Em alusão ao Dia dos Povos Indígenas do Brasil, a Secretaria de Estado da Educação e da Cultura (Seduc), por meio do Serviço de Educação do Campo e Diversidade, vinculado ao Departamento de Educação (DED), promoveu uma vivência intercultural entre alunos indígenas e não indígenas da rede estadual de ensino. Ao todo, quarenta estudantes do Colégio Estadual Jackson de Figueiredo e do Colégio Estadual Senador Leite Neto de Aracaju foram recebidos por alunos indígenas e demais membros do Povo Xokó, ao ritmo do toré, dança circular tradicional entre os povos indígenas do Nordeste brasileiro.
A atividade cultural aconteceu no Colégio Indígena Estadual Dom José Brandão de Castro, por ser o Povo Xokó a única comunidade indígena de Sergipe com uma escola estadual em pleno funcionamento no seu território. Durante a vivência os alunos não indígenas também passearam pela aldeia, apreciaram o artesanato indígena, visitaram as instalações da escola, conheceram o tempero das merendeiras indígenas e tiveram a oportunidade de indagar o Cacique Bá e o Pajé Jair sobre a história do Povo Xokó, a luta pelo direito à terra, a conservação do meio ambiente e do rio São Francisco e a importância de salvaguardar rituais e tradições como o Ouricuri, o Toré e a Cerâmica Xokó que contribuem para a preservação da cultura indígena e das raízes sergipanas.
O Cacique Bá fez questão de ressaltar para os jovens que o 19 de abril é uma data presente no calendário nacional que marca o Dia dos Povos Indígenas do Brasil, mas esta data não é de comemoração. “Infelizmente, no século XXI ainda há muitos indígenas morrendo no Brasil por falta de terra ou por lutar pelo direito à terra. Por isso, nós não comemoramos esta data”, avaliou o cacique Xokó ao afirmar: “O Povo Xokó comemora, todos os anos, o dia 9 de setembro. Esta, sim, é uma data para celebrar a retomada da nossa terra e a liberdade de decidirmos sobre o nosso futuro como indígenas”.
Para o estudante Guilherme Santos, do Colégio Estadual Senador Leite Neto, a vivência intercultural foi uma atividade muito importante para a turma, tendo em vista que poucos colegas conhecem a história e a cultura dos Xokó. “Na nossa escola já teve apresentação dos Kariri-Xocó de Alagoas, mas eu não conheço muito da cultura dos Xokó de Sergipe. Eu estava bem ansioso para ver e dançar o toré com eles”, disse.
O Pajé Jair aproveitou o momento para endossar que a vivência intercultural é importante porque desmistifica os preconceitos presentes em alguns livros de história. “Nós recebemos os alunos e professores não indígenas na nossa aldeia e na nossa escola porque a comunidade entende que é importante dar visibilidade às nossas lutas e também porque acreditamos que, ao mostrar nossa cultura e nossos costumes, seremos mais respeitados e menos discriminados na sociedade”, enfatizou a liderança espiritual do Povo Xokó.
Já Emerson Alexandre Rodrigues, aluno do Colégio Estadual Jackson Figueiredo, comentou que essa foi a primeira vez em que teve contato com uma comunidade indígena. “Eu estou achando surreal de bom. Estou vivendo uma coisa diferente e cada vez mais eu estou me surpreendendo com as pessoas daqui. Acho que essa troca de experiência é muito produtiva porque os alunos que moram em cidade grande não conhecem a realidade daqui. É um mundo completamente diferente do nosso. Só estando aqui para entender”, ponderou.
Paola Saraiva, aluna indígena, disse ser importante que alunos de outras cidades conheçam a realidade da comunidade Xokó, mas enfatizou também a necessidade de os jovens indígenas conhecerem outras realidades. “Nós estamos acostumados a receber outras escolas na nossa comunidade. Essa troca de conhecimentos e experiências é importante. A gente se comunica debaixo dos pés de árvores e a gente percebe que há um respeito mútuo e também uma quebra de tabus como, por exemplo, achar que os indígenas vivem em oca, pelados e na mata. Aqui, na Ilha de São Pedro, nós vivemos em casas, temos acesso à internet e rádio comunitária, temos posto de saúde e escola de qualidade e não vivemos nus”, enfatizou a jovem Xokó.
Para Geneluça Santana, coordenadora do Serviço de Educação do Campo e Diversidade/Seduc, atividades como esta de vivência intercultural mostra que o Governo de Sergipe vem atuando pela representatividade e investindo no diálogo. “Que esta data sirva para reforçar as raízes culturais dos povos indígenas, além de levar o nosso reconhecimento. Também serve para vermos o quanto nós avançamos, ou ainda precisamos avançar, nas ações voltadas para a educação indígena”, concluiu.