Há não mais que quatro anos ele era visto como o sol da nossa política. A figura mais luminosa, de onde emanava toda a luz que nos banhava.
Embora, no íntimo, se sentisse uma espécie de VY Canis Majoris, a maior estrela do céu, 2.100 vezes maior que o próprio Sol.
Assim e com esse papel a cumprir, Sérgio Moro foi lançado na corrida presidencial. Empurrado pela grande parte mídia, a certeza era de que ofuscaria imediata e definitivamente todos os concorrentes.
Qual nada. Por mais que seu nome fosse insuflado por jornais impressos e eletrônicos, rádios, blogues, TVs e mais o que houvesse, em pouco tempo ficou claro que não chegaria sequer à condição de um dos maiores planetas do sistema solar.
Em nenhum momento, as pesquisas lhe concederam ao menos um terceiro lugar insofismável, capaz de animar os insatisfeitos com a persistente polarização entre os dois nomes que chegarão à disputa final, caso Lula não saia vitorioso logo no primeiro turno.
Já definido pelo Supremo como um juiz suspeito e notoriamente visto como tal pela população, acabou não só desautorizado como o nome da possível terceira via, como fez murchar essa hipótese.
Deve ter sido muito difícil o ex-todo poderoso juiz da Lava Jato engolir a sua arrogância e sair em busca de uma legenda que aceitasse lhe agasalhar, ainda assim deixando claro quais são os espaços que lhe restam.
Visto como alguém que "ensinou" boa parte dos brasileiros a verem os políticos como seres imundos, esses lhe negam os espaços das disputas de mandatos majoritários.
Para governador, nem pensar! Continua a se insinuar como postulante ao Senado, mas sendo visível que lhe puxam as orelhas quase todos os dias por tal insubordinação.
O que ainda lhe abrem é a possibilidade de disputar uma vaga de deputado federal.
Aliás, como que para lhe cobrar humildade ou convencer os correligionários de que ele não está acima de ninguém, o presidente de seu partido não hesita de puxar-lhe as orelhas e sugerir que ele pode vir a concorrer a deputado estadual.
Assim, Moro hoje é um quase ninguém. Só lhe concedem uma manchete de jornal quando seriamente desfavoráveis. Como o de que ele e a "conje" podem ter cometido crime eleitoral, com a declaração falsa de domicílio em São Paulo tão somente para ele ser candidato no Estado.
Mas a verdade é que não tem do que se queixar de ver a sua imagem associada a uma atividade delituosa.
Quantas vezes divertiu-se fazendo estampar injustamente as fotos de políticos, empresários e altos funcionários de estatais como responsáveis por crimes abomináveis?
É o que o povo costuma chamar de lei do retorno.
Fernando Tolentino de Souza Vieira - Administrador público (UFBA) Jornalista (CEUB) Ex diretor geral da Imprensa Nacional nos governos de Lula e Dilma (2003- 2015).
E-mail: tolentino.vieira@gmail.com
(*) Publicado no Jornal A Tarde, (Espaço do Leitor), edição de 06.06.2022