EDUCAÇÃO/CULTURA EDUCAÇÃO
Violência, uma pauta que parece inesgotável
A educação é o meio mais seguro e rápido para transformar as pessoas
11/03/2023 08h04
Por: Antonio Kleber Fonte: CORREIO 24H

De segunda (6) a sexta (10), apenas uma das capas do jornal Correio não trouxe uma chamada relacionada à violência em Salvador (aí incluído o caso de assédio a mulheres em um restaurante). A repetição do tema não é culpa da imprensa, sobretudo porque um dos mantras para definir o que é notícia é o inusitado da situação:

“notícia não é cachorro morder um homem, mas um homem morder o cachorro”, repetem há anos os professores de jornalismo. O que explicaria, então, essa repetição? Com certeza, não é ausência de assunto, pois “não é por falta de notícia que um jornal vai sair em branco”, grita outro bordão das redações. 

Acontece que a pauta da violência se sobressai e cala outros temas. E a repetição, aqui, também é uma denúncia. Da incapacidade de sucessivos governos darem uma resposta satisfatória às mortes, ao tráfico, às agressões diversas. 

Retrata também como o desacerto governamental impacta na vida dos cidadãos.

“Final de semana sangrento tem 5 mortos e 10 feridos na capital”, diz a manchete de segunda;

“Salvador e RMS registram crescimento no número de pessoas baleadas em fevereiro”, mostra a segunda manchete da terça; “Toque de recolher deixa cerca de mil estudantes sem aula em Plataforma”, foi a manchete da quinta; e “Novos relatos reforçam acusação contra dono de restaurante por assédio”, trouxe a violência (contra mulheres e meninas) de volta ao topo da primeira página na sexta.

 

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As reportagens dizem que muitas mortes (o fim da vida de maneira antinatural é a maior de todas as violências, mas não a única) são consequência da guerra de facções pelo controle do território para a venda de drogas. Com o domínio de território, esses grupos também impõem leis, regras e heróis. Decidem se o ônibus pode circular, se comércio pode funcionar, se o posto de saúde pode atender doentes, qual a igreja e religião aceita ou se a escola pode ensinar crianças e jovens alunos. Criam um estado paralelo, enquanto o estado oficial, quando muito, reforça o policiamento em operações de poucos dias e vai embora. Tem sido assim há décadas. E tem sido pouco. Porque tudo indica que esse estado paralelo está a cada dia mais rico, mais armado e com mais soldados, muito deles jovens aliciados depois de impedidos de frequentar escolas.

Há exemplos, caminhos, ideias e inovações em políticas de segurança pública que alcançaram sucesso em todo o mundo. O que parece inexistir é disposição de enfrentar a  questão a fundo e mudar de vez a pauta, para que a violência seja a exceção, e não a regra.

Funkeira debocha de professores

A educação é o meio mais seguro e rápido para transformar as pessoas, romper o ciclo da pobreza, desenvolver uma região e diminuir indicadores de  violência. Mesmo assim, poucas profissões são tão aviltadas no Brasil quanto a de professor. 
Famosa nas redes sociais por causas de performances eróticas, a funkeira MC Pipokinha abriu a caixa de perguntas do Instagram e se deparou com o relato de um fã que afirmou ter brigado com a professora para defender a cantora. A resposta, veio em tom de ataque debochado:

“Não discute com ela não, tadinha. Não discute porque ela pode acabar descontando tudo em você, te reprovando na prova. Meu baile tá R$ 70 mil, 30 minutinhos em cima do palco, eu ganho R$ 70 mil. Ela não ganha nem R$ 5 mil sendo professora, às vezes".

No Japão, em qualquer lugar em que o imperador apareça, todos precisam baixar a cabeça em reverência, menos os professores. Porque todos são ou foram ensinados por um , até o imperador. 

Leis novas, justas e necessárias, mas...

Na quarta (8), o mundo comemorou o Dia da Mulher. No Brasil, a data foi marcada pelo lançamento de diversas e justas medidas voltadas para elas. O governo federal, por exemplo, enviou ao Congresso um projeto de lei para obrigar que as empresas paguem o mesmo salário a homens e mulheres que exercem os mesmos cargos e realizam as mesmas tarefas. Hoje a diferença está em torno de 22%. Um segundo projeto institui o  Dia Nacional Marielle Franco de Enfrentamento à Violência Política de Gênero e Raça (14 de março). Já a Câmara dos Deputados aprovou o pagamento de pensão a crianças e adolescentes cujas mães sejam vítimas de feminicídio. Estranho viver num país em que não se sabe qual a lei que ‘vai pegar’