Terça, 03 de Dezembro de 2024
24°C 27°C
Salvador, BA
Publicidade

A POLITIZAÇÃO DIVINA NO BRASIL: UM CAMINHO DE ISENSATEZ.

Fato inaceitável em pleno século XXI é a construção da polarização sócio-religiosa, aos moldes dos séculos XVI e início do XVIII, utilizando-se a fé como elemento ideológico preponderante na instrumentalização de luta social política.

Carlos Nascimento
Por: Carlos Nascimento Fonte: Marcos Souza
11/10/2024 às 09h00 Atualizada em 11/10/2024 às 14h05
A POLITIZAÇÃO DIVINA NO BRASIL: UM CAMINHO DE ISENSATEZ.

É difícil nos posicionarmos no momento de plena efervescência política atual, a qual faz parte do dia a dia dos cidadãos, mesmo por que, todas as falas e posicionamentos destoantes dos discursos proferidos são interpretados como inclinações partidárias, instrumentalizadas pela polarização socialmente imposta.

Em um contexto dialético e filosófico bem organizado e disseminado, é utilizada uma rede de falsas teorias, mentiras e distorções das realidades, através de meios tecnológicos avançados, com capacidade de convencimento extraordinário. Este contexto faz com que as pessoas apresentem quadros de condicionamentos intelectuais, comportamentais, religiosas, políticas, gênero, sexuais, falas, atitudes e interpretações vinculadas e subordinadas a uma lógica de raciocínio com dimensões que os resultados beiram a insanidade, assumindo atitudes, como se não mais tivessem opinião, incapazes de raciocinar e avaliar os acontecimentos do cotidiano em seu entorno, perdendo completamente a razão, e alheios a realidade.

Estamos vivendo tempos, momentos e situações pragmáticas, sensíveis e cruciais para convivência e sobrevivência humana e civilizatória, fatos recorrentes em diversos quadrantes do planeta, protagonizados por diferentes fenômenos, sejam naturais ou provocados pelo homem. Podendo-se destacar os grandes debates com características racionais, técnicas e científicas, que se opõem a insensatez socioeconômica e política dos gestores mundiais, a qual tem como resultado, cenários constantemente modificados, em ritmos de degradação aceleradas, tomando rumos devastadores, em reduzidos espaços de tempo.

Fatos recorrentes são a geopolítica armamentista, as guerras, o aquecimento global, a fome, a migração, os grandes desastres, entre outros assuntos, todos contaminados pela polarização e insana compreensão, sob a ótica dicotomizada entre direita e esquerda. Por desconsiderar as transversalidades dos acontecimentos que interferem ou culminam nesses processos calamitosos e catastróficos, sejam eles naturais, humanitários ou de interferências governamentais, esta ótica dicotomizada é descrita pelo professor Alysson Mascaro da seguinte forma: “- Estar ao lado de quem apanha e não de quem bate. Estar ao lado de quem sofre as dores do mundo, e não de quem causa essas dores. Quando nos identificamos com aquele que bate, nós somos de direita, quando nos identificamos com quem apanha, somos de esquerda”. 
Fato inaceitável em pleno século XXI é a construção da polarização sócio-religiosa, aos moldes dos séculos XVI e início do XVIII, utilizando-se a fé como elemento ideológico preponderante na instrumentalização de luta social política. O Brasil já teve entre os anos de 1872 e 1875, seu conflito entre a igreja e governo imperial. Observemos então o quanto retroagimos politicamente e socialmente.

O retrocesso se dá pela perda do processo evolutivo religioso e político que alcançamos naquele período. A busca de uma sociedade divina na terra jamais foi abandonada. A busca por uma sociedade perfeita, com a crença que os  pregadores cristãos possuem o dom de governar, é sustentada até nossos dias. Este conceito outorgado de divindade suprema permite a segregação dos indivíduos, divididos em povo de Deus e os demais tratados como uma horda satânica, incapazes de alcançar um lugar nesse suposto paraíso prometido. Em um paralelo com o cenário atual, observa-se novamente a conexão entre o político e o religioso, ao presenciarmos os potenciais discursos utilizados nesse viés para lograr êxito em seus pleitos eleitorais.

Daí a percepção dos devaneios religiosos e a realidade da população que, estando submetido a regras legais de convivência, independente de sua religião ou regras religiosas, não as invalidam, desde que aplicadas e seguidas no universo espiritual, não podendo ser, portanto, confundidas. Teremos então que retornar toda trajetória percorrida de forma consciente, e nos posicionarmos no ponto onde nos desviamos, retomando a partir daí a nossa caminhada reflexiva se realmente nos foi dado à dádiva do alcance de um paraíso. E por que nos foram concedidas suas leis antes de alcançarmos? Será que pode ser um aviso, ou preparação para que não venhamos repetir os mesmos erros e hipocrisias praticadas, evitando a repetição da bagunça no paraíso, quando lá chegarem?

Por enquanto o que nos resta é olhar e cumprir as leis que regem nossos comportamentos pecaminosos e divinos, além de nossas bagunças diversas. Esse é o mundo real onde convivemos: candidatos a condições de divindades ou participantes da horda satânica, todos juntos e misturados sem, contudo se reconhecerem. Resta-nos, apenas, a Política como instrumento de mediação de convivência entre os indivíduos nesse processo. 

  • Marcos Antônio de Souza - Investigador de Polícia Civil/BA.
    Formado em Licenciatura Plena em Educação Física – UCSAL
  • Mestre em Segurança Pública, Justiça e Cidadania – UFBA
  • Especializações: Metodologia do Ensino Superior - FESP/UPE
  • Especialização em Prevenção da Violência, Promoção da Segurança e da Cidadania – UFBA
  • Especialização em Planejamento Estratégico – ADESG
  • Especialização em Inteligência Estratégica – ADESG
  • Gestão da Investigação Policial, do Programa de Desenvolvimento Permanente para Gestores da P. Civil e da P. Técnica – Fundação Luís Eduardo Magalhães/Academia de Polícia Civil.

Clique na imagem e acesse a Coluna MARCOS SOUZA/Página de Polícia:  

* O conteúdo de cada comentário é de responsabilidade de quem realizá-lo. Nos reservamos ao direito de reprovar ou eliminar comentários em desacordo com o propósito do site ou que contenham palavras ofensivas.
500 caracteres restantes.
Comentar
Sergio Pinheiro Há 2 meses Lauro de Freitas As ideologias religiosas basicamente preocupa em estabelecer elos entre o governo e o seu povo, como forma de convencimento e garantia de submissão das comunidades políticas. O elemento religioso tem sido usado como freio e respaldo do poder político e às vezes extrapola a narrativa.
Nadson ReisHá 2 meses Salvador Muito oportuna sua exposição. Realmente o que não podemos esquecer são os ensinamentos de Deus, temos que implantar em nós mesmos o Reino do Pai.
Mostrar mais comentários
PEC DA SEGURANÇA Há 1 semana

A SEGURANÇA PÚBLICA – o que muda com a PEC

Após 36 anos de promulgada, temos a possibilidade de ver apresentado de forma concreta um ordenamento constitucional onde se define a função dos entes federados em relação à matéria.

ENTREVISTA ESPECIAL Há 2 semanas

Entrevista Especial com MARCOS ANTONIO DE SOUZA: Reflexões sobre a Segurança Pública no Brasil

Investigador de Polícia Civil, professor e especialista em segurança pública fala sobre sua trajetória funcional e acadêmica, desafios do setor e as recentes mudanças na legislação policial.

PEC DA SEGURANÇA Há 4 semanas

CONSIDERAÇÕES: A SEGURANÇA PÚBLICA E OS DIVERSOS DISCURSOS QUE A ENVOLVEM.

Há alguns dias apresentei este artigo sobre segurança pública, no site Pagina de Polícia, proporcionando uma análise sobre alguns aspectos constitucionais, de gestão e ação sobre a matéria. Poucos dias após me surpreendo com a proposta de uma PEC da Segurança Pública onde nos parece que nossas considerações, foram todas contempladas.

REDE SUSTENTÁVEL... Há 1 mês

A SEGURANÇA PÚBLICA e os diversos discursos que a envolvem.

Estamos distantes de possuirmos um conceito de Segurança Pública aliado com seus objetivos e finalidades. Ao iniciar pelo próprio texto da carta magna, em seu artigo 144, onde consta: “A segurança pública, dever do ESTADO, direito e responsabilidade de todos...” não há clareza e definição sobre a matéria.

PAPÉIS BEM DEFINIDOS Há 6 meses

SEGURANÇA PÚBLICA, JUSTIÇA E CIDADANIA | O ASSUNTO É: Atribuições e disputas das Polícias e Impactos na Segurança Pública.

Aqui não se expressa apenas um pensamento crítico, mas uma observação histórica da evolução comparativa entre instituições policiais no continente europeu. Que se constroem conforme a evolução social de cada nação, e interesses políticos de suas elites.

MARCOS ANTÔNIO DE SOUZA
MARCOS ANTÔNIO DE SOUZA
MARCOS ANTÔNIO DE SOUZA - Licenciatura Plena em Educação Física/UCSAL, Investigador de Polícia Civil/BA, Pós Graduado em Metodologia do Ensino Superior - FESP/UPE, Mestre em Segurança Pública Justiça e Cidadania/UFBA.

Especializações: Prevenção da Violência, Promoção da Segurança e da Cidadania - UFBA, Planejamento Estratégico - ADESG, Especialização em Inteligência Estratégica - ADESG, Gestão da Investigação Policial, do Programa de Desenvolvimento Permanente para Gestores da PCBA e DPT.
Ver notícias
Salvador, BA
28°
Tempo nublado
Mín. 24° Máx. 27°
31° Sensação
7.9 km/h Vento
73% Umidade
20% (0.12mm) Chance chuva
04h58 Nascer do sol
04h58 Pôr do sol
Quarta
27° 24°
Quinta
27° 24°
Sexta
26° 25°
Sábado
27° 25°
Domingo
27° 25°
Publicidade
Publicidade


 


 

Publicidade
Economia
Dólar
R$ 6,07 -0,02%
Euro
R$ 6,38 +0,04%
Peso Argentino
R$ 0,01 -0,11%
Bitcoin
R$ 610,487,55 -0,73%
Ibovespa
125,612,10 pts 0.3%
Publicidade
Publicidade
Enquete
Nenhuma enquete cadastrada
Publicidade
Anúncio