O discurso de ódio de Daniel Silveira o levou a condenação no Supremo Tribunal Federal. Por de trás destes discursos que incitam o ódio contra pessoa e/ou grupo de pessoas, teríamos várias discussões. Não irei explorar todas, porque seriam várias análises como a liberdade de expressão, porém irei discutir na perspectiva do ódio à democracia.
Por que o discurso de ódio ganhou o seu valor? Chegando a ser alçado à plataforma de campanha eleitoral da extrema direita. Irei fazer esta análise a luz da primorosa obra de Christian Dunker, Lacan e a Democracia.
Dunker diz que estamos vivendo o fundamentalismo a moda brasileira, o qual foi herdado de uma democracia tardia e fragilmente intelectualizada. Digo que não é somente o brasileiro que não estava pronto para a derrubada dos “muros” e vivermos em uma grande aldeia global e multicultural. As cores deram ressaca e a rejeição chegou.
A psicanálise de Freud, explica muito bem o que estamos vivendo, isto é, ódio está na moda. Nosso ego e superego não estão tão fortalecidos para aceitar a nova ordem multicultural, imposta por incrível que pareça pelo próprio neoliberalismo burguês.
A convivência com a diferença promoveu uma erupção da instância do id (instância da personalidade), do inconsciente que inclui desejos, vontades e as pulsões mais selvagens.
O heterógeno convívio social nos shoppings, aeroportos, teatros, esferas de poder, promoveu todo tipo de selvageria guardada no inconsciente e nos conscientes morais. Por este motivo a selvageria de Daniel Silveira, rende votos e seguidores que se identificam com uma fantasiosa ideologia de um tipo cínico de “autoridade moral” e alguns chegam a se exibirem como um fundamentalista cristão.
Dunker menciona que ao contrário dos fundamentalistas mais típico que envolvem o retorno étnico racial a uma comunidade mítica de origem, o fundamentalismo brasileiro é antropofágico, anti-historicista e anti-intelectualista.
Para muitos a democracia tem sido um carma, um verdadeiro pesadelo para controlar os instintos mais selvagens que estão guardados nas instancias de nossa personalidade. Para muitos a democracia chega a ser injusta, pois ela legitima as diferenças, que para tantos deveriam ser eliminadas.
Freud, Lacan e Dunker nos ajudam a entender como os discursos odiosos fundamentalista a moda brasileira vão tentar vociferar neste ano de eleição. Discursos com um intuito consciente ou inconsciente, em manter a velha hierarquização entre cidadãos de primeira classe ou segunda classe, entre visíveis e invisíveis, discerníveis e indiscerníveis.
O discurso de ódio quer uma matéria-prima impensante para chamar de “meu povo”, somente apossar de números cardinais, sem escutar, sem promovê-los, objetiva apenas o poder.
Portanto, não lidar com a inclusão é abrir os braços para mutação da democracia em tirania, é adotar a lógica da segregação dos campos de concentração. Muitos gosta da fala de Daniel Silveira, porque a sua fala justifica uma governança de condomínio, reservada para poucos.
Os “Daniéis Silveiras” mostram que a humanidade ainda não tem maturidade para lidar com a verdadeira democracia.
(*) Lisdeili Nobre - Docente de ciências jurídicas e universais, delegada de polícia e doutoranda em políticas publicas sociais.
Contato: lisdeilinobre@hotmail.com
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