O General Santos Cruz escreveu um artigo exclusivo para o Congresso que alerta para a politização do desfile militar de Sete de Setembro. Impressiona como o artigo lembra o discurso feito em 1968 pelo deputado Márcio Moreira Alves, que ensejou a decretação do Ato Institucional nº 5 e mergulhou o país em um longo período de trevas.
Santos Cruz agora e Márcio Moreira Alves em 1968 diziam, ambos, que, para eles, não era desejo da instituição Forças Armadas politizar o desfile. E que, nos dois casos, a instituição estava sendo utilizada para propósitos que não eram os seus.
No caso de 1968, o discurso de um deputado oposicionista radicalizou o regime, porque, então, o propósito político já estava claro. Mas, e agora? É também desejo da instituição essa politização? Ela aceitará embarcar na aventura desejada por um ou por alguns?
O General da reserva Carlos Alberto dos Santos Cruz, ex-ministro da Secretaria de Governo de Jair Bolsonaro, acusou o ex-chefe de “infectar” com populismo e politização as comemorações do 7 de Setembro. Em artigo enviado ao Congresso em Foco, Santos Cruz diz que, desde a chegada de Bolsonaro ao poder, as cores e os símbolos nacionais foram “sequestrados parcialmente pela demagogia” nas comemorações pelo Dia da Independência. “O 7 de Setembro não pode ser dia de populismo, fanfarronice e covardia”, diz.
O ex-ministro não cita o nome do presidente, mas faz referência ao ano de 2019, o primeiro da gestão Bolsonaro, e a outros episódios envolvendo o chefe do Executivo, como os ataques feitos por ele contra o Supremo Tribunal Federal durante discurso na Avenida Paulista em 7 de setembro de 2021.
“Infelizmente, em 2019, o populismo e a politização infectaram o 7 de Setembro”, escreveu. “Em 2021, o populismo se esbaldou, o estímulo à mobilização popular por diversas pautas tomou conta, a fanfarronice e a coragem irresponsável (de mentirinha) foi para a famosa Avenida Paulista, e alguns exaltados se complicaram com a Justiça… e no dia 9 de setembro, a covardia, pedido de socorro e desculpas (também de mentirinha) para escrever meia página e dar um telefonema”, acrescentou o general, referindo-se ao pedido de desculpas apresentado por Bolsonaro a Alexandre de Moraes, dois dias após os ataques ao ministro do Supremo Tribunal Federal.
Veja a íntegra do artigo de Santos Cruz
No artigo, Santos Cruz faz um apelo para que nenhum cidadão “embarque no estímulo irresponsável e inconsequente à violência”. “Os demagogos, embusteiros e fanfarrões não irão à frente. Eles ficarão escondidos e protegidos nas suas imunidades”, ressalta.
Ele defende que os órgãos de segurança, o Ministério Público e o Ministério da Justiça tenham consciência da importância da aplicação da lei com a “presteza necessária”, para que a liberdade de todos seja exercida na sua totalidade. O ex-ministro deixou o cargo ainda no início de 2019, após entrar em atrito com o vereador carioca Carlos Bolsonaro, filho do presidente. Santos Cruz chegou a ser apontado como pré-candidato do Podemos à Presidência da República, mas acabou não se lançando candidato.
Bolsonaro chegou a anunciar que haveria desfile militar no Rio de Janeiro este ano. E convocou a população a sair às ruas no feriado da Independência para se manifestar a seu favor. O presidente, no entanto, recuou da ideia nesta semana, quando disse que haverá um palanque na capital fluminense, com grandes manifestações e possibilidade de uma motociata.
“Teremos um ato cívico. É impossível a tropa desfilar. Não haverá desfile da tropa dia 7 no Rio de Janeiro. Será tudo concentrado em Brasília. [No Rio] Terão palanques, teremos lá um movimento da Marinha na praia, nossa Força Aérea com a Esquadrilha da Fumaça. A artilharia nossa atirando, a banda de fuzileiros navais. E estão organizando uma grande motociata do Aterro do Flamengo passando ali por Copacabana e Leblon”, afirmou o presidente
“[O desfile] Não vai ter, porque como a previsão é de muita gente na praia teríamos dificuldades para a tropa se organizar para o desfile. Haverá um palanque, é um movimento cívico. Não pretendo fazer uso da palavra lá. Nós vamos comemorar a nossa independência, 200 anos, mais 200 de liberdade para o bem de vocês de imprensa, que vocês sabem que vocês estão ameaçados de controle da mídia.
Na terça-feira, em discurso em Juiz de Fora, o chefe do Executivo chamou a população para o 7 de Setembro: “Nós respiramos liberdade. Nós não vivemos sem liberdade. E podem ter certeza, no próximo dia 7 de setembro vamos todos às ruas pela última vez… Comemorar, em um primeiro momento, a nossa independência. E, em um segundo momento, a garantia da nossa liberdade.”
(DRAMATIZAÇÃO): Discurso de Márcio Moreira Alves contra a ditadura em 1968