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Infâncias periféricas são descartáveis para polícia.

Estamos falando de uma polícia que mata geral para vingar quando um dos seus é morto.

Carlos Nascimento
Por: Carlos Nascimento Fonte: Por Jéssica Pontes
25/04/2024 às 19h28
Infâncias periféricas são descartáveis para polícia.

A gente só quer o nosso direito de ir e vir, poder sair, trabalhar”, pediu a cuidadora de idosos Josicleide Maria da Conceição, durante o protesto pela comunidade de  Paraisópolis após uma criança de 7 anos ser ferida durante ação da PM. O local onde a criança foi ferida não era um lugar ermo, um descampado, mas uma área urbana e comercial. A ação policial foi realizada em um horário que, segundo os organizadores do evento, passam mais de 7 mil crianças por dia a caminho da escola. Não é um local para realizar troca de tiro como se fosse um videogame de simulação na vida real.

Mas estamos falando de uma polícia que mata geral para vingar quando um dos seus é morto. Uma polícia para quem corpos negros são descartáveis, para quem comunidades periféricas são locais para implantar o terror, onde impera a lei do tiro, uma atitude marcial que demonstra que a estrutura policial militarizada que considera que vivemos em guerra e que os inimigos são as pessoas pretas, pobres e periféricas deste país. Uma guerra que dura 50 anos sem que houvesse ganhadores, apenas perdedores. Por sorte, não perdemos o pequeno atingido, não completamente, pois, de acordo com informações que nossa equipe apurou, ele tem se assustado facilmente com coisas que caem no chão. Quando não mata, a polícia deixa a cicatriz do trauma físico e psicológico. Uma vida marcada por uma violência desnecessária, pois a ação não resultou na prisão dos supostos suspeitos. O único resultado foi um menino negro ferido em diversas esferas.

A resposta da PM de São Paulo foi patética ao literalmente tirar sua responsabilidade pelo ferimento ao dizer que “não sabemos ainda o que feriu essa criança, pode ter sido um disparo dos bandidos ou pedaço de reboco, estilhaço ou uma queda”. O fato de ter sido uma suposta troca de tiros coloca em xeque a afirmação do coronel Massera, chefe da comunicação social da PM, pois se a versão se confirmar, as balas partiram de ambos os lados, afinal é isso o que a expressão “troca de tiros” significa. O coronel se fia nas imagens das câmeras de segurança que só poderão (talvez) ser vistas pelo público em 30 dias, quando já se esquecerá que mais uma criança brasileira foi alvo de ações desastrosas do Estado.

O trabalho da Ponte Jornalismo vem comprovando ao longo dos últimos anos como nem mesmo a infância é respeitada e protegida pelo Estado brasileiro como um todo. Em 2022, a polícia matou 1 adolescente por dia, segundo dados do Fórum Brasileiro de Segurança Pública. Em 2020, eram duas crianças ou adolescentes por dia e, à época, o estado de São Paulo foi responsável por 44% dessas mortes. Em 2019, a polícia foi apontada como principal responsável pelas mortes intencionais de crianças e adolescentes em São Paulo. Por outro lado, as câmeras nas fardas, tão abominadas pelo governador de São Paulo e seus asseclas, salvaram 68 adolescentes de serem mortos em 2022, segundo pesquisa do Fórum Brasileiro de Segurança Pública e do Unicef.

Paraisópolis foi às ruas contra a violência recorrente dos agentes do Estado no bairro, a mesma violência que gerou o massacre de Paraisópolis em 2019, quando nove jovens foram mortos pela PM. Para os moradores, o Estado não é sempre visto como agente de mudança positiva, mas sob um signo de dor e morte vestindo farda e coturno. A convocação para o ato desta semana foi pontual em dizer que: “ouvimos dizer que a mão do Estado chegaria a Paraisópolis. Qual mão, aquela que estendida, realiza melhorias, como saúde, saneamento básico, habitação, educação, cultura, entre outras, que beneficiam e trazem dignidade à população, ou aquela que promove o temor, que aterroriza, que tira a vida de inocentes?”

Por Jéssica Pontes (ponte.org/)

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