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"Crônicas da polícia que vivi"

Posso não ser um bom contador de "causos", mas algumas situações que vivi na minha época laboral na polícia civil da Bahia, levarei comigo para eternidade, e se lá ainda me restar um pouco de memória, com certeza, jamais esquecerei.

Carlos Nascimento
Por: Carlos Nascimento Fonte: Bel Luiz Carlos Ferreira
10/11/2023 às 10h05

Na época eu trabalhava na DRFR baixa do fiscal, e para ir ao trabalho eu sempre passava pelo Largo do Tanque. Havia um folclórico policial militar que trabalhava naquela imediações e sempre era visto no antigo shopping que funcionava ali, inclusive cita-se como sendo o primeiro shopping center de Salvador. Neste local havia diversos pontos comerciais e vários bares e restaurantes, dentre eles, um que vendia um delicioso café da manhã com cuscuz, ovos e um café delicioso, tornando-se para mim quase que uma parada obrigatória em todas as manhãs, antes de chegar na Delegacia.

Entre um café e outro, terminei por conhecer este referido policial militar, o qual não negava a sua predileção por uma boa "branquinha", e segundo ele, a PM o colocou para trabalhar naquele local, como forma de castigo, porém o velho praça confessava que a princípio ficou chateado, porém com o passar do tempo foi gostando da sua nova área de trabalho. Disse-me também que por ser uma área bastante comercial, ele conseguia dar os pulos dele, e os comerciantes cedia café, almoço, e a tão adorada cachacinha, que repito, ele não negava que adorava, principalmente antes do almoço, acompanhado por uma cerveja bem gelada. 

Em certo dia, como de costume parei meu carro e fui ao local onde comia aquele delicioso cuscuz com ovos de café da manhã, quando veio em minha direção o famoso soldado da área, e como uma metralhadora começou a me contar o que tinha acontecido com ele a poucos instantes, e que estava sem saber o que fazer. Atentamente parei o meu café e disse: "me conte com calma colega, o que houve? 

Você falou rápido, nervoso, e eu não entendi nada. Daí o praça começou a me contar, me disse ele que viu uma Kombi velha, caindo aos pedaços, e nela o condutor carregava várias mercadorias, que dizia ter trazido da Ceasa no CIA. Quando o praça viu as condições do carro, e a quantidade excessiva de frutas, legumes, etc, de logo pediu a documentação do veículo e a habilitação do motorista, o qual de imediato lhe apresentou.

De posse da documentação o velho e experiente praça vislumbrou a possibilidade de lucrar alguma coisinha do cidadão abordado, em troca da sua liberação sem multas. Aí é que vem o inusitado, o motorista na maior calma, após o soldado lhe pedir uma ajudinha financeira, disse: "meu amigo, eu saí de casa as 5 horas da manhã, estou aqui levando essas mercadorias para um pequeno mercado que montei na Lapinha, e você me pedindo dinheiro? O soldado não perdeu a pose e disse ao motorista: "meu patrão o senhor está com o burro na sombra", dono de mercado, e eu aqui, um soldado, ganho pouco... De repente, como se diz, do nada o motorista lhe chamou pelo nome de guerra e disse: "fulano, você não está lembrando de mim?" O soldado olhou e nada..: Não está? Perguntou novamente o motorista, neste momento este abriu uma pochete que estava muito na moda e lhe deu um verdadeiro carteiraço, sou eu Major PM fulano, e disse: Você não me conhece não? Como é que vem me pedir dinheiro? Neste momento o soldado usou de toda a sua experiência e tentando como último cartucho se safar, disse: "Claro chefe, lembro do senhor sim, o senhor acha que eu ia pedir dinheiro a um estranho?". 

Neste momento eu comecei a pipocar de rir, quase me engasgo de tanto rir, e o soldado me perguntava: E aí colega, será que o Major vai querer me ferrar?

Nunca mais esqueci daquele dia, e como diz o ditado: "Pra quem está se afogando, jacaré é tronco". O coitado do soldado arrumou uma forma de tentar não se "afogar", se conseguiu? Até hoje eu não sei. 

Bel Luiz Carlos Ferreira de Souza - Brasileiro, baiano, casado, 61 anos, servidor público aposentado pelo estado da Bahia, atualmente reside no estado do Rio Grande do Sul, com formação técnica em redator auxiliar, acadêmico em História, Direito, pós-graduado em Ciências Criminais, política e estratégia e mestrando em políticas públicas.

Contato: lcfsferreira@gmail.com 

facebook.com/LcfsFerreira

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Bel LUIZ CARLOS FERREIRA
Bel LUIZ CARLOS FERREIRA
Luiz Carlos Ferreira - Brasileiro, baiano, casado, servidor público aposentado, torcedor do vitória, residente no Rio Grande do Sul, Bacharel em Direito, com formação técnica em redator auxiliar, acadêmico em História, pós graduado em Ciências Criminais, política e estratégia e mestrando em políticas públicas.
E-mail: lcfsferreira@gmail.com | facebook.com/LcfsFerreira
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