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A MORTE DO SOLDADO WESLEY E A CONJURAÇÃO BAIANA

“Da Praça da Piedade à Praça do Farol da Barra”

31/03/2021 às 12h41 Atualizada em 31/03/2021 às 14h19
Por: Carlos Nascimento Fonte: Marcos Souza
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A MORTE DO SOLDADO WESLEY E A CONJURAÇÃO BAIANA

Por Marcos Souza

Salvador ainda respira e aproveita a ressaca de seu aniversário, não etílica, mas pelo peso dos seus 472 anos sem descanso, e ainda assiste sozinha e vazia, a luta de seus munícipes,que se encontram subjugo mais uma vez de uma pandemia em seu território, ela também chora triste por mais um episódio de violência e brutalidade. Relembrando as execrações, açoitamentos, esquartejamentos e enforcamentoscometidos em praças públicas, como forma de intimidar e calar as vozes insurgentes contra a opressão ou desmando público ao longo de décadas, orgulhosa por seus filhos serem exemplos de resistência, inquietude e com grande senso de liberdade, sempre atentos às situações e cenários que vislumbrem sinais de opressão, desigualdades, exclusões, descriminações, racismos, intolerâncias, entre outras formas de injustiças sociais, assim foi, ao longo desses 472 anos.

As revoltas baianas são desencadeadas a partir das desigualdades sociais e dos efeitos provenientes da escravidão, as lutas sociais desenvolvidas pelo povo baiano, demonstra o grau de entendimento dessa gente comprometida com a liberdade, mesmo que isso custe suas vidas. A situação ocorrida na barra com o soldado Wesley nas vésperas do aniversário de Salvador, nos remete a uma reflexão profunda da situação em que se deu, e o desfecho decorrente dela, por mais que alguns queiram desvincular o fato da questão política é impossível, porque ele é extremamente político, não partidário, mesmo que as tendências partidárias, seja qual for a sigla ou cor, vão tentar capitanear dividendos para suas legendas, nossa visão e reflexão política nos remete ao contexto que foi produzido esse estado de obscuridade ou lucidez do Wesley, nunca saberemos se ele realmente perdeu suas faculdades mentais ou se seu surto foi institucional, a conhecida insubordinação ou quebra de hierarquia, situação inaceitável nas instituições policiais, considerado um sacrilégio pela casta dominadora.

A essa altura você deve estar se perguntando, o que tem haver os dois eventos? Muito bem! Nesse momento tenho que apelar para a memória da nossa querida Salvador, o período “Colonial”, o ano: “1798”, evento:

“Conjuração Baiana ou Revolta dos Alfaiates ou ainda Inconfidência Baiana”, sim e aí? Essa revolta objetiva: “emancipação política de Portugal”, idéias republicanas e liberdade inspirados na “Revolução Francesa”, “política representativa”busca de “melhores condições de vida”, “fomento da educação e da industrialização” fim do “descaso e da extrema miserabilidade que assolava a população”, “melhores condições de vida”, “contra o avanço das grandes propriedades canavieiras sobre as pequenas propriedades agrícolas, responsáveis pela produção de subsistência, empobrecendo essa camada da população”, os primórdios nos revelando a luta agrária, os grandeslatifundiários canavieiros subjugando os pequenos produtores e a grilagem acabando com a agricultura de subsistência, na atualidade agricultura familiar, a “com a alta nos preços dos alimentos e sua escassez, prejudicando os pobres, os mais humildes e pequenos comerciantes”, em detrimento do benefício dos grandes comerciantes e senhores de engenho.

No início membros da Elite, com grandes propriedades agrícolas e do mercado escravistas, se juntaram ao movimento criando a sociedade secreta Loja Maçônica “Cavaleiros da Luz”, os quais defendiam apenas a autonomia da colônia em relação a Portugal, divergindo posteriormente com as ideias mais amplas do movimento, traindo a causa, sendo presas suas principais lideranças. Sim e aí? Aí que,entre esses estavam: Manuel Faustino dos Santos e João de Deus do nascimento“ALFAIATES” e Lucas Dantas e Luiz Gonzaga “SOLDADOS”, todos pretos e do povo. Sentença, membros da Loja Maçônica “sociedade da luz”, mais, Cipriano Barata, Tenente Hernógenes d’Aguilar, Professor Francisco Muniz, “ABSOLVIDOS”, enquanto os quatros pretos do povo: “ENFORCAMENTO”, ocorrido na “Praça da Piedade”, demais pobresforam apenados com prisão perpetua ou degredo na África.

Conclusão em 1798, Lucas Dantas e Luiz Gonzaga “SOLDADOS”, juntamente com Manuel Faustino dos Santos e João de Deus do nascimento “ALFAIATES”, são enforcados na “Praça da Piedade” diante dos olhos e do protesto do povo, por defender ideais de “Liberdade”, por ir de encontro ao sistema da elite opressora.

O Ano: 2021, o Século: XXl, Data: 28/03/2021, dia anterior ao aniversário da Cidade do Salvador,  Wesley Soares Góes “SOLDADO”, é fuzilado pela sua instituição em plena praça do Farol da Barra, testemunhado e registrado por dezenas de pessoas, o que defendia, nunca saberemos, foi calado mesmo portando uma braçadeira branca no braço, versão de seus algozes, ele teria disparado contra aqueles que estavam, determinado a matá-lo, fato é que um policial operacional, na distância em que se encontrava com tantos alvos expostos, atira contra esses alvos e não acerta nem nas viaturas estacionadas? Enquanto na mesma moldura é alvejado de imediato, pelo grupo que estava determinado a eliminar o Wesley, sendo literalmente “FUZILADO”, como é visto que mesmo caído e sem ação, essa mesma equipe avança descarregando suas armas, em um ato de puro excesso e covardia.

Ficam as perguntas “POR QUE CALAR O SOLDADO WESLEY? A QUEM INTERESSAVA?”, A RESPOSTA DEVE ESTÁ EM ITACARÉ, VAMOS PROCURAR!

Marcos Souza - Investigador de Polícia Civil/Ba.

Especialista em Segurança Pública Justiça e Cidadania.

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