Qual conta você paga? A do espetáculo de circo ou conta de água?
Bom se você for coerente responsável, na organização financeira de sua casa ou de uma administração pública, primeiro paga-se as necessidades essenciais e se sobrar dinheiro, vamos para a diversão.
As luzes cintilantes, o clima de inverno norte americano ou europeu, personagens natalinos como “bom velhinho” e até mesmo personagens circenses, tentam dar um toque ilusionista naquilo que realmente necessita a cidade, que é enfrentar as consequências do clima com: saneamento básico, política ambiental e política habitacional.
A administração urbana é feita para os ricos, não é feita para os pobres. Este é o parâmetro para o município de Itabuna e diversos municípios baianos. Há uma discriminação racial e social ao elaborar as políticas ambientais e empregar recursos.
O regime de chuvas e o aumento da temperatura global, prolonga o período da seca e transforma as chuvas em tempestades, ocasiona com mais frequência enchentes, alagamentos e rompimentos de barragens. Desta forma, todas estas consequências são cada vez mais sucessivas nas comunidades que invadem territórios e tem acesso escasso à água, esgoto tratado e coleta de lixo.
Todo este cenário é resultado da falta de investimento em política habitacional e política de saneamento básico aos mais pobres, aos quilombolas, as comunidades indígenas e o povo de matriz africana. Toda esta discriminação para quem se governa e para quem deixa de governar, perpassa por diversas interfaces com raízes escravocratas e com suas consequências sociais e políticas
Evidente que ao chover, uma família que jamais teve condições de adquirir e construir com todos os custos tributários e imobiliários, ao ser convidada a sair de sua casa porque está localizada em área de risco, não aceita de bom agrado.
Vivemos nas contradições: entre a injustiça ambiental na periferia esquecida há anos por diversas administrações públicas e por outro lado o centro das cidades equipados e até decorados, para uma parcela da população que é capaz de consumir.
Dois “mundos” em uma cidade.
Os lucros financeiros, alguns equipamentos de cidadania, as luzes cintilantes e piscantes de clima europeu embalando as vendas de Natal, são benefícios de alguns cidadãos e cidadãs.
São administrações municipais que operam um mecanismo desigual, do ponto de vista econômico e social. Instrumentos públicos beneficiam os que tem poder aquisitivo e os danos oriundos das perdas chuvas serão ofertados às populações de baixa renda, aos grupos sociais que sempre foram discriminados, aos povos étnicos tradicionais, aos bairros periféricos, as populações marginalizadas e vulneráveis.
O racismo ambiental está perfeitamente desenhado nos municípios baianos que estão alagados nestes dias, e mostra que a conta dos danos pesam para população mais vulnerável. Não são bonecos de palhaços e Papai Noel em clima natalino que irão promover o acesso equitativo aos instrumentos públicos necessários para o bem-estar.
Não são luzes natalinas nas principais praças que irão promover a participação das famílias à vida com qualidade e saudável. As escolhas políticas discriminatórias têm ampliado a desigualdade social.
Administrações municipais baianas “ho-ho-ho” seus bonecos ilusionistas continuam criando e ampliando os seus “apartheids sociais”.
Enfim, como disse o nosso Titã, Arnaldo Antunes
Bebida é água!
Comida é pasto!
Você tem sede de que?
Você tem fome de que?...
… A gente não quer só comida
A gente quer comida
Diversão e arte
A gente não quer só comida
A gente quer saída
Para qualquer parte...
Lisdeili Nobre é doutoranda em Políticas Sociais e Cidadania, Delegada de Polícia Civil, Docente do Curso de Direito, Porta-voz Municipal da Rede Sustentabilidade de Itabuna, Cronista de diversos Blogs, Abolicionista Penal, Ativista social em projetos de Políticas Criminais de Prevenção Primária e sustentabilidade ambiental.
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