ENTREVISTAS UMA CIDADE NUA...
Entrevista com Crispiniano Daltro: A Bahia exposta à violência urbana. Salvador, uma cidade nua.
Em entrevista ao Portal de Notícias Página de Polícia, Daltro faz uma análise profunda sobre o atual cenário da Segurança Pública na Bahia e seus desafios.
13/10/2024 22h53 Atualizada há 4 horas
Por: Carlos Nascimento Fonte: Redação

Salvador, uma cidade nua.
A Bahia enfrenta um cenário alarmante de violência urbana, com altos índices de homicídios, assaltos e o domínio de gangues em várias cidades. Desde 2007, a segurança pública passou por mudanças cheias de expectativas com a chegada do Partido dos Trabalhadores (PT) ao governo estadual. A estratégia de nomear delegados da Polícia Federal para comandar a Secretaria de Segurança Pública (SSP), adotada por Jaques Wagner e mantida por Rui Costa e Jerônimo Rodrigues, não trouxe os resultados esperados, com a criminalidade crescendo a cada ano. 

Para discutir essas questões, entrevistamos Crispiniano Daltro, Policial Civil e especialista em gestão pública com ênfase em municípios.

PÁGINA DE POLICIA: Como você avalia as mudanças na segurança pública desde 2007, com a nomeação de delegados da Polícia Federal para comandar a SSP?

Crispiniano Daltro: As mudanças na segurança pública, desde 2007, não trouxeram melhorias significativas, justamente como já há alguns anos com chamei atenção do governador Jaques Wágner e Rui Costa, da indicação de Delegados federais sem a menor experiência em gestão de políticas públicas, por serem preparados para o enfrentamento policial. Porém foram 16 anos de gestão seguindo o mesmo modelo, ao transformar a SSP em Delegacia de Polícia, com a troca de secretários, cada um trazendo sua própria equipe de auxiliares – agentes e peritos – mas a violência permanece fora de controle. A Bahia é constantemente apontada como um dos estados mais violentos do Brasil, e Salvador frequentemente lidera o ranking nacional, não só de violência urbana, mas de roubos e seguidos de homicídios.

Esse modelo de gestão, com delegados vindos de fora, não está conectado com a realidade local, e os resultados são frustrantes. Já tivemos dois policiais da Polícia Civil da Bahia, o Delegado de Polícia Francisco de Andrade Neto, atual conselheiro - presidente do TCM  e a Delegada Kátia Alves, no período deles, com altos e baixos, a Bahia permaneceu no período de de 1995 a 2006, entre os três Estados com melhores índices de aproveitamento e menores números de homicídios. 

PP: Recentemente, a população manifestou sua insatisfação nas urnas, com o candidato do PT ficando em terceiro lugar nas últimas eleições municipais. Qual é o impacto disso para a segurança pública?

Crispiniano Daltro: A derrota nas eleições foi um recado claro da população. A insatisfação com a política de segurança pública reflete o sentimento de abandono e frustração dos cidadãos em muitas cidades brasileiras, que os candidatos a prefeitos  tiveram que mudar a postura que faziam antes com narrativas e desculpas,  dizendo que segurança era dever do Estado, mas tiveram que se comprometer a se integrar diretamente nas ações concretas para melhora a redução da violência urbana, que nada mais é uma questão local. Mas vejam que mesmo com a derrota em 90% das cidades do interior e capital, com essa resposta nas urnas, o governador Jerônimo até o momento não deu qualquer sinal de mudança na gestão da SSP. Pelo contrário, o governo insiste no mesmo modelo de liderança, nomeando mais policiais federais para cargos na pasta de segurança. Isso demonstra uma resistência a adotar novas abordagens estratégicas que possam atender melhor às necessidades do estado, numa demonstração de  dependência ao governo federal. 

PP: Você ressalta que após a demissão de um  ex-secretário - delegado federal da SSP, envolvido, acusado pelo Ministério Público Federal de ser o chefe da organização Criminosa, na Operação Faroeste. Isso impactou a confiança na gestão de segurança pública. Qual deveria ser a postura do governador de imediato? 

O próprio Ministério Público Federal, determinou que o órgão de responsável por investigação da Polícia Civil, fosse devolvido com toda sua estrutura física e competência, inclusive afastando todos os servidores públicos ou não das funções, inclusive os policiais militares. Mas nada disso aconteceu, ao contrário, foram e continuam as publicações de pessoas estranhas, dentre eles, mantém os militares, como  você analisa essa situação? 

CD: Sem dúvida, o envolvimento de um ex-secretário em um esquema criminoso abalou ainda mais a credibilidade do governo. Mesmo com essas ocorrências, não se vê uma mudança de postura. A insistência na mesma linha de gestão, que já se mostrou ineficaz, só agrava a sensação de insegurança e desproteção di cidadão comum.

PP: Em sua opinião, quais mudanças seriam necessárias para reverter essa situação alarmante?

CD: Acredito que a questão de segurança pública precisa de uma reformulação profunda. É essencial adotar uma abordagem de políticas preventivas, com ações locais que contemplem a presença do poder público de forma mais efetiva, por exemplo a criação de um Fundo federal de Segurança Pública, como já existe para a Saúde e Educação pública, e definir a competência do município, que seria a questão das polícias de prevenção, com a realização de convênios com cada município, os governos Estaduais disponibilizar um efetivo específico de policiais militares para  o Policiamento Preventivo Ostensivo Exclusivo, conforme estipulado no parágrafo 5º, do Artigo 144 da Constituição Federal, poderia ser um caminho. É fundamental que o governo abandone a resistência às críticas e esteja aberto a alternativas para proteger a população.

PP: Você mencionou uma carta de desfiliação em 2008, na qual expressou sua frustração com o movimento sindical e o partido. O que levou a essa decisão?

||||| "Para não ficar refém do crime organizado... estou renunciando minha permanência no movimento sindical e ao partido," ilustra o sentimento de frustração e abandono que perpassa não apenas as instituições, mas também seus próprios integrantes. "Foi uma decisão difícil, mas necessária para não compactuar com a inércia e o abandono que eu via à minha volta"  |||||


CD: Naquela época, eu estava lidando com a sensação de impotência e frustração diante da crescente violência e da falta de resposta eficaz das autoridades. Para mim, continuar envolvido no movimento sindical e no partido significava estar refém de uma estrutura que não priorizava soluções reais para a segurança pública. A renúncia foi uma forma de protestar contra essa inércia.

PP: Com a manutenção do modelo de gestão atual, como você vê o futuro da segurança pública na Bahia?

CD: Infelizmente, enquanto o governo continuar fechado às críticas e preso ao mesmo modelo, a Bahia permanecerá exposta ao caos. A ausência de mudanças significativas na abordagem e a insistência na escolha de delegados da Polícia Federal para a SSP deixam o estado "nu" – vulnerável à violência e sem uma política eficaz para proteger a população.

PP: A apresentadora Jessica Senra, no jornal da manhã de um canal de TV local fala da ausência de posicionamento das forças de segurança pública em especial da SSP, como o senhor vê isso?

CD: É evidente que o gestor público tem a obrigação de se posicionar e esclarecer a situação atual, especialmente no que se refere à execução das atribuições das instituições policiais – a Polícia Civil (PC), responsável pela função judiciária, e a Polícia Militar (PM), encarregada da ordem pública e prevenção. Fica claro que essas instituições não estão seguindo as diretrizes do governador no que diz respeito à política de segurança pública.

Quem deveria prestar esclarecimentos à imprensa é o secretário da pasta ou o próprio governador. Nesse caso, a atitude correta seria o governador demitir toda a cúpula ao vivo, começando pelo secretário de Segurança Pública (SSP) e pelos comandantes da Polícia Civil e Militar. Uma resposta enérgica como essa demonstraria comprometimento com a segurança pública e teria um impacto significativo. Surpreendentemente, a falta de ação parece beneficiar os próprios criminosos, quando o esperado seria uma postura firme que enviasse sinais positivos à sociedade.

Considerações finais?
Crispiniano Daltro: Precisamos de um novo caminho para a segurança pública na Bahia. A população merece um governo que esteja disposto a implementar políticas que realmente façam a diferença no combate à violência e que traga de volta a sensação de segurança. Enquanto isso não acontecer, a situação vai continuar crítica.

Essa entrevista destaca as falhas na gestão da segurança pública na Bahia e as necessidades urgentes de reformulação para enfrentar a crescente violência.

Confira CARTA RENÚNCIA

Entrevista com Crispiniano Daltro: A Bahia exposta à violência urbana. Salvador, uma cidade nua.
ENTREVISTAS UMA CIDADE NUA...
Entrevista com Crispiniano Daltro: A Bahia exposta à violência urbana. Salvador, uma cidade nua.
Em entrevista ao Portal de Notícias Página de Polícia, Daltro faz uma análise profunda sobre o atual cenário da Segurança Pública na Bahia e seus desafios.
13/10/2024 22h53 Atualizada há 4 horas
Por: Carlos Nascimento Fonte: Redação

Salvador, uma cidade nua.
A Bahia enfrenta um cenário alarmante de violência urbana, com altos índices de homicídios, assaltos e o domínio de gangues em várias cidades. Desde 2007, a segurança pública passou por mudanças cheias de expectativas com a chegada do Partido dos Trabalhadores (PT) ao governo estadual. A estratégia de nomear delegados da Polícia Federal para comandar a Secretaria de Segurança Pública (SSP), adotada por Jaques Wagner e mantida por Rui Costa e Jerônimo Rodrigues, não trouxe os resultados esperados, com a criminalidade crescendo a cada ano. 

Para discutir essas questões, entrevistamos Crispiniano Daltro, Policial Civil e especialista em gestão pública com ênfase em municípios.

PÁGINA DE POLICIA: Como você avalia as mudanças na segurança pública desde 2007, com a nomeação de delegados da Polícia Federal para comandar a SSP?

Crispiniano Daltro: As mudanças na segurança pública, desde 2007, não trouxeram melhorias significativas, justamente como já há alguns anos com chamei atenção do governador Jaques Wágner e Rui Costa, da indicação de Delegados federais sem a menor experiência em gestão de políticas públicas, por serem preparados para o enfrentamento policial. Porém foram 16 anos de gestão seguindo o mesmo modelo, ao transformar a SSP em Delegacia de Polícia, com a troca de secretários, cada um trazendo sua própria equipe de auxiliares – agentes e peritos – mas a violência permanece fora de controle. A Bahia é constantemente apontada como um dos estados mais violentos do Brasil, e Salvador frequentemente lidera o ranking nacional, não só de violência urbana, mas de roubos e seguidos de homicídios.

Esse modelo de gestão, com delegados vindos de fora, não está conectado com a realidade local, e os resultados são frustrantes. Já tivemos dois policiais da Polícia Civil da Bahia, o Delegado de Polícia Francisco de Andrade Neto, atual conselheiro - presidente do TCM  e a Delegada Kátia Alves, no período deles, com altos e baixos, a Bahia permaneceu no período de de 1995 a 2006, entre os três Estados com melhores índices de aproveitamento e menores números de homicídios. 

PP: Recentemente, a população manifestou sua insatisfação nas urnas, com o candidato do PT ficando em terceiro lugar nas últimas eleições municipais. Qual é o impacto disso para a segurança pública?

Crispiniano Daltro: A derrota nas eleições foi um recado claro da população. A insatisfação com a política de segurança pública reflete o sentimento de abandono e frustração dos cidadãos em muitas cidades brasileiras, que os candidatos a prefeitos  tiveram que mudar a postura que faziam antes com narrativas e desculpas,  dizendo que segurança era dever do Estado, mas tiveram que se comprometer a se integrar diretamente nas ações concretas para melhora a redução da violência urbana, que nada mais é uma questão local. Mas vejam que mesmo com a derrota em 90% das cidades do interior e capital, com essa resposta nas urnas, o governador Jerônimo até o momento não deu qualquer sinal de mudança na gestão da SSP. Pelo contrário, o governo insiste no mesmo modelo de liderança, nomeando mais policiais federais para cargos na pasta de segurança. Isso demonstra uma resistência a adotar novas abordagens estratégicas que possam atender melhor às necessidades do estado, numa demonstração de  dependência ao governo federal. 

PP: Você ressalta que após a demissão de um  ex-secretário - delegado federal da SSP, envolvido, acusado pelo Ministério Público Federal de ser o chefe da organização Criminosa, na Operação Faroeste. Isso impactou a confiança na gestão de segurança pública. Qual deveria ser a postura do governador de imediato? 

O próprio Ministério Público Federal, determinou que o órgão de responsável por investigação da Polícia Civil, fosse devolvido com toda sua estrutura física e competência, inclusive afastando todos os servidores públicos ou não das funções, inclusive os policiais militares. Mas nada disso aconteceu, ao contrário, foram e continuam as publicações de pessoas estranhas, dentre eles, mantém os militares, como  você analisa essa situação? 

CD: Sem dúvida, o envolvimento de um ex-secretário em um esquema criminoso abalou ainda mais a credibilidade do governo. Mesmo com essas ocorrências, não se vê uma mudança de postura. A insistência na mesma linha de gestão, que já se mostrou ineficaz, só agrava a sensação de insegurança e desproteção di cidadão comum.

PP: Em sua opinião, quais mudanças seriam necessárias para reverter essa situação alarmante?

CD: Acredito que a questão de segurança pública precisa de uma reformulação profunda. É essencial adotar uma abordagem de políticas preventivas, com ações locais que contemplem a presença do poder público de forma mais efetiva, por exemplo a criação de um Fundo federal de Segurança Pública, como já existe para a Saúde e Educação pública, e definir a competência do município, que seria a questão das polícias de prevenção, com a realização de convênios com cada município, os governos Estaduais disponibilizar um efetivo específico de policiais militares para  o Policiamento Preventivo Ostensivo Exclusivo, conforme estipulado no parágrafo 5º, do Artigo 144 da Constituição Federal, poderia ser um caminho. É fundamental que o governo abandone a resistência às críticas e esteja aberto a alternativas para proteger a população.

PP: Você mencionou uma carta de desfiliação em 2008, na qual expressou sua frustração com o movimento sindical e o partido. O que levou a essa decisão?

||||| "Para não ficar refém do crime organizado... estou renunciando minha permanência no movimento sindical e ao partido," ilustra o sentimento de frustração e abandono que perpassa não apenas as instituições, mas também seus próprios integrantes. "Foi uma decisão difícil, mas necessária para não compactuar com a inércia e o abandono que eu via à minha volta"  |||||


CD: Naquela época, eu estava lidando com a sensação de impotência e frustração diante da crescente violência e da falta de resposta eficaz das autoridades. Para mim, continuar envolvido no movimento sindical e no partido significava estar refém de uma estrutura que não priorizava soluções reais para a segurança pública. A renúncia foi uma forma de protestar contra essa inércia.

PP: Com a manutenção do modelo de gestão atual, como você vê o futuro da segurança pública na Bahia?

CD: Infelizmente, enquanto o governo continuar fechado às críticas e preso ao mesmo modelo, a Bahia permanecerá exposta ao caos. A ausência de mudanças significativas na abordagem e a insistência na escolha de delegados da Polícia Federal para a SSP deixam o estado "nu" – vulnerável à violência e sem uma política eficaz para proteger a população.

PP: A apresentadora Jessica Senra, no jornal da manhã de um canal de TV local fala da ausência de posicionamento das forças de segurança pública em especial da SSP, como o senhor vê isso?

CD: É evidente que o gestor público tem a obrigação de se posicionar e esclarecer a situação atual, especialmente no que se refere à execução das atribuições das instituições policiais – a Polícia Civil (PC), responsável pela função judiciária, e a Polícia Militar (PM), encarregada da ordem pública e prevenção. Fica claro que essas instituições não estão seguindo as diretrizes do governador no que diz respeito à política de segurança pública.

Quem deveria prestar esclarecimentos à imprensa é o secretário da pasta ou o próprio governador. Nesse caso, a atitude correta seria o governador demitir toda a cúpula ao vivo, começando pelo secretário de Segurança Pública (SSP) e pelos comandantes da Polícia Civil e Militar. Uma resposta enérgica como essa demonstraria comprometimento com a segurança pública e teria um impacto significativo. Surpreendentemente, a falta de ação parece beneficiar os próprios criminosos, quando o esperado seria uma postura firme que enviasse sinais positivos à sociedade.

Considerações finais?
Crispiniano Daltro: Precisamos de um novo caminho para a segurança pública na Bahia. A população merece um governo que esteja disposto a implementar políticas que realmente façam a diferença no combate à violência e que traga de volta a sensação de segurança. Enquanto isso não acontecer, a situação vai continuar crítica.

Essa entrevista destaca as falhas na gestão da segurança pública na Bahia e as necessidades urgentes de reformulação para enfrentar a crescente violência.

Confira CARTA RENÚNCIA