Localizado no noroeste do Espírito Santo, nas cidades de Pancas e Águia Branca, o Monumento Natural dos Pontões Capixabas é apontado por alguns escaladores e montanhistas como o “Yosemite brasileiro”, uma alusão ao mundialmente famoso parque da Califórnia (Estados Unidos), um dos principais locais para a prática da escalada em todo o mundo.
A comparação decorre da beleza cenográfica da Serra da Mantiqueira e das características da unidade de conservação federal situada no Espírito Santo, onde imponentes monólitos de granito (formações rochosas semelhantes ao Pão de Açúcar) se destacam em meio à paisagem, atiçando a imaginação de praticantes de voo livre, balonismo, rapel, montanhismo, escalada e de outras atividades esportivas. As semelhanças, contudo, param por aí.
Enquanto o Yosemite, em 132 anos de existência, atingiu ostatusde exemplo de modelo de gestão de unidades de conservação, atraindo turistas do mundo todo em busca de contato com a natureza, belas paisagens e aventura, os Pontões Capixabas aguardam por investimentos público e privado e pelo devido reconhecimento. Inclusive, dos brasileiros.
O Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), que administra a atração, e a prefeitura de Pancas, cidade onde ficam mais de 80% dos 17,4 mil hectares destinados à preservação do ecossistema local, nãosabem quantos turistas visitam os Pontões Capixabas.
“Não existe este controle. É uma área grande, que não é fechada, e onde há moradores recebendo visitantes, prestadores de serviços e outras pessoas que, para chegar, têm que entrar no monumento natural”, diz o subsecretário municipal de Turismo e Cultura, Leandro da Rocha Vieira. “Hoje, não conseguimos dizer quantas pessoas visitam o município para subir a Pedra do Camelo, a Pedra da Agulha ou para fazer rapel na Pedra da Boca, embora eu possa garantir que não são poucas”, completa, em entrevista àAgência Brasil.
Já os gestores do Yosemite parecem ter total controle sobre o que se passa no interior dos mais de 307 mil hectares do parque norte-americano. Segundo o Serviço de Parques Nacionais , em 2019 – antes da pandemia – o Yosemite recebeu 4,58 milhões de turistas, gerando 741 empregos diretos.
Segundo a última pesquisa abrangente, realizada em 2009, 25% dos visitantes do parque norte-americano eram estrangeiros. Aplicado a2019, essemesmo percentual equivaleria a cerca de 1,14 milhão de turistas – não só escaladores e montanhistas, mas também campistas, cicloturistas,snowboarders, esquiadores, pescadores e muita gente interessada apenas em contemplar as belezas naturais.
“Há muitas pessoas visitando o Yosemite e outras tantas viajando mundo afora em busca de contato com a natureza e, em muitos casos, para praticar atividades esportivas. Daí o desafio de tornarmos o Brasil conhecido também por suas unidades de conservação. E pelas possibilidades que o país oferece a quem pratica ou quer experimentar uma atividade esportiva com segurança”, comenta o presidente da Associação Brasileira das Empresas de Ecoturismo e Turismo de Aventura (Abeta), Vinicius Viegas.
Além de montanhista, desde 2010, Viegas comanda uma agência de viagens com foco no turismo de aventura e no ecoturismo. Mesmo tendo acompanhado de perto o crescente interesse do público pelas viagens de aventura, ele julga que o potencial brasileiro segue mal explorado. Recentemente, ele e outros diretores da Abeta se reuniram, em Brasília, com representantes de órgãos federais, como a Agência Brasileira de Promoção Internacional do Turismo (Embratur). Entre outras ações, os empresários representados pela entidade pedem que a estratégia de divulgação brasileira no exterior dê mais destaque às unidades de conservação nacionais, estaduais e municipais.
“Acreditamos que isso pode ter um grande alcance. No Brasil, para onde quer que se olhe, há oportunidades para a prática de atividades esportivas junto à natureza. Atividades que podem ser feitas o ano inteiro e que ainda não conseguimos promover da forma como deveríamos”, destaca o presidente da Abeta.
“Certamente, o país está perdendo divisas”, arremata o presidente da Confederação Brasileira de Montanhismo e Escalada, Márcio Hoepers, ao falar sobre as possibilidades de lugares brasileiros icônicos para as chamadas atividades verticais (que vão além da escalada e do montanhismo, incluindo o rapel, o arvorismo, entre outras práticas), como a Serra dos Órgãos, no Rio de Janeiro; a Serra do Cipó, em Minas Gerais; e o Monte Roraima, nas fronteiras com Venezuela e Guiana.
“O número de brasileiros indo escalar na Europa, Estados Unidos, Peru e Bolívia tem crescido ano após ano, acompanhando o crescimento do interesse pelo esporte em todo o mundo. Já o número de estrangeiros que vêm ao Brasil com este objetivo continua muito pequeno”, comenta Hoepers.
“Também acredito que, com mais divulgação no exterior e mais investimentos públicos e privados para estruturar nossos parques e pontos interessantes para a prática do turismo esportivo, mais escaladores estrangeiros viriam ao Brasil”, defende Hoepers, argumentando que, não à toa, o estado brasileiro mais conhecido no exterior, o Rio de Janeiro, é o local onde mais facilmente se encontram estrangeiros escalando.
“Muitos vêm conhecer a cidade e aproveitam para escalar, seja na capital, seja no interior do estado. Mas, mesmo no Rio de Janeiro, a presença de escaladores estrangeiros ainda é pequena se levarmos em conta o potencial do estado”, pontua o presidente da confederação.
De acordo com o coordenador de Natureza e Segmentos Especiais da Embratur, Leonardo Persi, além de dar continuidade a uma série de ações que já vinham sendo implementadas para estimular a vinda de mais turistas de aventura e praticantes de esportes ao Brasil, a agência responsável por divulgar as atrações turísticas brasileiras no exterior “tem planos para aumentar a captação de clientes” , o que inclui a presença em feiras e eventos esportivos internacionais e parcerias com atletas e formadores de opinião.
“Vamos divulgar os roteiros que já estão consolidados, preparados para serem promovidos internacionalmente. Queremos diversificar a divulgação, não ficando apenas no litoral brasileiro, pois sabemos que o viajante não busca uma experiência estanque. Um surfista não virá conhecer [a praia de] Maresias [em São Sebastião, São Paulo] apenas porque o Medina está lá. Ele quer conhecer a gastronomia, a cultura e outras coisas. E nossa intenção é aperfeiçoar a divulgação de tudo isso, incluindo segmentos como afroturismo, diversidade e povos indígenas”, explica Persi.