A invasão do Capitólio, em Washington, nesta quarta feira(06), por “milícias trompistas”, tentando barrar a confirmação da vitória democrata de Joe Biden pelos parlamentares, mostrou que os EUA não são um país unido como seu nome sugere. Desde a Guerra Civil(1861/1865), que de lá pra cá, o país se divide e esta divisão é representada pelos dois partidos hegemônicos: Republicanos e Democratas.
A invasão é uma demonstração clara e evidente dessa divisão e demonstrou o desprezo que o povo desse país tem pela estabilidade social e democrática, com os apoiadores extremista de Donald Trump (Republicanos) se negando a aceitarem os resultados das urnas, ameaçando dar um golpe nos Estados Unidos e manter o presidente de qualquer jeito no poder.
A reação contrária dos governantes dos países ocidentais, orientais e até de onde não era esperado, como alguns países islâmicos, foram paradoxalmente na contra mão do regime imposto em seus países, com alguns deles criticando e ironizando a postura de Trump diante da invasão.
O presidente francês, Emmanuel Macron, fez um pronunciamento em inglês, certamente querendo dar um recado direto ao povo americano de que não compactua com atitudes antidemocráticas e se solidarizou de imediato com o novo presidente eleito Joe Biden.
Diferentemente dos lideres mundial e do presidente francês, o presidente brasileiro Jair Messias Bolsonaro(sem partido), que não sabe falar inglês, se manifestou usando seu português tosco, grosseiro, agressivo e, na contra mão dos demais lideres, se solidarizou com o presidente americano falando, mais uma vez, que houve fraude nas eleições americana e dizendo que o que aconteceu nos EUA poderá acontecer no Brasil em 2022, com possibilidade de seus apoiadores invadirem o Congresso Nacional do Brasil. Fala típica de um presidente sem noção, ameaçador, que além de não respeitar as instituições e as regras do jogo eleitoral do país que ele governa, vem se comportando como se não soubesse que somos ameaçados por uma pandemia que já atingiu á marca dos 200 mil mortos, agindo sistematicamente contrario ás medidas de segurança recomendadas como manter o distanciamento, fazer uso de máscara e, irresponsavelmente, ainda faz campanha contra as vacinas, negando sua importância no controle da doença como se o povo não precisasse ser vacinado. Foram por causa dessas e outras ações e omissões que o presidente Donald Trump perdeu as eleições, o mesmo poderá acontecer com Jair Bolsonaro se ele não acordar de sua paranoia negacionista e resolver ser o presidente de todos e menos de sua família.
Enquanto nos Estados Unidos Trump só conta com o apoio de seus seguidores, aqui no Brasil Bolsonaro conta com o apoio de uma classe média conservadora e retrógada, mais o apoio de alguns militares saudosista da ditadura que vivem hibernando dentro de seus pijamas; de algumas polícias estaduais, de líderes evangélicos, de seus três filhos e dos milicianos que agem á margem da lei. São com estes apoios que ele pensa que se manterá no poder caso perca as eleições. Bolsonaro só está se esquecendo de combinar com o povo que não aceita mais qualquer tipo de insubordinação institucional e de combinar com os militares que estão na ativa e respeitam nossa constituição, á ordem e não ficam olhando pelo retrovisor de nossa história política torcendo por um retrocesso político.
O que favorece uma possível reação antidemocrática e autoritária de Bolsonaro é que no Brasil as instituições democráticas são mais frágeis que nos Estados Unidos, onde temos crise das instituições como no Parlamento, Executivo, Judiciário nefasto e de parte da mídia, que não sabem se comportar com a sobriedade, imparcialidade necessária, agindo sempre corporativamente, defendendo seus interesses e, para piorar, temos um povo despolitizado, ignorante e dependente das benesses do Estado, que não está nem ai para o que poderá ocorrer caso os ventos não soprem como Bolsonaro deseja, que ficam á espera de algum auxilio disso, bolsa daquilo pago pelo governo para ficarem quietos em casa.
Para o bem ou para o mal o presidente Donald Trump não está sozinho, ele tem o apoio incondicional de Jair Messias Bolsonaro que, recentemente, já havia ameaçado o candidato democrata Joe Biden por este ter dito que levantaria barreira comercial contra o Brasil caso as queimadas não diminuíssem. “Apenas diplomacia não dá. Quando acabar a saliva, tem que ter pólvora, senão não funciona”, disse ele à época.
Pena que não temos uma emenda 25ª em nossa Constituição como na americana. Se tivéssemos e o congresso fosse uma instituição que se respeitasse e não fosse um antro de corruptos (a maioria), há algum tempo esta emenda já teria sido usada e não teríamos que aturar um candidato a ditador que só mostrará sua verdadeira face se ganhar as eleições 2022. É ver pra crer.
Juarez Cruz (Escritor e cronista)
E-mail: juarez.cruz@uol.com.br
Salvador-BA