O Presidente Lula (PT) indicou que houve falha dos setores de inteligência do governo federal ao comentar os atos terroristas que ocorreram em Brasília no último 8 de janeiro.
Em uma das manifestações mais duras sobre os atos golpistas do dia 8 de janeiro em Brasília, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em entrevista à GloboNews, criticou o ex-presidente Jair Bolsonaro como incentivador das invasões às sedes dos Três Poderes. Disse acreditar que a invasão no Palácio do Planalto foi facilitada e defendeu condenação dos golpistas.
Segundo Lula, a impressão que teve foi que os golpistas estavam “acatando uma ordem e orientação” dada pelo ex-presidente Bolsonaro e que o silêncio dele sobre os atos criminosos, gera a “impressão” de que o ex-presidente “sabia de tudo o que estava acontecendo”.
“Muito tempo ele mandou invadir a Suprema Corte, muito tempo ele desacreditou do Congresso Nacional, muito tempo ele pedia que o povo andasse armado, que isso era democracia”, lembrou.
“O silêncio dele, mesmo depois do acontecimento daqui, me dava a impressão de que ele sabia de tudo o que estava acontecendo, que ele tinha muito a ver com aquilo que estava acontecendo”, disse Lula. “Possivelmente, esse Bolsonaro estivesse esperando voltar para o Brasil na glória de um golpe”.
Forças Armadas
Lula enfatizou que todos os militares envolvidos na tentativa de golpe serão punidos. “Todos. Não importa a patente, não importa a força de que ele participe”, prosseguiu. “Todos que a gente descobrir que participaram dos atos serão punidos. Terão de ser afastados das suas funções e vão responder perante a lei”.
Disse ainda que todos têm direito a votar em quem quiser, mas não se pode politizar as Forças Armadas. A instituição tem como missão defender a soberania do país.
“O soldado, o coronel, o sargento, o tenente, o general, ele tem direito de voto, ele tem direito de escolher quem ele quiser para votar. Agora, como ele é um cargo de carreira, ele defende o Estado brasileiro. Ele não é Exército do Lula, ele não é do Bolsonaro, não foi do Collor, não foi do Fernando Henrique Cardoso”, afirmou o presidente.
Ele anunciou que deve ter uma reunião com as Forças Armadas assim que voltar da viagem internacional à Argentina que fará nesta semana. E que seu intuito é que tudo volte à normalidade.
“Eu não quero ter problemas com a Força, não quero que eles tenham problema comigo. E eu quero que a gente volte à normalidade, é isso. É isso. As pessoas estão aí para cumprir as suas funções e não para fazer política. Quem quiser fazer política tire a farda, renuncie ao seu cargo, crie um partido político e vá fazer política”, acrescentou
Para o presidente, as instituições não podem ter partido nem candidato e citou por exemplo, o Supremo Tribunal Federal (STF) cuja finalidade é defender a Constituição brasileira. “A Suprema Corte não é do Lula. Sabe? Essas instituições que dão garantia a esse país não precisam ter partido e não precisam ter candidato, eles têm que defender o estado brasileiro e defender a Constituição”, explicou.
Inteligência não serviu para alerta
Na conversa, Lula sinalizou que acredita num “erro” dos serviços de inteligência do país que não o alertaram sobre a possibilidade dos ataques golpistas naquele dia. Citou o Gabinete de Segurança Institucional (GSI), a Abin e as Forças Armadas que não serviram para alertá-lo sobre o que poderia ocorrer na capital federal.
“Nós temos inteligência do GSI, da Abin, do Exército, da Marinha, da Aeronáutica, ou seja, a verdade é que nenhuma dessas inteligências serviu para avisar ao presidente da República que poderia ter acontecido isso”, afirmou, completando que “se soubesse na sexta-feira que viriam 8 mil pessoas aqui, eu não teria saído de Brasília. Eu saí porque estava tudo tranquilo”.
A entrevista do presidente Lula com a comentarista política Natuza Nery, da GloboNews, ocorreu nesta quarta-feira (18), no Palácio do Planalto. Ele falou ainda sobre a economia do país, defendeu uma reforma tributária e lembrou que seu objetivo era isentar todos aqueles que ganham até R$ 5 mil mensais do Imposto de Renda. Entre outros assuntos.