Na época eu trabalhava na DRFR baixa do fiscal, e para ir ao trabalho eu sempre passava pelo Largo do Tanque. Havia um folclórico policial militar que trabalhava naquela imediações e sempre era visto no antigo shopping que funcionava ali, inclusive cita-se como sendo o primeiro shopping center de Salvador. Neste local havia diversos pontos comerciais e vários bares e restaurantes, dentre eles, um que vendia um delicioso café da manhã com cuscuz, ovos e um café delicioso, tornando-se para mim quase que uma parada obrigatória em todas as manhãs, antes de chegar na Delegacia.
Entre um café e outro, terminei por conhecer este referido policial militar, o qual não negava a sua predileção por uma boa "branquinha", e segundo ele, a PM o colocou para trabalhar naquele local, como forma de castigo, porém o velho praça confessava que a princípio ficou chateado, porém com o passar do tempo foi gostando da sua nova área de trabalho. Disse-me também que por ser uma área bastante comercial, ele conseguia dar os pulos dele, e os comerciantes cedia café, almoço, e a tão adorada cachacinha, que repito, ele não negava que adorava, principalmente antes do almoço, acompanhado por uma cerveja bem gelada.
Em certo dia, como de costume parei meu carro e fui ao local onde comia aquele delicioso cuscuz com ovos de café da manhã, quando veio em minha direção o famoso soldado da área, e como uma metralhadora começou a me contar o que tinha acontecido com ele a poucos instantes, e que estava sem saber o que fazer. Atentamente parei o meu café e disse: "me conte com calma colega, o que houve?
Você falou rápido, nervoso, e eu não entendi nada. Daí o praça começou a me contar, me disse ele que viu uma Kombi velha, caindo aos pedaços, e nela o condutor carregava várias mercadorias, que dizia ter trazido da Ceasa no CIA. Quando o praça viu as condições do carro, e a quantidade excessiva de frutas, legumes, etc, de logo pediu a documentação do veículo e a habilitação do motorista, o qual de imediato lhe apresentou.
De posse da documentação o velho e experiente praça vislumbrou a possibilidade de lucrar alguma coisinha do cidadão abordado, em troca da sua liberação sem multas. Aí é que vem o inusitado, o motorista na maior calma, após o soldado lhe pedir uma ajudinha financeira, disse: "meu amigo, eu saí de casa as 5 horas da manhã, estou aqui levando essas mercadorias para um pequeno mercado que montei na Lapinha, e você me pedindo dinheiro? O soldado não perdeu a pose e disse ao motorista: "meu patrão o senhor está com o burro na sombra", dono de mercado, e eu aqui, um soldado, ganho pouco... De repente, como se diz, do nada o motorista lhe chamou pelo nome de guerra e disse: "fulano, você não está lembrando de mim?" O soldado olhou e nada..: Não está? Perguntou novamente o motorista, neste momento este abriu uma pochete que estava muito na moda e lhe deu um verdadeiro carteiraço, sou eu Major PM fulano, e disse: Você não me conhece não? Como é que vem me pedir dinheiro? Neste momento o soldado usou de toda a sua experiência e tentando como último cartucho se safar, disse: "Claro chefe, lembro do senhor sim, o senhor acha que eu ia pedir dinheiro a um estranho?".
Neste momento eu comecei a pipocar de rir, quase me engasgo de tanto rir, e o soldado me perguntava: E aí colega, será que o Major vai querer me ferrar?
Nunca mais esqueci daquele dia, e como diz o ditado: "Pra quem está se afogando, jacaré é tronco". O coitado do soldado arrumou uma forma de tentar não se "afogar", se conseguiu? Até hoje eu não sei.
Bel Luiz Carlos Ferreira de Souza - Brasileiro, baiano, casado, 61 anos, servidor público aposentado pelo estado da Bahia, atualmente reside no estado do Rio Grande do Sul, com formação técnica em redator auxiliar, acadêmico em História, Direito, pós-graduado em Ciências Criminais, política e estratégia e mestrando em políticas públicas.
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