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O “Posto Ipiranga” sumiu

Não é à toa que Paulo Guedes, apresentado em 2018 como o cara a quem o presidente, pouco entendido de números, recorreria para conduzir o país, o “Posto Ipiranga” a quem se podia perguntar qualquer coisa,

10/08/2022 às 11h52
Por: Carlos Nascimento Fonte: brasildefato.com.br
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O “Posto Ipiranga” sumiu

Nem precisamos trazer muitos dados para que você saiba que a situação da economia brasileira não é boa. O número de 33 milhões de pessoas passando fome é quase abstrato, difícil de visualizar, mas a realidade da fila pelo osso é concreta até demais e dá a dimensão de que a vida realmente não está fácil no Brasil. O desemprego é enorme e, para quem consegue trabalhar, a informalidade garante poucos direitos. Isso sem falar na inflação, que perpassa tudo isso e contribui para piorar o cenário todo

Três anos e meio depois da posse de Jair Bolsonaro como presidente, a economia é talvez o ponto mais fraco de seu governo (e olha que a disputa é grande). Não é à toa que Paulo Guedes, apresentado em 2018 como o cara a quem o presidente, pouco entendido de números, recorreria para conduzir o país, o “Posto Ipiranga” a quem se podia perguntar qualquer coisa, desapareceu. Ele tem sido apagado das menções de Bolsonaro em meio aos discursos e agendas que miram o pleito de outubro.

Chamou a atenção, por exemplo, a ausência de Guedes do palanque quando a chapa do presidente foi oficialmente lançada pelo PL, no último dia 24, no Rio de Janeiro (RJ). O ministro não compareceu ao evento, cujo palco foi marcado inclusive pela presença de lideranças do centrão, que, ao contrário, não apareciam em 2018. Aliás, na época, Bolsonaro costumava criticar duramente as alianças com políticos mais, digamos, tradicionais. Era quando ele se apresentava como antissistema, lembra?

Bom, muita coisa mudou desde então. O nome de Guedes deu lugar nos discursos de Bolsonaro para figuras como a deputada e ex-ministra da Agricultura Tereza Cristina (PP-MS), figura de peso na bancada ruralista, e o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), um dos principais líderes do centrão.

Bolsonaro não está sozinho na recente antipatia pelo ministro da Economia. Na verdade, o sumiço de Guedes dialoga com o descontentamento de distintos setores da economia diante de uma crise socioeconômica galopante. O ministro passou a incomodar até grupos neoliberais, embora esses menos por causa dos motivos listados no primeiro parágrafo e mais porque esperavam uma agenda mais aprofundada de reformas e privatizações e um ajuste fiscal mais apertado.  

Entre outras coisas, o então “Posto Ipiranga” de 2018 havia se comprometido a aprovar reformas como a tributária, mas a pauta ainda não teve oxigênio suficiente para ir até o fim do trâmite legislativo e empacou no Congresso. Tudo isso foi ampliando, aos poucos, o descrédito de Bolsonaro junto a segmentos como o mercado financeiro, por exemplo. A repórter Cristiane Sampaio registrou aqui o sumiço de Paulo Guedes dos discursos e como diferentes setores da política e da sociedade veem a situação econômica do país.

Já pela esquerda...

Enquanto Bolsonaro perde pontos com a elite econômica brasileira, quem está na luta para reconquistá-la (embora nunca tenha atuado contra ela, seja isso bom ou ruim) é o ex-presidente Lula. O petista se reuniu com a Fiesp, a Federação das Indústrias de São Paulo, e garantiu que pautas consideradas essenciais para o setor industrial estarão contempladas no governo, caso ele seja eleito.  

Os encontros de Lula com o PIB nacional sempre atraem olhares, principalmente de gente que até hoje ainda acha que o ex-presidente e os maiores empresários do país defendem interesses incompatíveis, apesar de terem vivido os oito anos de governo Lula que dizem o contrário.

Mas também, são anos e anos de construção de discurso. Lá em 1989, muito antes de a gente passar a usar cotidianamente a expressão fake news, era comum os setores mais conservadores afirmarem que o candidato metalúrgico quebraria a economia. O presidente da Fiesp na época, Mário Amato dizia que 800 mil empresários fugiriam do país se Lula ganhasse. Na época até fazia sentido a desconfiança das elites, já que Lula se apresentava como o candidato dos trabalhadores contra os patrões.

Mas, passados mais de 30 anos daquelas eleições, depois de oito anos de governo Lula, outros cinco e meio de governo Dilma, mais uns tantos de Temer e outros de Bolsonaro, fica difícil para a Fiesp sustentar o mesmo discurso, embora tenha estado entre os patrocinadores do golpe de 2016. Depois de ver a economia quebrada no governo que tem o “Posto Ipiranga” como ministro, talvez os empresários estejam é com saudade do metalúrgico.

E Lula foi de fato bem recebido pelos representantes do PIB nacional. Ele falou sobre combate à fome e mostrou indignação diante do empobrecimento da população, mas adotou o tom conciliador que marcou seu governo: “Sabe o que eu vou garantir para vocês? Mercado. O que vocês querem é investir no Brasil para ganhar dinheiro. Isso vai ser garantido”.

Afinal, trata-se do Lula. O Lula que em 2002 se elegeu tendo o empresário José Alencar como vice e que agora trouxe o ex-tucano Geraldo Alckmin para compor a chapa ao seu lado. Estranho mesmo foi quando o empresariado se voltou contra o presidente que mais expandiu a economia do país...

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