SAÚDE Saúde
Fiocruz integra reforço da vigilância em saúde na Tríplice Fronteira
Projeto Insight tem foco em infecções endêmicas, como malária e dengue
19/06/2023 15h40
Por: Redação Fonte: Agência Brasil

A vigilância em saúde do Brasil, do Peru e da Colômbia, região da Tríplice Fronteira, vai ser reforçada pelo Projeto Insight, uma parceria da Fundação Oswaldo Cruz Amazônia (Fiocruz Amazônia) e do Centro Internacional de Formação e Educação para Saúde da Universidade de Washington (UW I-Tech).

O acordo de cooperação inclui o Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos. O foco do projeto, que é piloto, são as infecções endêmicas, como malária, tuberculose, dengue, infecções sexualmente transmissíveis, hepatites virais, doenças de veiculação hídrica e febres de origem desconhecida. Segundo a Fiocruz, todas atingem as populações mais vulnerabilizadas dos três países. Os recursos do financiamento liberado pelo Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos serão aplicados no desenvolvimento de ações conjuntas entre os países, com apoio da Organização Pan-Americana da Saúde (Opas), da Universidade Nacional da Colômbia, da Fiocruz-Bahia, da Fundação de Vigilância em Saúde Dra Rosemary Costa Pinto, do Amazonas, da Universidade Nacional de la Amazonía Peruana, das secretarias de Saúde de Letícia e de Tabatinga, além de representações da localidade de Santa Rosa, no Peru.

Representantes de instituições de saúde, ensino e pesquisa dos três países se reuniram na semana passada na Universidade Nacional da Colômbia, na cidade de Letícia, na fronteira com Tabatinga, para a apresentação do projeto e o diagnóstico situacional da saúde na região.

A coordenação dos trabalhos caberá ao Laboratório de Situação da Saúde e Gestão do Cuidado de Populações Indígenas e outros grupos vulneráveis da Fiocruz Amazônia. Para a diretora da Fiocruz Amazônia, Adele Benzaken, além de fortalecer a vigilância em saúde na Tríplice Fronteira, as ações se somarão a iniciativas em andamento na região, destinadas a indígenas e ribeirinhos do Vale do Javari e da Amazônia peruana e colombiana.

O objetivo do encontro foi apresentar o projeto e discutir propostas viáveis de estratégias de atuação, construídas de forma coletiva e participativa pelos três países, diz Adele em texto publicado pela Fiocruz.
A intenção é que o Insight esteja presente também na Tríplice Fronteira do Brasil com Paraguai e Argentina. Segundo a diretora regional do UW I-Tech para a América do Sul, Fernanda Freistadf, o projeto integra um programa global do CDC que busca ampliar o acesso de governos a dados de saúde pública mais precisos, completos e disponibilizados com rapidez para detectar, monitorar, investigar e responder de maneira eficaz a problemas de saúde pública.

Acordo de cooperação

Segundo Fernanda Freistadf, o Centro Internacional de Formação e Educação para Saúde da Universidade de Washington tem acordo de cooperação com o Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos e, dentro desse mecanismo de financiamento, a ideia é fortalecer a vigilância em saúde em duas tríplices fronteiras na América do Sul. “Na Tríplice Fronteira entre Colômbia, Brasil e Peru, estamos trabalhando em colaboração com a Fiocruz e temos apoio dos parceiros de Tabatinga, Leticia, Santa Rosa e Iquitos para identificar as necessidades em termos de vigilância e quais as áreas em que será possível intervir e apoiar para que tenhamos resultados práticos”, informou.

O projeto deve se estender até setembro de 2024. Inicialmente, foi feito o diagnóstico das necessidades e foram apresentadas de propostas de ações que possam ser viabilizadas, disse o chefe do Laboratório de Situação da Saúde e Gestão do Cuidado de Populações Indígenas-Amazônia, Fernando Herkrath.

Segundo Herkrath, o encontro resultou em várias propostas, como a de trabalhar com mecanismos nacionais e internacionais para assinatura de acordo tripartite, capacitação de profissionais, incluindo os agentes comunitários de saúde indígenas e não indígenas e a definição de protocolos locais. Ele ressaltou que ainda que será preciso fazer reuniões periódicas para análise de situação, elaboração de boletins epidemiológicos conjuntos dos três países para doenças prioritárias, padronização de dados para facilitar o compartilhamento e análise das informações e consolidação de uma rede de notificação e resposta comum entre os países.

“Identificando as necessidades, podemos desenvolver uma ação que tenha resultados e não fique só no papel”, completou Fernanda Freistadf na divulgação da Fiocruz.

O projeto contará também com uma linha nova de vigilância em saúde apoiada em dados digitais, que vem sendo desenvolvida pelo Centro de Operação de Dados e Conhecimentos em Saúde da Fiocruz Bahia). Aí o trabalho terá a contribuição do médico sanitarista Vinícius de Araújo Oliveira, com a implementação da Vigilância Digital em Saúde. “Precisamos entender como será essa investigação de campo para entender qual o processo de trabalho que gera os dados e como eles são usados pelos trabalhadores e gestores locais para tomar decisões”, observou, destacando que as estratégias devem permitir mais agilidade e transparência na troca de informação na Tríplice Fronteira Brasil, Peru e Colômbia. “É um desafio porque a cidade aqui [Letícia] é muito peculiar, praticamente uma cidade trinacional, com uma integração informal muito grande entre as equipes de saúde”, acrescentou.

Fronteiras

A Fiocruz lembra que a América do Sul tem grande extensão de fronteiras e que muitas são binacionais e trinacionais, o que pode gerar preocupação para a Opas, que já vem trabalhando há alguns anos no âmbito das fronteiras.

De acordo com o consultor do Programa Sub-Regional da Opas para a América do Sul, Carlos Arosquipa, há muitos projetos de integração nas regiões de fronteira, que, na América do Sul, não são físicas, são virtuais, diante das movimentações dinâmicas das populações.

“Isso também faz com que enfermidades possam facilmente disseminar de um país para outro. A pandemia nos mostrou que devemos fortalecer nossas ações em âmbito das fronteiras não somente para mantê-las mais seguras para quem vive nessas zonas, mas também para garantir que a população se desloque, se mova, em boas condições”, disse Arosquipa.