ARTICULISTAS RACISMO GENOCIDA
Nenhuma novidade na Bahia: O racismo genocida de cada dia.
Será que ainda restará alguém que possua alguma dúvida ou negue que as instituições policiais são fundamentalmente racistas?
17/03/2023 12h14
Por: Carlos Nascimento Fonte: IPC Denilson Campos Neves

Mesmo quando a vítima é membro trabalhador de uma instituição policial.... será que ainda restará pedra sobre pedra da negação do racismo que estrutura e fomenta as práticas, ações e condutas históricas das instituições policiais nesse país? Será?

Mesmo sentindo na própria pele, há de se imaginar que exista ser inteligente que negue o racismo das e nas polícias?

E aqui quero, mais uma vez, reiterar que não podemos confundir a instituição, sua doutrina e significado...com os(as) trabalhadores(as) policiais que nela laboram. Policiais são peças usadas nessa engenharia, mas não são a engenharia.

Não é de agora, nem exclusivamente nesse século que assistimos e vivenciamos ações das instituições policiais aplicarem, agirem e implementarem a política RACISTA que lhes norteiam e fazem com que essa seja a sua razão de ser.

Não é demais repetir que muitos(as) pretos(as), pobres, periféricos(as) são tratados(as) da mesma forma que o Investigador Adson Gomes Miranda foi tratado. E é perceptível que quando as condições “são favoráveis”...a execução, a morte lhes cabem muito bem! Essa é a normalidade racista genocida.

O horror que causou constrangimentos, dor e choros de seres humanos sensíveis em todo o mundo. Pois, a notícia espalhou-se pelo mundo (diante das milhares notícias de perseguições, violências, prisões e mortes de corpos negros e pobres nesse país). Em especial, a repercussão na Polícia Civil da Bahia,  na Secretaria da Segurança Pública da Bahia e TALVEZ...no Governo do Estado da Bahia, de tamanho “G” (de genocida).

Ficou nítido, no vídeo exibido como prova do que ocorreu com Adson Gomes Miranda. O “animus” exibido, dos prepostos da PMBA revela que a morte não foi imposta ao Investigador, por uma simples condição desfavorável naquele momento: Haviam muitas testemunhas!

Mas sabemos que todo o ocorrido não é uma condição privativa a PMBA. Todas as PM’s espalhadas nesse país...e, sem exceção, também às PC’s, que seguem a mesma doutrina e conduta. Essas instituições seguem um roteiro fundante e estruturante da sua própria existência. São políticas, paradigmas, doutrinas que se reproduzem, se efetivam como “modus operandis” do sistema de segurança pública perpetrado em todo o país. Eis um problema sistêmico.

Apesar de ficar claro a autoria objetiva do crime contra o Investigador Adson... precisamos pensar um pouco fora da caixa. Olharmos por outras perspectivas.

Pedir justiça, julgamento e pena para os autores visivelmente identificados... é óbvio. Mas é necessário compreender que a busca da origem e causa desse tipo de conduta criminosa está para além do indivíduo ou indivíduos envolvidos objetivamente, visivelmente no fato. Temos a absoluta certeza de que NÃO são os policiais diretamente envolvidos, no caso em análise e em todos  os outros casos existentes na história desse país, que produzem essa política e elaboram-na. Eles são uma das engrenagens da engenharia brutal, criminosa e genocida da segurança pública, mas esses(as) trabalhadores(as) políciais NÃO SÃO A ENGENHARIA e NEM a PRODUZEM, ELABORAM ou a CONSTROEM!

Cabe percebermos que a política, a doutrina o paradigma pode e deve ser percebida como um engendramento político onde dirigentes de Estado , dirigentes das instituições e parcela da sociedade possuem RESPONSABILIDADE por tudo isso.

E sempre mais fácil atribuir exclusivamente aos policiais. É mais fácil atribuir e conter a critica aos trabalhadores(as) policiais envolvidos. Essa é a escolha corriqueira e comum, cômoda. Contudo, mesmo sendo punidos, excluídos da instituição, presos e etc. as práticas e ações continuam e seguem ocorrendo e se repetindo em todo o estado, em todas as cidades, em todo país. O problema continua e piorando a cada dia. Então, onde está a causa?

Já  sabemos que ela é histórica e secular. Ela tem um propósito e foi se sofisticando ao longo da formação  desse país. As políticas de segurança pública sistemtizada sempre  procurou o controle e o embranquecimento da sociedade brasileira. Sempre procurou se livrar desse público, que foi trazido na condição de realizar trabalho escravo e agora, pós fim da forma de produzir, sem ter serventia como principal meio de produção tornaram-se um incomodo, um entrave na coexistência social.

Lideranças de Estado, intelectuais e pesquisadores, membros da elite, dirigentes institucionais, muitos numa só intenção de livrar-se desse povo de pele preta, descendentes e ancestrais. Foi assim naquele momento e tem sido assim até os dias atuais. Sempre usando trabalhadores(as) de algum tipo  de instituição científica, estatal ou privada para engendrar a política racista e genocida do extermínio de um povo. As instituições policiais sempre estiveram nessa estratégia. E assim estão até os dias de hoje.

Alguém sabe ou possuí registro histórico de que algum Presidente da República, Deputado Federal, Senador, Deputado Estadual, Governandor, Prefeito, Vereador, Coronel, Tenente Coronel, Major, Capitão, Delegado de Polícia dirigentes e chefes  de Estado serem citados ou são responsabilizados... julgados e “punidos” por esses crimes?

Alguém já viu um desses cargos e postos sofrerem julgamentos pelos crimes praticados por prepostos das instituições que eles dirigem? Eles passam incólumes  como se nada tivessem a ver com isso! Mas têm tudo a ver! Eles são os tão responsáveis ou mais. Eles produzem doutrina, treinamento, orientação, controle e elaboração sistêmica na política e na ação.

É preciso entender que NÃO basta a crítica, o lamento e as queixas! Pois, esse tipo de ocorrido que se repete todo santo dia, em todas as comunidades pobres periféricas desse país. Como disse o colega e vítima de racismo, Investigador Adson Gomes Miranda: Não é nenhuma surpresa, nem um fato único....isso ocorre todos os dias.!

A questão racial precisa ser pautada na elaboração de uma novo paradigma para um NOVO sistema de segurança pública. Um outro  sistema que precisa ser reescrito em cima dos escombros do atual modelo.

Saíamos dessa zona de conforto. Tudo que o sistema (a MATRIZ) quer e deseja é que não saíamos da zona de conforto. Vamos continuar nela? É isso?

Denilson Campos Neves

IPC/Bahia