Pelo menos 20 facções atuam na Bahia e levam medo à população .
Maior de todas as facções do país, o PCC, tem hoje seus olhos voltados para o comércio internacional, tornando-se a segunda no mundo no tráfico de drogas transnacional. Com o maior litoral do Brasil (com 1.100 km de extensão), a Bahia tem sido usada estrategicamente pela organização para escoar narcóticos para 121 países.
No estado, o PCC mantém sua atuação nas unidades prisionais de Salvador, Feira de Santana, Itabuna, Teixeira de Freitas e Eunápolis. “As decisões importantes da facção, na maioria das vezes, sai de dentro dos presídios, onde estão algumas lideranças”, informa um agente do Departamento Especializado de Investigações Criminais (DEIC).
“O PCC não controla territórios, em nenhum lugar. Ele busca ter um controle e proteção dentro das prisões e se aliar a gangues locais. Ele sabe que o varejo e o controle territorial trazem um grande problema, você tem que corromper polícia, você tem que entrar em conflito com os caras. Eles nunca tiveram a pretensão de exercer esse controle”, explica o pesquisador do Núcleo de Estudo da Violência da USP (NEV-USP) , o escritor e jornalista Bruno Paes Manso.
Guerra na Bahia: 20 facções disputam o tráfico de drogas e levam medo à população Era sabido que o Bonde do Maluco (BDM) tinha o apoio do PPC, fornecendo drogas e armas. Mas essa aliança teria sido rompida, por vários motivos. O primeiro e mais importante seria o fato de o PCC não se estabelecer na Bahia, como fez em Sergipe, Alagoas, Ceará e Rio Grande do Norte. Desta forma, o BDM enfrentava sozinho as batalhas com o fortalecimento do Comando Vermelho (CV) em Salvador e sua expansão para outras cidades. Com este cenário, o BDM procurou apoio com o TCM, principal concorrente do CV no Rio.
“Essa pulverização do comércio, em que as organizações locais se rearranjam com organizações nacionais, tem sido um grande impulsionador nos conflitos na Bahia, bem como no Nordeste todo. O marco histórico recente foi o fim da paz estabelecida entre o PCC (Primeiro Comando da Capital) e o CV (Comando Vermelho) a nível nacional, impulsionou a retomada dos conflitos sangrentos nas cidades e o fortalecimento das milícias”, declara o cofundador e coordenador executivo da Iniciativa Negra por uma Nova Política sobre Drogas, Dudu Ribeiro, integrante da rede de Observatórios de Segurança.
Na década de 1990, o tráfico forte na Bahia tinha endereço certo: o Morro do Águia, no bairro de São Gonçalo do Retiro, em Salvador. Era na sua fortaleza que “Ravengar” era conhecido como o maior distribuidor de cocaína do estado. Mas o reinado acabou quando em 2004, ele foi preso pela Polícia Civil em megaoperação na Estrada do Côco - dois anos depois foi condenado a 25 anos de prisão e em agosto do ano passado, quando em liberdade condicional, ele não resistiu às consequências da diabetes e morreu.
Pelo menos 20 facções atuam na Bahia e levam medo á população
Com a prisão do “Rei do Pó”, o caminho ficou aberto para o surgimento de movimentações dentro das unidades prisionais que deram origem ao que conhecemos hoje como facções. Foi no Complexo Penitenciário da Mata Escura que se deu origem à Caveira, que chegou a ser a maior organização criminosa da Bahia – sua existência aconteceu também pela influência de traficantes da região sudeste custodiados na unidade, que transmitiram as diretrizes dos maiores grupos do país, PCC e CV.
Liderada por Genilson Lima da Silva, o “Perna”, a Caveira travou inúmeras batalhas com a arquirrival, o Comando da Paz (CP), que surgiu praticamente na mesma época, também dentro do complexo da Mata Escura. Sob o comando de Eberson Souza Santos, o "Pitty", a CP, lutava para se mantar em pé e ter o controle absoluto do comércio de entorpecentes – nesta época, Salvador viveu momentos sangrentos.
Em 2015, a Caveira decidiu como estratégia criar o BDM, para ampliar a atuação na capital, mas houve um racha - o motivo ainda é um mistério . Em maior número, o BDM passou a atacar os ex-comparsas, tomando o posto de maior facção do estado. A “morte” da Caveira aconteceu em maio de 2015, após a última liderança trocar tiros com a Polícia Civil em Camaçari.
Com a expansão do BDM, o CP se via cada mais acuado e procurou ajuda fora do estado: em um acordo, que lhe garantiu mais armas, estratégia de guerra e reforço, se tornou uma célula do CV na Bahia . Diante da força do adversário, o BDM fez uma aliança com o TCP, desafeto do CV no Rio de Janeiro.
“Nós estamos falando em territórios baianos que estão em conflitos constantes, devido a essa reorganização política do tráfico de drogas, somado à incapacidade do estado brasileiro de apresentar soluções, de fato, pacíficas sobretudo na regulação do mercado de drogas, mas também da postura das forças de segurança de uma polícia tida, de fato, de segurança pública baseada na proteção da vida e não no combate ao inimigo”, declarou Dudu Ribeiro.
SSP
A reportagem procurou a Secretaria de Segurança Pública (SSPBA), Polícia Civil e a Polícia Militar para repercutir a quantidade de fações no estado, o porquê do surgimento delas, quais medidas foram adotadas na tentativa de evitar a expansão dessas organizações, mas até o momento não há respostas.
Lista das cidades e suas facções:
Salvador:
Lauro de Freitas:
Camaçari:
Dias d’Ávila:
Candeias:
Simões Filho:
Feira de Santana:
Itabuna:
Teixeira de Freitas:
Eunápolis:
Santo Amaro da Purificação:
Jacobina:
Saubara:
Porto Seguro:
Vitória da Conquista:
Santo Antônio de Jesus:
Juazeiro:
Mata de São João:
Jequié:
Fonte: Bruno Wendel/Correio
Fotos: Eduardo Bastos/Correio