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Pelo direito dos meninos serem crianças
A proposta, para este momento, é deixar os nossos instintos de predador e presa em um passado bem remoto para que seja possível aceitar o convite de um tempo novo, onde o equilíbrio e a igualdade prevalecem.
10/04/2023 09h22 Atualizada há 2 anos
Por: Carlos Nascimento Fonte: GUSTAVO MEDEIROS

Os acontecimentos acerca do caso de abuso flagrado em um reality show há duas semanas atrás me remontam a um lugar longe dos julgamentos que a àgora eletrônica da internet proporciona. De forma serena, é preciso analisar na raiz da questão e isso não quer dizer que estou fugindo do debate. O que eu quero é propor uma forma diferente de discutir o assunto, sem julgar ou condenar alguém, pois não cabe fazer juízos de valor ou cancelar pessoas, vencendo-as pelos argumentos, uma vez que as narrativas são diversas.

Para além do caso de abuso, precisamos olhar para os grupos reacionários, que pregam o ódio ao feminino. Ser Red Pill ou pertencer a um “clubinho” similar que propõe a misoginia como reação à conquista  de direitos e respeito parece ser, ao meu ver, um grito de desespero de certos indivíduos que, possivelmente, se sentem ameaçados. Diante disso e de tudo, é necessário compreender que os tempos mudaram e é necessário cuidar dos nossos meninos para que não haja uma repetição de padrões machistas no futuro como estamos vendo nos noticiários.

Olhar para a infância é ver que as nossas gerações tiveram acesso fácil a material pornográfico de forma prematura, ou visitou um local destinado a prostituição no sentido de ser iniciado sexualmente, antes mesmo da primeira relação afetiva fora do núcleo familiar. Além disso, fomos estimulados a não demonstrar qualquer tipo de emoção, pois o contrário disso é considerado sinal de fraqueza.

Fazer atividades que até então eram destinadas apenas para mulheres não é sinal de humilhação, mas sim de independência, uma conquista de autonomia. Neste caso devemos ser instruídos para encarar os desafios que a vida nos propõe, pois, a verdade é que nós homens, em sua maioria, fomos educados a seguir padrões que já não cabem mais em um mundo tão competitivo e desafiador, até mesmo nas questões mais práticas. Daí vem as frustrações, depressões e o suicídio, que, neste sentido,  nos afeta mais do que as mulheres, segundo dados da OMS (Organização Mundial da Saúde).

Para além dessas situações, vem outras que precisam ser debatidas por todos. A sociedade precisa  resolver na raiz ( E isso não significa cortar), na gênese de tudo o que nos constitui seres humanos. Os padrões sociais a que fomos submetidos devem ser questionados e revisitados. Nossos meninos precisam ser meninos, a infância precisa ser vivida em sua inteireza para que não sejamos adultos perversos, doentes e pervertidos em seus delírios sexuais. 

A proposta, para este momento, é deixar os nossos instintos de predador e presa em um passado bem remoto para que seja possível aceitar o convite de um tempo novo, onde o equilíbrio e a igualdade prevalecem. Se os últimos ocorridos envolvendo uma forma tóxica de viver a masculinidade choca, já não cabe mais reagir e sim refletir sobre o mundo que iremos deixar para as próximas gerações e os tempos que estamos vivendo.

Para finalizar, não nos cabe julgar os meninos do passado por serem quem são, mas sim reparar os danos e educar aqueles que serão o nosso futuro.

Por Gustavo Medeiros