A Polícia Científica de Pernambuco está utilizando um novo tablet equipado com tecnologia turca que permite a identificação precisa de vestígios não visíveis a olho nu deixados por criminosos. Esse é o primeiro equipamento do tipo utilizado na região Nordeste do Brasil.
O tablet conta com um conjunto de lentes que emitem luzes de diferentes espectros. Isto permite revelar uma variedade de vestígios, inclusive em superfícies escuras. Anteriormente, as análises eram realizadas pelos peritos utilizando equipamentos de luz acoplados a tripés.
Esses dispositivos permitiam a visualização dos resultados por apenas uma pessoa por vez, e somente com o uso de óculos especiais. Com o tablet, não é mais necessário todo esse equipamento.
Através da câmera do dispositivo, as evidências são fotografadas e registradas, com os vestígios analisados sendo apontados diretamente na tela.
Devido às luzes que emitem diferentes tipos de ondas, como ultravioleta e infravermelho, o tablet reflete em tempo real no objeto os pontos onde os materiais foram identificados.
Jeyzon Valeriano, diretor do Laboratório de Genética Forense de Pernambuco, destaca que isso facilita a coleta de elementos da cena do crime, como DNA e marcas de disparos de arma de fogo.
"O tablet forense multiespectral permite visualizar o local exato de manchas de sangue, sêmen, urina, saliva e outros vestígios que não estejam visíveis, que estão encobertos, ocultos. Isso não se restringe apenas a vestígios biológicos. Ele também pode ser usado para vestígios não biológicos e na documentoscopia, para identificação de falsidade de documentos, e na balística." Jeyzon Valeriano, diretor do Laboratório de Genética Forense de Pernambuco
Valeriano também ressalta que o equipamento traz praticidade para as perícias, pois é compacto e pode ser transportado para qualquer local, além de oferecer maior precisão nos procedimentos.
Após a identificação dos vestígios, as evidências são enviadas para análise e, posteriormente, passam pelo teste de comprovação.
Antes da utilização do tablet, era comum realizar coletas “às cegas”, onde a presença do vestígio era indicada de forma presumida e por inferência. Isso gerava o risco de interpretações equivocadas, como confundir lama com sangue ou vice-versa, por exemplo.
A tecnologia inovadora dos tablets turcos chamou a atenção da corporação, que adquiriu duas unidades em maio deste ano. O investimento foi de R$ 580 mil, realizado por meio do Fundo Nacional de Segurança Pública. A Polícia Científica treinou 40 profissionais para operar o equipamento.
Uma das unidades do tablet ficou no Laboratório de Genética, enquanto a outra foi destinada à Divisão Especializada em Perícias Patrimoniais (DEPP), responsável pela investigação de crimes contra o patrimônio, como assaltos a bancos e arrombamentos de instituições e veículos.
Segundo o diretor Valeriano, a maioria dos casos analisados está relacionada a crimes sexuais, sendo que os materiais examinados geralmente consistem em tecidos, como lençóis e roupas. Esses materiais auxiliam na identificação do perfil genético do infrator.
O laboratório, localizado na Área de Segurança Integrada 6, em Jaboatão dos Guararapes, no Grande Recife, contribui para a investigação de aproximadamente 3 mil casos por ano, recebendo materiais das cenas de crime e diretamente do Instituto de Medicina Legal (IML).
“Sem dúvida, gostaríamos de ter mais unidades, mas tudo depende do orçamento. Com a atual cotação do dólar, um tablet desse custa cerca de R$ 300 mil”, afirmou Jeyzon.