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O Gestor Público e o Cuidado com suas Convicções Pessoais

Eu confesso que me assustei com os comentários do gestor da pasta de Segurança Pública da Bahia recentemente, ao comentar sobre o uso da maconha.

03/06/2022 às 09h59 Atualizada em 05/06/2022 às 18h51
Por: Carlos Nascimento Fonte: Marcos Antonio de Souza
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O Gestor Público e o Cuidado com suas Convicções Pessoais

É preocupante o posicionamento dos gestores públicos nos últimos tempos, ao exporem suas convicções pessoais sobre assuntos sensíveis de interesse e relevância pública, em que os resultados podem trazer impactos incontroláveis, inimagináveis e danosos para a sociedade, com variadas conseqüências.

E do alto das suas irretocáveis sapiências, externam suas teorias, utilizando argumentações fundamentadas pelo senso comum de cunho populista, onde justificam seus discursos de forma simplista, e de normalidade sem precedente para a resolução de problemas complexos, que requerem ampla e exaustiva discussão, de forma que, ultrapassam as fronteiras do bom senso e da responsabilidade política que seus cargos requerem, soando ofensivos e desrespeitosos para como conjunto da sociedade e dos servidores sob suas batutas, ou seja, como um maestro que mistura as partituras da sua orquestra no momento da apresentação, sem o conhecimento dos músicos, indo de encontro as suas atribuições e finalidades.

Essa observação é extensiva para todas as esferas governamentais, seja federal, estadual, municipal, ou das casas legislativas, com seus interlocutores reverberando e tratando sempre como liberdade de expressão, não considerando possíveis danos que possam causar com as suas falas, as quais são amplamente divulgadas por meio da grande mídia e redes sociais.

Os fatos são expostos em forma de entrevistas ou postagens, a todo o momento somos surpreendidos por discursos ou opiniões de gestores públicos que vão de encontro com a finalidade da própria atribuição institucional que ocupam seus cargos, considerando os seus posicionamentos. Muitas vezes com argumentos homofóbicos, racistas, discriminatórios, machistas, em desacordo com a legislação, ao direito em suas modalidades de ação, e a constituição, vezes totalmente desconectados da realidade contemporânea da sociedade.

Eu confesso que me assustei com os comentários do gestor da pasta de Segurança Pública da Bahia recentemente, ao comentar sobre o uso da maconha, não sei quanto tempo esse comentário circula na rede, fato é que só tomei conhecimento há pouco tempo, não nos cabe aqui fazer julgamento sobre a opinião do gestor, mas fazer com que analisemos as repercussões e as dimensões que essa opinião pode levar, já que estão sendo externadas pelo gestor da pasta de Segurança Pública, onde em sua estrutura orgânica, estão situadas a Polícia Civil e Militar, instituições constitucionalmente e juridicamente responsáveis pela observação do cumprimento da lei, pelo conjunto da sociedade para um bom convívio social, leis elaboradas por quem de direito, servindo como convenções coletivas, para condutas individuais, o que pauta a atividade das polícias.

Por tanto, as afirmações do gestor da Segurança Pública nos surpreendem ao fazer as seguintes colocações – “que são poucas as pessoas que perdem o controle do uso social e moderado da droga”, “não é todo mundo que faz isso”, (palavras do gestor, fonte WhatsApp).

O que podemos compreender dessa afirmação? O que está por trás dela? Qual realidade está sendo descrita? Nós que vivenciamos o cotidiano das cidades, e vemos as cracolândias urbanas e locais de uso intenso de drogas no entorno do centro histórico, praça da piedade, bairros periféricos da cidade do Salvador, municípios do interior da Bahia, onde as famílias perderam suas tranquilidades, por conta da invasão das drogas no seio dessas comunidades, além da própria afirmação dos entes da segurança, que afirmam a todo o momento que o grande número de homicídios está diretamente conectado ao tráfico de drogas, mas, para o gestor que conhece uma maioria de amigos, ou seja, essa maioria tão expressiva de pessoas está restrita ao seu universo de amizade, que fumam cigarro de maconha todo dia, e trabalham diariamente, em trabalho nobre, e fumam pra relaxar, (palavras do gestor, fonte WhatsApp), e ainda faz um paralelo entre o fato de não gostar de vinho, e que isso não lhe credencia dizer que vinho é ruim, já que todo mundo gosta, sendo objeto de socialização, segundo o gestor - “ele não tem que usar argumento moralista para coibir uma coisa que ele não goste”, e finaliza dizendo que, “isso não faz sentido”.

O que nos leva a concluir que o gestor em questão desconsidera o universo de pessoas fora do seu ciclo de amizade, que perdem o controle do uso social do uso moderado da droga, que não são poucas, são milhares, em nosso país e no mundo, e essas pessoas não têm emprego, muito menos trabalho nobre, enquanto seus amigos fumam um cigarro de maconha todo dia para dar uma relaxada, esses milhares de quase zumbis passam o dia utilizando o lixo do cigarro e das drogas que seus amigos usam, para esquecer a vida miserável que levam descontroladas, desregradas, famintos, sem emprego ou casa descente, vestuário, calçado, higiene, sem perspectiva de futuro ou de qualquer decência social, diante do mínimo aqui exposto como um gestor público da segurança pública tem a indecência de vir a público defender seu grupo de amigos burgueses, que utilizam um cigarro de maconha diariamente para relaxar, insensíveis ao que ocorre a sua volta, inclusive se seus cigarros de maconha incomodam seus vizinhos, como podemos ter confiança em autoridades que confundem atitudes e posicionamentos de legalidade jurídica, com argumento moralista.

Quem sabe possamos salvar a argumentação elitista de interesse individual, para uma defesa do uso da planta da canabis para uso medicinal na produção de medicamentos para doenças em que elas têm utilidade efetiva e comprovadas cientificamente, para ajudar centenas de pessoas que necessitam do medicamento, essa talvez seria a postura de uma autoridade pública preocupado com a segurança da população.

Marcos Antonio de Souza

Formação: Professor de Educação Física - UCSAL, Investigador de Polícia Civil da Bahia, Pós Graduado em Metodologia do Ensino Superior - FESP/UPE, Especialização em Planejamento Estratégico - ADESG-BA, Especialização em Inteligência Estratégica - ADESG-BA, Especialização em Segurança Pública Justiça e Cidadania – UFBA e Mestre em Segurança Pública, Justiça e Cidadania - UFBA.

 
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Luis CarlosHá 2 anos Salvador BaÓtimo artigo.
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