Defensor intransigente da ética, Prof. Roberto Figueira Santos pautou a vida política com honradez e conduziu os destinos da Bahia enquanto governador entre 1975 e 1979 com total dedicação à causa pública. Envidou todos os esforços no sentido de resgatar o ensino público de qualidade, consolidando uma perfeita integração entre os corpos discente e docente. Embora tenha exercido outras funções na ditadura militar, passou incólume durante o período cinzento da repressão.
Verdadeiro espírito iluminado e, acima de tudo, grande humanista. Já em plena atividade como perito criminal, tive a felicidade de testemunhar em sua gestão os primeiros passos que deram início à construção do complexo do Departamento de Polícia Técnica, situado no Vale dos Barris, velho sonho do governador como eterno defensor da ciência e da pesquisa, tornando-se realidade no final do governo. Do lançamento da pedra fundamental até a inauguração, fazia questão de acompanhar pessoalmente o desenvolvimento dos trabalhos.
No momento da oficialização do convite em sua homenagem, que estava programada inicialmente para 15 de setembro, seu aniversário, fez questão de enfatizar e sem demonstrar surpresa, ter sido a primeira vez que recebera um convite depois de findar o governo, mas asseverava ter sido a construção do complexo a sua maior obra.
Discorria sobre o assunto sem demonstrar rancor, dizendo ser típico de quem deixa o poder. Sentimo-nos recompensados pelo acolhimento recebido em sua residência e a alegria estampada em seu rosto, conscientes de que cumprimos com nosso dever. Vale acrescentar que o lento e trabalhoso processo de desapropriação da imensa área, sempre foi motivo de preocupação do então governador, em razão do agravamento da crise social, uma vez que, como toda invasão, era composta de favelados que viviam em condições subumanas. Toda infraestrutura foi projetada para colocar em funcionamento aquele que à época fora considerado o maior e melhor órgão público da América do Sul, e talvez do planeta, voltado para a atividade pericial. Fato confirmado por inúmeros turistas e peritos estrangeiros que nos visitaram, todos maravilhados com as condições de trabalho.
Infelizmente, a política predatória do sucessor impediu que o moderno conjunto arquitetônico fosse explorado como ponto de atração turística. Cogitou-se inclusive a criação de um cargo de relações públicas destinado a perito bilingue, que não saiu do papel. Sem a imprescindível manutenção, ocorreu a precarização dos serviços como um todo com o passar dos anos, fato que Prof. Roberto Santos fazia questão de enfatizar - sem ressentimentos - quando abordava o assunto.
Resta-nos a sensação do dever cumprido com a homenagem que lhe foi prestada em vida em 21 de setembro de 2007, uma festa memorável que lotou as dependências do salão nobre, entre servidores, familiares do homenageado e inúmeras autoridades convidadas.
Acredito que o Dr. Roberto Santos, pelo trabalho realizado que elevou e dignificou o nome da polícia científica na Bahia, faz por merecer a colocação de seu busto - que se encontra instalado na parte térrea do ICAP - na entrada principal do DPT, acrescido do "Complexo de Polícia Científica Prof. Roberto Figueira Santos". É uma questão de mérito e justiça.
Jorge Braga Barretto
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