Um trabalho em conjunto entre a Agência Brasileira de Inteligência (Abin) e a Secretaria da Segurança Pública da Bahia (SSP-BA) mapeou as organizações criminosas que atuam no estado. O mapeamento traz dados sobre as áreas de atuações das facções.
A informação é do diretor-geral da Abin, Luiz Fernando Corrêa, que está em Salvador nesta quinta-feira (9), participando de um evento sobre mudanças climáticas. Segundo ele, foi feito um georreferenciamento no estado.
"O superintendente deve entregar essa semana um trabalho que foi feito em conjunto com a secretaria. É um mapa detalhado de área de influência de cada uma das organizações. Esse mapa vai permitir colocar outras camadas de dados para ir melhorando o enfrentamento. Um trabalho de georreferenciamento", explicou Corrêa. Ele destacou que há uma boa relação entre a agência e o secretário da Segurança Pública, Marcelo Werner.
Facções tocam terror na capital e no interior da Bahia
Segundo o Anuário Brasileiro de Segurança Pública, divulgado em julho deste ano, a Bahia aparece no topo do ranking nacional da violência. Com um total de 6.659 mortes intencionais em 2022, o estado é o segundo no ranking do mais violento do país, atrás apenas do Amapá.
Recém-chegada do Rio de Janeiro, o Terceiro Comando Puro (TCP), além de DPM, Raio A, Raio B e o BDN (Bonde do Neguinho) são alguns exemplos de organizações criminosas que espalham o terror no interior da Bahia.
“Recentemente começaram a circular aqui em Jacobina, vídeos e áudios de pessoas ligadas a facções criminosas e que estavam chegando para invadir a cidade, exigindo respeito dos empresários, dos moradores, das comunidades. Nas imagens, eles mostravam armas pesadas e diziam que ia morrer muita gente. Entre julho e setembro aconteceram algumas mortes, que deixaram a população apavorada”, relata uma moradora de Porto Seguro, que se mudou para o interior há dois anos, com medo da violência em Salvador.
As ações de enfrentamento da polícia concentradas na capital ao longo dos anos abriram espaço para a chegada de organizações nacionais e também possibilitaram o surgimento de novos grupos locais, conforme explica Wagner Moreira, do Ideas Assessoria Popular e do Fórum Popular de Segurança Pública da Bahia.
“Esta não é uma dinâmica exclusiva da Bahia. É uma dinâmica das regiões Norte e Nordeste do país. A estratégia de enfrentamento ostensivo ignorando a demanda pelas drogas fez o mercado se reorganizar. A disputa por hegemonia nestes novos territórios contribui significativamente para o quadro de violência atual, que não se acomodará no curto prazo”, declara Moreira.
O especialista em segurança pública, professor Luiz Lourenço, do Laboratório de Estudos Sobre Crime e Sociedade (Lassos) da Universidade Federal da Bahia (Ufba), acrescenta que o cenário se deu também em decorrência do “intercâmbio do crime” no sistema carcerário.
“Essa consolidação vem acontecendo de maneira contínua há pelo menos oito anos. Antes do RDD (Regime Disciplinar Diferenciado, regime com maior grau de isolamento e restrições de contato com o mundo exterior), tivemos a presença de lideranças importantes de São Paulo que ficaram custodiadas no interior da Bahia”, explica.