou até mesmo rotuladas por velhas caricaturas das bruxas da inquisição.
Mas chegamos nos espaços de poder e mesmo assim não há isonomia no tratamento, não há uma plena liberdade e respeito. Pode haver no máximo elogios, mas restritos ao caráter da beleza física, isto caso você se enquadre nos padrões eurocêntricos, afinal Arthur do Val disse que não se acha mulheres como as ucranianas, nem nas filas das melhores baladas no Brasil.
Ocupar espaços de poder, significa ao feminino ainda aflições, constantes ataques misóginos sociais e principalmente no entorno profissional, torna a vida ainda uma batalha.
A resistência é o nosso combustível, seguiremos para tirar os “Arthur do Val” dos espaços de poder.
Por isto, seguimos o mesmo rastro delas e a nossa devoção neste dia vai para algumas das mulheres que nos ensinar a ser feminina e forte.
Lisdeili Nobre – feminista sempre!
Contato: lisdeilinobre@hotmail.com