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Comando Vermelho realmente cresceu

O tabuleiro dos grupos armados no Rio de Janeiro se mexeu e não isso não aconteceu pelas razões que você escutou por aí. É verdade que o Comando Vermelho foi o único grupo armado que expandiu seu domínio em 2023. Mas não há nada que indique que isso aconteceu por conta de decisões do STF.

29/09/2024 às 10h31
Por: Carlos Nascimento Fonte: fogocruzado.org.br/
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Comando Vermelho realmente cresceu

O Fogo Cruzado e o Geni, grupo de pesquisa da Universidade Federal Fluminense, publicaram há poucos dias a atualização do Mapa dos Grupos Armados. O mapa é parte de um esforço maior para tentar entender a dinâmica da violência armada no Grande Rio, mais uma dessas situações em que produzimos a informação que o Estado deveria produzir para planejar suas ações.

Os dados mostram que enquanto as milícias apresentaram redução de 19,3% das áreas sob seu domínio, o Comando Vermelho (CV) avançou em 8,4% em territórios controlados. Com isso, as milícias, que em 2021 e 2022 eram o grupo armado com o maior domínio territorial, foram ultrapassadas pelo Comando Vermelho que, em 2023, concentrou 51.9% dos territórios controlados por grupos armados na região metropolitana do Rio de Janeiro.

Outro achado relevante da pesquisa é que em 2023, 18,2% de toda a região metropolitana esteve sob o domínio de algum grupo armado. Em 2008, as áreas dominadas representavam 8,8%. Isso significa que nos últimos 16 anos a área da região metropolitana do Rio de Janeiro sob controle de grupos armados dobrou. Nesse período, nenhum outro grupo cresceu como as milícias. Elas cresceram 204,6%, triplicando o seu domínio territorial. Comando Vermelho e Terceiro Comando Puro cresceram respectivamente 89,2% e 79,1%.

É muito interessante observar a série histórica e não apenas a informação isolada sobre o crescimento do CV em 2023. Porque o conjunto de dados mostra o crescimento consistente das milícias até 2021. Isso muda em 2022, quando o CV volta a crescer por dois anos consecutivos.

Isto é, enquanto não houver política pública voltada para a desarticulação efetiva das redes econômicas que sustentam os grupos armados conviveremos com essa oscilação onde num ano a milícia cresce mais e noutro o CV lidera. Essa oscilação é também consequência das escolhas do poder público, que privilegiam operações espetaculares de confronto armado que hora afetam mais um grupo, hora afetam mais outro, sem modificar a estrutura. O problema maior por trás disso são os conflitos incessantes que diariamente colocam a vida da população em risco e as dinâmicas de violência e extorsão às quais essa mesma população é submetida quando um grupo armado assume sua localidade.

Poucos dias antes da publicação da atualização do Mapa dos Grupos Armados, o Conselho Nacional de Justiça publicou um relatório com dados da Polícia Civil do Rio que também apontavam o crescimento do CV. O relatório indica como uma das causas para isso a ADPF 635, decisão de 2020 do Supremo Tribunal Federal que restringiu as operações policiais em favelas durante a pandemia. Acontece que o relatório do CNJ não demonstra causalidade entre a ADPF e a expansão do crime organizado. O crime organizado está em expansão ininterrupta no Rio de Janeiro desde 2008, como demonstrei acima. Não foi por conta da ADPF que o crime organizado se expandiu. Ele se expandiu pelo mesmo motivo que o faz há quase 20 anos: porque não temos política de segurança pública voltada para desarticular esses grupos.

Sobre a ADPF, o que podemos afirmar com absoluta segurança é que ela foi fundamental para reduzir as mortes provocadas pelas polícias. Um exemplo bem prático disso: em 2019, 125 pessoas foram vítimas de balas perdidas só durante ações policias. Em 2020, ano da ADPF, esse número caiu para 84.

Todos os dados que usei aqui podem ser consultados por qualquer cidadão. O banco de dados do Fogo Cruzado é aberto e transparente, exatamente o oposto da maneira como o Estado lida com os dados que produz. O problema da segurança pública no Brasil é complexo e influenciado por múltiplos fatores. Mas não há dúvidas de que a falta de informação é central para entendermos como chegamos até aqui. Os exemplos que dei são ilustrativos: um mapa com as movimentações dos grupos armados no Rio deveria ser produzido pelas próprias forças policiais de tão básico que é para o planejamento de ações. Só que o ciclo da falta de informações não se encerra no Estado. Ele atinge profundamente o conjunto da população que passa a acreditar em ideias infundadas ou medidas ineficientes. Toda a campanha pública contra a ADPF 635 é parte disso. Porque não há, na prática, nem uma mísera evidência que demonstre que esta não foi uma boa medida, ainda que nunca tenha sido respeitada integralmente.

Maria Isabel

Diretora de dados e estratégia

E-mail: contato@fogocruzado.org.br

O avanço do Comando Vermelho na região metropolitana de Salvador tem contribuído para a piora da violência armada, sobretudo na capital. A situação tem se agravado nos bairros do subúrbio ferroviário.

Veja o VÍDEO que produzimos sobre isso. Baixe nosso app se você vive na Bahia.

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