CULTURA MINISTRA DA CULTURA
Cantora Margareth Menezes comandará a pasta da Cultura
Convite foi aceito pela artista após conversa com o presidente eleito
13/12/2022 15h10 Atualizada há 2 anos
Por: Redação Fonte: Agência Brasil

Após um encontro com o presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva na manhã desta terça-feira (13), a cantora Margareth Menezes confirmou que aceitou o convite para ser a ministra da Cultura, pasta que será recriada em 2023. O anúncio foi feito a jornalistas no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB), onde está concentrada a equipe de transição do novo governo.

“Foi uma conversa muito animadora para a gente que é da cultura. Nós conversamos e eu aceitei a missão. Recebo isso como uma missão, até porque foi uma surpresa para mim também”, disse a cantora.

A baiana é a primeira mulher a ser anunciada como parte da equipe ministerial de Lula. "O presidente disse que para ele é de uma importância muito grande, e que ele está querendo fazer um Ministério da Cultura forte para atender aos anseios do povo da cultura e do Brasil pelo potencial da nossa cultura", acrescentou.

Durante a campanha, Lula prometeu a criação de comitês regionais de cultura para promover artistas e iniciativas locais, que "fujam do eixo Rio-São Paulo".

Aos jornalistas, a futura ministra disse ainda que será preciso, primeiro, "levantar" o ministério e estudar áreas setoriais para "fazer a cultura do Brasil reconhecida nacionalmente e internacionalmente".

Quais são as credenciais de Margareth Menezes para assumir o Ministério da Cultura?

Experiência em organizações do terceiro setor e com produção cultural são ativos da compositora para assumir o cargo.

Segundo o Brasil de Fato, rão logo passou a ser especulado o nome de Margareth Menezes para assumir o novo ministério da Cultura do futuro governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), a cantora passou a ser alvo de críticas nas redes sociais por supostamente não ter experiência como gestora cultural.

Conhecida nacionalmente desde os anos 1980 pelo hit “Faraó – Divindade do Egito”, Margareth Menezes tem mais de 10 álbuns lançados, várias indicações ao Grammy e fez mais de 20 turnês internacionais. Porém, suas credenciais para assumir a Cultura vão além da inquestionável capacidade artística.

A futura ministra da Cultura é fundadora e presidenta da Fábrica Social, uma ONG sediada na Bahia, que atua na área da cultura, educação e sustentabilidade. Margareth Menezes também fundou a Associação Fábrica Cultural, de combate ao trabalho infantil, exploração sexual e outras violações de direitos.

A artista baiana ainda dirige o Mercado Iaô, agência de produção cultural atuante no Estado. Além disso, é embaixadora da IOV-UNESCO, grupo que visa preservar e fomentar a produção cultural em todas as suas formas.

Neste ano, a cantora e compositora baiana foi eleita uma das 100 pessoas negras mais influentes do mundo na lista da Most Influential People of African Descent (MIPAD). O MIPAD “identifica grandes realizadores de ascendência africana nos setores público e privado de todo o mundo como uma rede progressiva de atores relevantes para se unir no espírito de reconhecimento, justiça e desenvolvimento da África, seu povo no continente e em sua diáspora.”

No dia 1º de janeiro de 2023, a cantora deve participar do show da posse de Lula, ao lado de outros artistas, como Pabllo Vittar, BaianaSystem, Duda Beat, Gaby Amarantos, Martinho da Vila, Gilsons, Chico César, Luedji Luna, Teresa Cristina, Fernanda Takai, Johnny Hooker, Marcelo Jeneci, Odair José, Otto, Tulipa Ruiz, Almério, Maria Rita e Valesca Popozuda.

Carta aberta a Margareth Menezes, Ministra da Cultura do governo democrático

'O Ministério da Cultura renasce da destruição imposta pelo ódio fascista à cultura, às artes e ao conhecimento em geral', escreve a colunista Marcia Tiburi.

É uma alegria imensa ver uma artista admirável como você é, com o percurso que você tem, na condição de Ministra da Cultura.

Por Marcia Tiburi - Professora de Filosofia, escritora, artista visual

Alegria histórica é ver que o Ministério da Cultura renasce da destruição imposta pelo ódio fascista à cultura, às artes e ao conhecimento em geral, e será reconstruído tendo à sua frente a mulher baiana que criou o Afropop e foi incansável na produção de projetos culturais para as comunidades soteropolitanas.

Alegria política é saber que Margareth Menezes representará artistas e agentes da cultura de um país massacrado nesse campo.

Fato é que o país está arrasado em todos os campos. É um fato também que a reconstrução da cultura é central para a reconstrução de nosso país.

Para além de hierarquias de importância, a história dá muitas voltas e o Ministério da Cultura que havia sido rebaixado à secretaria no governo fascista, torna-se o mais importante de todos nesse momento histórico.

O governo eleito é diferente em muitos aspectos. Ele marca o início de uma nova época para o Brasil. Trata-se de um governo que precisa enfrentar o fascismo. Não podemos errar. Esse governo tem que dar certo e não terá o sucesso que precisa ter, em nome da democracia e da vida do povo brasileiro, se esse tema triste e desesperador não for tratado como deve ser.

Quando se trata de livrar o país do fascismo e protegê-lo para que não retorne, é necessário um trabalho coordenado e o Ministério da Cultura deve ser o espaço dessa coordenação.

O campo democrático, comandado pelo Partido dos Trabalhadores e das Trabalhadoras, venceu uma eleição junto a uma frente democrática ampla. Para além disso, sobrevivemos a uma guerra cultural, ainda que haja vítimas por todo lado, mas é um fato que essa guerra continuará devorando corpos, subjetividades e a vida espiritual da população, bem como seu futuro. O poder do setor cultural no trabalho de resgate das subjetividades assediadas e mutiladas nessa guerra, é imenso. A cultura investirá no fomento às formas artísticas, aos projetos culturais tradicionais e populares, mas deverá também sustentar uma ação antifascista que perpasse as demais ações.

Cabe ao ministério da cultura aglutinar todos os ministérios para isso. Talvez não pareça possível tendo em vista o jogo de poder e acotovelamento dos homens brancos, eternos cotistas de si mesmos, mas lutar é nossa tarefa, como mulheres brasileiras, indígenas, negras, afrodescendentes e tantas mais.

É o ministério da cultura que vai coordenar as políticas culturais em escala nacional, mas é ele também que deve propor políticas interseccionais e interdisciplinares entre os ministérios - cultura, educação, comunicação, saúde, justiça, meio ambiente, povos tradicionais, economia, mulheres e direitos humanos, entre outros - para levar o governo como um todo à ação antifascista.

Os diversos setores da sociedade que sejam capazes de interromper o avanço do fascismo no Brasil devem ser conclamados a agir. Um trabalho em nível nacional envolvendo uma Comissão Nacional de Enfrentamento ao Fascismo poderia ser uma forma de fazer frente ao horror para que ele não se repita. Sem ações de enfrentamento ao fascismo e de desfascistização, em 4 anos, corremos o risco de ver o Brasil novamente lançado nas mãos sanguinárias do fascismo que não cessa de lançar seus tentáculos e de praticar chantagens contra o governo democrático recém eleito.

Não devemos negligenciar o horror do passado, pois ele é fonte de conhecimento e gera sabedoria para um futuro melhor.

Desejando-lhe todo o sucesso e à sua equipe, envio minhas congratulações com a mais profunda alegria política e feminista.