Há dois meses, as noites de parte dos servidores do Tribunal de Justiça da Bahia (TJBA) e do executivo estadual têm sido marcadas por insônia e dores de cabeça, desde que dívidas que não foram contraídas por eles passaram a surgir em contracheques emitidos pelo RH do TJBa e das Secretarias estaduais.
De acordo com várias denúncias, mais de 100 pessoas tiveram compras realizadas no cartão de crédito do Credcesta e empréstimos efetivados sem consentimento dos titulares da conta. Mais grave que isso, cartões também foram emitidos e enviados a endereços de terceiros utilizando dados dos servidores.
O Credcesta é um cartão de benefício consignado que tipicamente atende funcionários públicos estaduais. No ano passado, o Credcesta saiu de 9 para 21 estados. O produto responde por 80% da carteira de crédito de varejo do Banco Master, responsável por gerenciar o serviço financeiro.
Segundo declarações de um servidor que afirmou ter procurado a Secretaria de Gestão de Pessoas (Segesp) do Poder Judiciário da Bahia (PJBA) após detectar descontos no salário do mês de setembro. “Fiquei surpreso ao perceber uma diferença de cerca de R$ 2 mil no contracheque de setembro. Ao entrar em contato com o Segesp para tentar entender, fiquei sabendo que tratava-se de uma compra que não foi realizada por mim através do cartão do Credcesta”, conta ele.
Ainda segundo o servidor, pouca foi a ajuda oferecida pela entidade. “Inicialmente, não tive ajuda alguma para resolver o problema. Depois de muito insistir, consegui que a compra fosse congelada e fiquei com a promessa de receber o reembolso do valor”, explica ele.
Apesar dos primeiros casos terem surgido no mês de setembro, a reportagem apurou que foi em outubro que a maioria dos descontos indevidos aconteceu, após um grupo de trabalhadores do TJBA também constatarem e denunciarem abatimentos indevidos das suas contas bancárias.
Assim como a primeira denúncia, outro servidor também alegou que contou com pouco auxílio do setor de Gestão de Pessoas do TJ. “No meu caso, o desconto foi de cerca de R$ 2.100. Ao procurar a Segesp, eles apenas disseram que eu precisava falar com o Banco Master para tentar contestar a compra e que lá não podiam fazer muita coisa”, conta ele, que também afirma ter enfrentado dificuldades ao tentar solucionar o problema com a própria instituição financeira.
“Liguei para a central de atendimento e me informaram que iriam averiguar. Sendo procedente, eles me reembolsariam, mas caso não fosse, eu ficaria sem o dinheiro. Ou seja, ainda corro o risco de perder essa quantia”, completa.
NO EXECUTIVO NÃO É DIFERENTE:
O servidor do executivo estadual de prenome Carlos, teve compras efetuadas no cartão CredCesta, durante periodo em que se encontrava hospitalizado, segundo este foi mais de R$11.000,00, de compras que fizeram em seu nome tais como, uber, restaurantes, Shopee, Avon, entre outras. O mesmo procurou a Central do CredCesta no Shopping Piedade e disseram que teria que preencher alguns formularios os quais seriam analizados, efetuou também reclamação no portal RECLAME AQUI, que não resolveu nada, fez diversas reclamações online no site do credcesta e tambérm nada, só enrolação, segundo o servidor, que ingressou com uma ação no Juizado do Consumidor, onde também não conseguiu êxito, em resumo o mesmo está tendo desconto no seu contra-cheque de mais de R$800,00.
Histórico de reclamações
Não é preciso procurar muito para encontrar outros casos envolvendo ofertas indevidas envolvendo o Credcesta e o Banco Master. Ao realizar uma breve pesquisa no Reclame Aqui, plataforma que registra reclamações e faz o intermédio entre empresas e consumidores, é possível verificar inúmeras denúncias envolvendo descontos indevidos e problemas com estornos.
Além disso, uma ação civil pública foi instaurada pelo Ministério Público do Estado da Bahia (MPBA) contra o Banco Master, a fim de averiguar a qualidade na prestação do serviço, bem como apurar as denúncias envolvendo contratação de serviços de crédito.
De acordo com o diretor de Fiscalização do Procon-BA, Iratan Vilas Boas, é direito do consumidor reaver o dinheiro e, caso isso não seja cumprido, é aconselhável dirigir-se ao Procon e abrir uma reclamação. "Não havendo o consentimento na abertura de qualquer serviço de crédito, o consumidor não pode arcar com o prejuízo. O Procon sempre estará à disposição para tratar casos como esse", afirma.
Em nota, o PJBA afirma ter tomado conhecimento dos descontos nos contracheques de alguns servidores e que, após as reclamações, a Coordenação de Pagamento entrou em contato com o Banco Master para relatar o ocorrido e exigir providências pela instituição bancária.
Em comunicado enviado ao Farol da Bahia, a entidade afirma ter realizado uma reunião com o banco, que apurou e identificou a fraude e se comprometeu a devolver, imediatamente, os valores aos servidores afetados.
O PJBA também disse ter tomado todas as providências que lhe competem e ressaltou que a responsabilidade na prestação de serviços por meio de cartão de crédito ou outros produtos é da instituição financeira responsável pela gestão do Credcesta.
O Banco Master, por sua vez, disse que desde que tomou conhecimento do ocorrido procurou o Tribunal de Justiça da Bahia para tomar todas as providências e solucionar a questão. A instituição também prometeu que nenhum servidor sofrerá prejuízo e que fará o ressarcimento integral de todos os valores que foram descontados indevidamente nos últimos meses.