TÚNEL DO TEMPO ARTISTA PLÁSTICO
JAIME FIGURA: Os moradores de Salvador já o conhecem bem (pelo menos a sua ‘estranha’ aparência).
Jayme Figura é atropelado novamente e cogita agressão política: 'Medo de usar a bandeira de Neto'
27/05/2023 18h56 Atualizada há 1 ano
Por: Carlos Nascimento Fonte: Metro/Redação

Quem o via por inteiro andando pela cidade tem a impressão de estar diante de algo que não é desse mundo.

Os turistas de passagem pela cidade reagem à sua presença com admiração e curiosidade. Mas não existe uma só pessoa na capital baiana que não tenha ao menos ouvido falar de Jaime FiguraArtista plástico, ele cria pinturas e esculturas, primeira obra fez em seu próprio corpo, uma mutação que o tornou folclórico. Começou com pedaços de couro esfarrapado e, por cima, foi colocando alumínio e pedaços de ferro velho até chegar à cabeça, onde criou uma máscara com os mesmos materiais, uma espécie de gaiola com espaço aberto apenas para a boca e para os olhos.

Quem o via por inteiro andando pela cidade (geralmente empurrando um carrinho onde coloca seus apetrechos e coisas que cata pelas ruas e que lhe serão úteis para uma nova obra de arte ou para a sua própria vestimenta) tinha a impressão de estar diante de algo que não é desse mundo. A princípio a imagem de Jaime assusta, depois, gera curiosidade e, por fim, muitas e muitas especulações sobre quem é, de fato, aquele homem de armadura de metal enferrujado.

Seu verdadeiro nome é JAIME ANDRADE DE ALMEIDA, nascido no bairro Alto do Peru, na periferia de Salvador, filho de Estefânia e Arlindo e o mais novo entre os oito irmãos. Na primeira fase da infância levou uma vida farta, fruto do trabalho do pai, maquinista na Marinha Mercante. “Ele passava todo o tempo viajando. Como morávamos no Alto do Peru, dava pra ver os navios lá em baixo e eu ficava só olhando e esperando a chegada de papai. 

Quando ele voltava trazia aquelas caixas cheias de noz moscada, castanha do Pará, queijo cuia, vinhos, só coisas gostosas e importadas, naquela época a nossa vida era uma maravilha, não faltava alimentação”, relembra Jaime. Mas um dia o destino mudou a vida da família. Em uma de suas viagens, Arlindo foi atropelado no Rio de Janeiro. Ele era diabético e, na época, não quiseram aposentá-lo, mesmo estando em serviço. Encostado pelo INSS, o pai de Jaime ainda ficou um longo tempo no hospital. Quando recebeu a indenização da Marinha, entregou a confortável casa em que morava com a família de aluguel e comprou seu próprio imóvel. “Era um lugar maligno chamado Cutuvelo, próximo ao Alto do Peru. Mas só tinha mato, miséria e cachaceiros.

Naquele tempo não existia esse negócio de droga, não, era cachaça mesmo! As pessoas de lá eram atrasadas, sem estudo. Comecei a fazer carrinhos no fundo do quintal, montava ventiladores, ficava inventando coisas que ninguém fazia, coisas diferentes com peças quebradas que acabavam sendo roubadas pelos filhos dos vizinhos. Eles tomavam tudo o que eu criava e ainda me jogavam pedras, me humilhavam.” A mãe até chegou a levar o menino Jaime ao médico para “fazer exame da cabeça e saber se eu tinha algum problema”, conta.

A INVEJA QUE ANIQUILA

O baiano cresceu e, na adolescência, arrumou emprego em uma gráfica com um conhecido de seus pais, começou varrendo o local e, ao mesmo tempo, observando como se fazia a chapa de letras, os logotipos. “Um dia pedi ao dono para deixar eu fazer o meu nome e fiz um cartão: Jaime Almeida Andrade - Chapista, com meu endereço embaixo. O cara viu, gostou e começou e me passar outros trabalhos. E tome cartão!”, fala o artista plástico, aos risos.

E ele não parou mais…Com o tempo, recebeu convite para trabalhar em uma gráfica maior. Lá fazia chapa, logotipo e cartazes com letreiros enormes. “Ficava desenhando com os dedos sujos, trabalhava com caneta Nankin”. Jaime foi evoluindo como profissional de gráfica e também como pessoa, andava todo arrumado, com boas roupas, relógios, bolsas e tudo aquilo que podia (e queria) comprar com o fruto de seu trabalho.

Os vizinhos de Cutuvelo, porém, também cresceram e, à medida que Jaime se mostrava cada vez mais feliz (jovem, bonito e saudável, fazia grande sucesso com as mulheres), a inveja dos outros aumentou. “Aqueles pobres diabos, pobres de espíritos ficavam me observando quando eu saía de casa. Ia para as festas e, quando retornava, lá estavam eles. Me batiam, me chutavam e tomavam tudo que era meu. Me perseguiam porque eu era diferente, não me misturava com eles. Eu andava empolgado, alegre com o meu próprio crescimento, que veio com a minha sabedoria. Tudo que eu fazia virava ouro e despertou a cobiça”, explica Jaime. Tal perseguição ainda traria profundas consequências na vida do nosso artista…

E foi levando a vida assim! Trabalhou na mesma gráfica por mais ou menos cinco anos, quando recebeu uma nova proposta de trabalho, com promessa de um salário maior e a oportunidade de trabalhar com o renomado artista plástico José Araripe Jr. “Aceitei e aprendi muito com ele, que me apadrinhou no meu trânsito pelas universidades. Eu só cursei até a metade do segundo grau e com ele transitei pela Universidade Federal da Bahia (UFBA), Universidade do Estado da Bahia (UNEB) e outras.

Frequentava vernissage e aprendia tudo que ele me ensinava. Mas não conseguir me segurar, fui ingrato e tentado por uma oferta melhor de salário. Não resisti e acabei virando as costas para Araripe, fui para um novo emprego”, relembra.


 Comecei a rasgar minhas roupas, andava rasgado com a bolsa na mão e com todos os meus trabalhos dentro”

“MOSTRO A MINHA ARTE, MAS NÃO PRECISO MOSTRAR O MEU ROSTO”

Mas aí veio o plano Collor de Mello e… Bem, aquela altura Jaime tinha seu próprio carro e só andava com roupas e sapatos de grifes, além de desfrutar da companhia de muitas mulheres. “Mas o Collor quebrou todo mundo, né?”, questiona. “A gráfica em que comecei a trabalhar começou a despencar. Fui demitido e já estava, a essa altura, com uma mulher grávida.” (Nesse momento, Jaime fica cabisbaixo e diz, com ênfase, que não gostaria de falar sobre essa parte de sua família e continua…). “Acabei não suportando aquela pressão novamente na minha vida.

Comecei a rasgar minhas roupas, andava rasgado com a bolsa na mão e com todos os meus trabalhos dentro” E aquelas mesmas pessoas que o perseguiam em seu bairro continuaram a violentá-lo fisicamente: jogavam laranja podre em cima dele, o revistavam e diziam: “Ele ficou louco! Era bom desenhista, mas ficou louco!”.

“Coloquei a máscara porque não suportava mais olhar para a cara deles, passava e eles olhavam para mim, rindo da minha cara. Me entreguei totalmente à morte, uma parte de mim morreu”, explica.

A VIDA NO CINEMA

Jaime passava o dia inteiro andando pelas ruas de Salvador, principalmente pelo centro histórico. Se sentindo cansado, doente, se queixa de muitas dores no joelho e passa algumas necessidades. Busca atualmente se aposentar, assim, teria condições mínimas de sobrevivência. Também tentar viabilizar a mudança de sua família para um lugar mais tranquilo e digno (mulher e filho moram em Sussuarana, bairro violento de Salvador).

Quer viver em paz ao lado deles, além de divulgar sua música (ele tem uma banda de punk rock), suas pinturas, suas esculturas e abrir um ateliê para comercializar sua arte. Por enquanto, vive em um espaço reduzido no Pelourinho, um pequeno quarto onde está construindo um sarcófago e onde está também o caixão no qual ele dorme e sonha com dias melhores.

Famoso, Jaime já foi tema de várias matérias na imprensa, inclusive no Fantástico. E sua história chegou aos cinemas pelas mãos do diretor Daniel Lisboa, que ficou alguns anos acompanhando o artista plástico para concluir o documentário O SARCÓFAGO, sucesso por todos os lugares onde foi exibido. E loucura não é a palavra mais apropriada para definir as reações de Jaime Figura e sua transformação.

Conversando com ele, é possível perceber que tudo não passou de uma defesa e, por meio dela, nasceu um artista performático, que tem em seu corpo a sua mais expressiva arte. A armadura e a máscara de ferro traduzem a mensagem desse artista plástico baiano. Com elas, Jaime passa o seu protesto, a sua revolta e ainda faz o povo refletir sobre a importância que damos à aparência física, à uma estética inventada e absorvida por todos, mas que na prática não mostra a verdadeira essência e o valor de uma pessoa.

CIDADE

ʹNunca pensei que um simples atropelamento fosse destruir minha vidaʹ, Jayme Figura desabafa

Jayme Figura está lesionado. Jayme Figura está revoltado. Jayme figura está de volta. O artista plástico Jaime Andrade Almeida, que há pelo menos 25 anos é uma das imagens mais marcantes das ruas de Salvador, estava sumido desde que foi atropelado em outubro de 2016, mas retorna e pede ajuda para comprar medicamentos.

Jayme Figura está lesionado. Jayme Figura está revoltado. Jayme figura está de volta. O artista plástico Jaime Andrade Almeida, que há pelo menos 25 anos é uma das imagens mais marcantes das vias de Salvador, com uma armadura que a um só tempo reflete e repele a paisagem-vida urbana, a "luta brava da cidade", foi atropelado em outubro de 2016, na Rua Carlos Gomes, e, desde então, anda sumido.

Ele quebrou cinco costelas, lesionou coluna e bacia, comeu o pão que o diabo amassou, mas está de volta. Sem dinheiro para continuar o tratamento à base de antibióticos, sem material para trabalhar, sem direito ao DPVAT (Seguro de Danos Pessoais Causados por Veículos Automotores de Via Terrestre), por não ter visto a placa do carro que quase o matou, Jayme Figura faz um apelo a quem quiser ajudá-lo. Em entrevista exclusiva ao Metro1, ele desabafa: "Nunca pensei que um simples atropelamento fosse destruir minha vida"!

O artista acumula dívidas no banco e, para piorar, a esposa sofreu um AVC (Acidente Vascular Cerebral) e, sem condições financeiras para um tratamento adequado, tem lapsos de memória e crises em casa mesmo. "Minha vida está um inferno. Enquanto eu não recuperar minha coluna, minhas costelas, vai ser assim... Se as pessoas puderem me ajudar, serei grato".

Nas ruas, em suas raras aparições nos últimos meses, os passantes manifestam carinho e curiosidade (muita gente não sabe do acidente), além de estranhamento pelo novo visual de Figura. Uma estrutura plástica, mais leve, remete menos às armaduras medievais que aos equipamentos de escritório: "luta brava da cidade". Questão ergonômica. "Estou me sentindo ridículo com essa roupa. Estou revoltado de andar assim pela cidade. Mas, não posso me arriscar, não estou 100% recuperado e a roupa de ferro pesa muito", explica.

O tratamento das costelas foi feito sem platina, "estão coladas com antibiótico", diz ele, o que demanda mais tempo para recuperação. Os remédios, cujas caixas o artista exibe para a reportagem, são muito caros, não tenho condições de tomar nos prazos certos, por isso peço ajuda".


Jayme também coloca em leilão uma máscara confeccionada por ele, em metal. "É uma peça de decoração, não é para botar na cabeça", esclarece, ao exibir a peça, com estilo bem marcado. Na Rua Direita de Santo Antônio Além do Carmo (Centro Histórico), turistas passam, olham para o homem sob a armadura e sorriem. Ele caminha. A caminhada já dura décadas e já rendeu estudos, teses, amizades e deboche. A caminhada é difícil, mas ele segue. Os turistas passam. Ele fica. A roupa é áspera, mas ele cumprimenta as pessoas. O artista pede ajuda. "Na luta brava da cidade".

Jayme Figura é atropelado novamente e cogita agressão política: 'Medo de usar a bandeira de Neto'

O performer procurou a Rádio Metrópole, na manhã da terça (08/05/2023) para relatar mais um atropelamento, desta vez na Avenida Gal Costa

 

Jayme Figura foi atropelado novamente. Na manhã de 8/5, o artista plástico procurou o Metro1 para narrar o novo infortúnio: "Uma moto me pegou, ali na Gal Costa, no pistão. Um ferro entrou em meu braço, foi muito sangue. Agora estou ainda mais impedido de trabalhar. Não sei se foi por causa da bandeira de Neto, que esse pessoal não gosta. Ou então é uma maré de azar desgraçada", disse.

Ele, que retirou a armadura para mostrar o braço atingido, revelou temor, diante do acirramentos dos ânimos na cisão política vivida no país: "Estou com medo de usar a bandeira de [ACM] Neto. A prisão de Lula só enlouqueceu mais as pessoas". Vinculado à família por sua relação com o ex-governador Antônio Carlos Magalhães, morto em 2007, Figura costuma carregar emblemas do prefeito e acredita que isso pode ter atraído um ataque.

O artista retirou a armadura na redação do Metro1 para mostrar o braço lesionado


O performer já tinha sido atropelado antes, em outubro de 2016, no dia da reeleição de ACM Neto. Desde então, Jayme Figura enfrenta muitas dificuldades financeiras e já recorreu a uma campanha para doação em sua conta corrente. Além de colocar uma máscara decorativa à venda.

Ele reforçou a intenção de vender obras de arte, que foram arrematadas ao vivo pelo apresentador Mário Kertész: "Já estão compradas!", cravou.

Quem se interessar em ajudar o artista, abaixo os dados bancários:

Bradesco | Agência: 2210-1 | Conta Corrente: 0038116-0

CPF: 135.785.455-20   | Jaime Andrade Almeida.

Jaime Figura Performance

JAIME FIGURA: Os moradores de Salvador já o conhecem bem (pelo menos a sua ‘estranha’ aparência).
TÚNEL DO TEMPO ARTISTA PLÁSTICO
JAIME FIGURA: Os moradores de Salvador já o conhecem bem (pelo menos a sua ‘estranha’ aparência).
Jayme Figura é atropelado novamente e cogita agressão política: 'Medo de usar a bandeira de Neto'
27/05/2023 18h56 Atualizada há 1 ano
Por: Carlos Nascimento Fonte: Metro/Redação

Quem o via por inteiro andando pela cidade tem a impressão de estar diante de algo que não é desse mundo.

Os turistas de passagem pela cidade reagem à sua presença com admiração e curiosidade. Mas não existe uma só pessoa na capital baiana que não tenha ao menos ouvido falar de Jaime FiguraArtista plástico, ele cria pinturas e esculturas, primeira obra fez em seu próprio corpo, uma mutação que o tornou folclórico. Começou com pedaços de couro esfarrapado e, por cima, foi colocando alumínio e pedaços de ferro velho até chegar à cabeça, onde criou uma máscara com os mesmos materiais, uma espécie de gaiola com espaço aberto apenas para a boca e para os olhos.

Quem o via por inteiro andando pela cidade (geralmente empurrando um carrinho onde coloca seus apetrechos e coisas que cata pelas ruas e que lhe serão úteis para uma nova obra de arte ou para a sua própria vestimenta) tinha a impressão de estar diante de algo que não é desse mundo. A princípio a imagem de Jaime assusta, depois, gera curiosidade e, por fim, muitas e muitas especulações sobre quem é, de fato, aquele homem de armadura de metal enferrujado.

Seu verdadeiro nome é JAIME ANDRADE DE ALMEIDA, nascido no bairro Alto do Peru, na periferia de Salvador, filho de Estefânia e Arlindo e o mais novo entre os oito irmãos. Na primeira fase da infância levou uma vida farta, fruto do trabalho do pai, maquinista na Marinha Mercante. “Ele passava todo o tempo viajando. Como morávamos no Alto do Peru, dava pra ver os navios lá em baixo e eu ficava só olhando e esperando a chegada de papai. 

Quando ele voltava trazia aquelas caixas cheias de noz moscada, castanha do Pará, queijo cuia, vinhos, só coisas gostosas e importadas, naquela época a nossa vida era uma maravilha, não faltava alimentação”, relembra Jaime. Mas um dia o destino mudou a vida da família. Em uma de suas viagens, Arlindo foi atropelado no Rio de Janeiro. Ele era diabético e, na época, não quiseram aposentá-lo, mesmo estando em serviço. Encostado pelo INSS, o pai de Jaime ainda ficou um longo tempo no hospital. Quando recebeu a indenização da Marinha, entregou a confortável casa em que morava com a família de aluguel e comprou seu próprio imóvel. “Era um lugar maligno chamado Cutuvelo, próximo ao Alto do Peru. Mas só tinha mato, miséria e cachaceiros.

Naquele tempo não existia esse negócio de droga, não, era cachaça mesmo! As pessoas de lá eram atrasadas, sem estudo. Comecei a fazer carrinhos no fundo do quintal, montava ventiladores, ficava inventando coisas que ninguém fazia, coisas diferentes com peças quebradas que acabavam sendo roubadas pelos filhos dos vizinhos. Eles tomavam tudo o que eu criava e ainda me jogavam pedras, me humilhavam.” A mãe até chegou a levar o menino Jaime ao médico para “fazer exame da cabeça e saber se eu tinha algum problema”, conta.

A INVEJA QUE ANIQUILA

O baiano cresceu e, na adolescência, arrumou emprego em uma gráfica com um conhecido de seus pais, começou varrendo o local e, ao mesmo tempo, observando como se fazia a chapa de letras, os logotipos. “Um dia pedi ao dono para deixar eu fazer o meu nome e fiz um cartão: Jaime Almeida Andrade - Chapista, com meu endereço embaixo. O cara viu, gostou e começou e me passar outros trabalhos. E tome cartão!”, fala o artista plástico, aos risos.

E ele não parou mais…Com o tempo, recebeu convite para trabalhar em uma gráfica maior. Lá fazia chapa, logotipo e cartazes com letreiros enormes. “Ficava desenhando com os dedos sujos, trabalhava com caneta Nankin”. Jaime foi evoluindo como profissional de gráfica e também como pessoa, andava todo arrumado, com boas roupas, relógios, bolsas e tudo aquilo que podia (e queria) comprar com o fruto de seu trabalho.

Os vizinhos de Cutuvelo, porém, também cresceram e, à medida que Jaime se mostrava cada vez mais feliz (jovem, bonito e saudável, fazia grande sucesso com as mulheres), a inveja dos outros aumentou. “Aqueles pobres diabos, pobres de espíritos ficavam me observando quando eu saía de casa. Ia para as festas e, quando retornava, lá estavam eles. Me batiam, me chutavam e tomavam tudo que era meu. Me perseguiam porque eu era diferente, não me misturava com eles. Eu andava empolgado, alegre com o meu próprio crescimento, que veio com a minha sabedoria. Tudo que eu fazia virava ouro e despertou a cobiça”, explica Jaime. Tal perseguição ainda traria profundas consequências na vida do nosso artista…

E foi levando a vida assim! Trabalhou na mesma gráfica por mais ou menos cinco anos, quando recebeu uma nova proposta de trabalho, com promessa de um salário maior e a oportunidade de trabalhar com o renomado artista plástico José Araripe Jr. “Aceitei e aprendi muito com ele, que me apadrinhou no meu trânsito pelas universidades. Eu só cursei até a metade do segundo grau e com ele transitei pela Universidade Federal da Bahia (UFBA), Universidade do Estado da Bahia (UNEB) e outras.

Frequentava vernissage e aprendia tudo que ele me ensinava. Mas não conseguir me segurar, fui ingrato e tentado por uma oferta melhor de salário. Não resisti e acabei virando as costas para Araripe, fui para um novo emprego”, relembra.


 Comecei a rasgar minhas roupas, andava rasgado com a bolsa na mão e com todos os meus trabalhos dentro”

“MOSTRO A MINHA ARTE, MAS NÃO PRECISO MOSTRAR O MEU ROSTO”

Mas aí veio o plano Collor de Mello e… Bem, aquela altura Jaime tinha seu próprio carro e só andava com roupas e sapatos de grifes, além de desfrutar da companhia de muitas mulheres. “Mas o Collor quebrou todo mundo, né?”, questiona. “A gráfica em que comecei a trabalhar começou a despencar. Fui demitido e já estava, a essa altura, com uma mulher grávida.” (Nesse momento, Jaime fica cabisbaixo e diz, com ênfase, que não gostaria de falar sobre essa parte de sua família e continua…). “Acabei não suportando aquela pressão novamente na minha vida.

Comecei a rasgar minhas roupas, andava rasgado com a bolsa na mão e com todos os meus trabalhos dentro” E aquelas mesmas pessoas que o perseguiam em seu bairro continuaram a violentá-lo fisicamente: jogavam laranja podre em cima dele, o revistavam e diziam: “Ele ficou louco! Era bom desenhista, mas ficou louco!”.

“Coloquei a máscara porque não suportava mais olhar para a cara deles, passava e eles olhavam para mim, rindo da minha cara. Me entreguei totalmente à morte, uma parte de mim morreu”, explica.

A VIDA NO CINEMA

Jaime passava o dia inteiro andando pelas ruas de Salvador, principalmente pelo centro histórico. Se sentindo cansado, doente, se queixa de muitas dores no joelho e passa algumas necessidades. Busca atualmente se aposentar, assim, teria condições mínimas de sobrevivência. Também tentar viabilizar a mudança de sua família para um lugar mais tranquilo e digno (mulher e filho moram em Sussuarana, bairro violento de Salvador).

Quer viver em paz ao lado deles, além de divulgar sua música (ele tem uma banda de punk rock), suas pinturas, suas esculturas e abrir um ateliê para comercializar sua arte. Por enquanto, vive em um espaço reduzido no Pelourinho, um pequeno quarto onde está construindo um sarcófago e onde está também o caixão no qual ele dorme e sonha com dias melhores.

Famoso, Jaime já foi tema de várias matérias na imprensa, inclusive no Fantástico. E sua história chegou aos cinemas pelas mãos do diretor Daniel Lisboa, que ficou alguns anos acompanhando o artista plástico para concluir o documentário O SARCÓFAGO, sucesso por todos os lugares onde foi exibido. E loucura não é a palavra mais apropriada para definir as reações de Jaime Figura e sua transformação.

Conversando com ele, é possível perceber que tudo não passou de uma defesa e, por meio dela, nasceu um artista performático, que tem em seu corpo a sua mais expressiva arte. A armadura e a máscara de ferro traduzem a mensagem desse artista plástico baiano. Com elas, Jaime passa o seu protesto, a sua revolta e ainda faz o povo refletir sobre a importância que damos à aparência física, à uma estética inventada e absorvida por todos, mas que na prática não mostra a verdadeira essência e o valor de uma pessoa.

CIDADE

ʹNunca pensei que um simples atropelamento fosse destruir minha vidaʹ, Jayme Figura desabafa

Jayme Figura está lesionado. Jayme Figura está revoltado. Jayme figura está de volta. O artista plástico Jaime Andrade Almeida, que há pelo menos 25 anos é uma das imagens mais marcantes das ruas de Salvador, estava sumido desde que foi atropelado em outubro de 2016, mas retorna e pede ajuda para comprar medicamentos.

Jayme Figura está lesionado. Jayme Figura está revoltado. Jayme figura está de volta. O artista plástico Jaime Andrade Almeida, que há pelo menos 25 anos é uma das imagens mais marcantes das vias de Salvador, com uma armadura que a um só tempo reflete e repele a paisagem-vida urbana, a "luta brava da cidade", foi atropelado em outubro de 2016, na Rua Carlos Gomes, e, desde então, anda sumido.

Ele quebrou cinco costelas, lesionou coluna e bacia, comeu o pão que o diabo amassou, mas está de volta. Sem dinheiro para continuar o tratamento à base de antibióticos, sem material para trabalhar, sem direito ao DPVAT (Seguro de Danos Pessoais Causados por Veículos Automotores de Via Terrestre), por não ter visto a placa do carro que quase o matou, Jayme Figura faz um apelo a quem quiser ajudá-lo. Em entrevista exclusiva ao Metro1, ele desabafa: "Nunca pensei que um simples atropelamento fosse destruir minha vida"!

O artista acumula dívidas no banco e, para piorar, a esposa sofreu um AVC (Acidente Vascular Cerebral) e, sem condições financeiras para um tratamento adequado, tem lapsos de memória e crises em casa mesmo. "Minha vida está um inferno. Enquanto eu não recuperar minha coluna, minhas costelas, vai ser assim... Se as pessoas puderem me ajudar, serei grato".

Nas ruas, em suas raras aparições nos últimos meses, os passantes manifestam carinho e curiosidade (muita gente não sabe do acidente), além de estranhamento pelo novo visual de Figura. Uma estrutura plástica, mais leve, remete menos às armaduras medievais que aos equipamentos de escritório: "luta brava da cidade". Questão ergonômica. "Estou me sentindo ridículo com essa roupa. Estou revoltado de andar assim pela cidade. Mas, não posso me arriscar, não estou 100% recuperado e a roupa de ferro pesa muito", explica.

O tratamento das costelas foi feito sem platina, "estão coladas com antibiótico", diz ele, o que demanda mais tempo para recuperação. Os remédios, cujas caixas o artista exibe para a reportagem, são muito caros, não tenho condições de tomar nos prazos certos, por isso peço ajuda".


Jayme também coloca em leilão uma máscara confeccionada por ele, em metal. "É uma peça de decoração, não é para botar na cabeça", esclarece, ao exibir a peça, com estilo bem marcado. Na Rua Direita de Santo Antônio Além do Carmo (Centro Histórico), turistas passam, olham para o homem sob a armadura e sorriem. Ele caminha. A caminhada já dura décadas e já rendeu estudos, teses, amizades e deboche. A caminhada é difícil, mas ele segue. Os turistas passam. Ele fica. A roupa é áspera, mas ele cumprimenta as pessoas. O artista pede ajuda. "Na luta brava da cidade".

Jayme Figura é atropelado novamente e cogita agressão política: 'Medo de usar a bandeira de Neto'

O performer procurou a Rádio Metrópole, na manhã da terça (08/05/2023) para relatar mais um atropelamento, desta vez na Avenida Gal Costa

 

Jayme Figura foi atropelado novamente. Na manhã de 8/5, o artista plástico procurou o Metro1 para narrar o novo infortúnio: "Uma moto me pegou, ali na Gal Costa, no pistão. Um ferro entrou em meu braço, foi muito sangue. Agora estou ainda mais impedido de trabalhar. Não sei se foi por causa da bandeira de Neto, que esse pessoal não gosta. Ou então é uma maré de azar desgraçada", disse.

Ele, que retirou a armadura para mostrar o braço atingido, revelou temor, diante do acirramentos dos ânimos na cisão política vivida no país: "Estou com medo de usar a bandeira de [ACM] Neto. A prisão de Lula só enlouqueceu mais as pessoas". Vinculado à família por sua relação com o ex-governador Antônio Carlos Magalhães, morto em 2007, Figura costuma carregar emblemas do prefeito e acredita que isso pode ter atraído um ataque.

O artista retirou a armadura na redação do Metro1 para mostrar o braço lesionado


O performer já tinha sido atropelado antes, em outubro de 2016, no dia da reeleição de ACM Neto. Desde então, Jayme Figura enfrenta muitas dificuldades financeiras e já recorreu a uma campanha para doação em sua conta corrente. Além de colocar uma máscara decorativa à venda.

Ele reforçou a intenção de vender obras de arte, que foram arrematadas ao vivo pelo apresentador Mário Kertész: "Já estão compradas!", cravou.

Quem se interessar em ajudar o artista, abaixo os dados bancários:

Bradesco | Agência: 2210-1 | Conta Corrente: 0038116-0

CPF: 135.785.455-20   | Jaime Andrade Almeida.

Jaime Figura Performance