Ariano Vilar Suassuna (1927-2014) foi um dos mais importantes escritores e dramaturgos brasileiros, conhecido por sua defesa da cultura nordestina e da tradição popular. Nascido na Paraíba, mas radicado em Pernambuco, Suassuna foi o idealizador do Movimento Armorial, que buscava unir elementos da cultura erudita e popular, valorizando a literatura de cordel, o teatro popular e a música tradicional. Além de escritor, foi professor e membro da Academia Brasileira de Letras.
Vida
Ariano nasceu em João Pessoa, Paraíba, em 16 de junho de 1927. Ainda na infância, perdeu o pai, João Suassuna, ex-governador da Paraíba, que foi assassinado em decorrência de disputas políticas. Essa tragédia familiar marcou profundamente sua visão de mundo e sua obra, que reflete um constante diálogo entre tragédia e comicidade.
Nos anos 1940, mudou-se para o Recife, onde estudou Direito e Letras. Durante esse período, conheceu intelectuais e artistas que influenciaram sua formação cultural. Suassuna lecionou Estética e Teoria do Teatro na Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), desempenhando um papel ativo na vida acadêmica e cultural da região.
Obra Literária e Dramática
Suassuna é autor de peças teatrais e romances que celebram a identidade nordestina por meio de uma linguagem rica, repleta de ironia, poesia e crítica social. Sua obra mais conhecida é "O Auto da Compadecida" (1955), uma peça teatral que mistura elementos religiosos e populares, narrando as aventuras de João Grilo e Chicó, dois personagens pobres e astutos do sertão. A peça foi adaptada diversas vezes para televisão e cinema, consagrando-se como um clássico da cultura brasileira.
Além de “O Auto da Compadecida”, Suassuna também escreveu outras peças importantes, como "O Santo e a Porca" (1957) e "A Pena e a Lei" (1959). Suas obras dialogam com gêneros tradicionais, como o cordel e o teatro medieval, e exploram temas como fé, justiça, malandragem e desigualdade social.
Entre suas principais obras estão peças teatrais como O Auto da Compadecida (1955) e A Pedra do Reino (1971), além de romances e ensaios que refletem seu profundo amor pelo Nordeste e sua crítica à desigualdade social. Suassuna foi um defensor incansável da identidade cultural brasileira, resistindo à massificação imposta pela globalização.
O Auto da Compadecida
O Auto da Compadecida é uma das obras mais célebres de Ariano Suassuna. Misturando comédia, drama e elementos religiosos, a peça foi escrita em 1955 e se tornou um marco do teatro nacional. A narrativa acompanha as aventuras de João Grilo e Chicó, dois personagens humildes e espertos que vivem no sertão nordestino. A trama é uma sátira da realidade social, revelando a pobreza e as injustiças enfrentadas pela população local, ao mesmo tempo que explora temas universais como fé, moralidade e redenção.
No centro da história, destaca-se a intervenção de Nossa Senhora, a Compadecida, que age como mediadora entre os pecadores e a figura implacável de Jesus. A peça combina elementos da literatura de cordel, do teatro medieval e do catolicismo popular, construindo um universo onde o fantástico e o real coexistem.
No campo da literatura, Suassuna publicou o romance "A Pedra do Reino" (1971), uma obra densa e simbólica, que combina realismo fantástico com mitos sertanejos. O livro foi adaptado para minissérie pela TV Globo e é considerado uma das maiores realizações da literatura brasileira contemporânea.
Engajamento Cultural e Movimento Armorial
Ariano Suassuna foi o criador do Movimento Armorial, lançado em 1970, cujo objetivo era promover uma arte brasileira erudita com raízes populares. Esse movimento procurava unir diferentes expressões artísticas — música, teatro, literatura, artes plásticas — para valorizar a cultura nacional, com forte inspiração na estética nordestina.
Como defensor da identidade cultural do Brasil, Suassuna criticava a massificação cultural e a influência estrangeira nas artes brasileiras. Até seus últimos anos, ele viajava pelo Brasil proferindo palestras e aulas-espetáculo, com sua peculiar mistura de humor, poesia e sabedoria popular, sempre defendendo a preservação das tradições culturais brasileiras.
Legado
Ariano Suassuna faleceu em 23 de julho de 2014, aos 87 anos, no Recife, deixando um legado inestimável para a cultura nacional. Sua obra continua a ser lida, encenada e estudada em escolas, universidades e teatros. Ele é lembrado não apenas como um grande escritor, mas também como um guardião da cultura nordestina e um defensor da identidade brasileira.
Seu trabalho permanece relevante por sua capacidade de unir o erudito e o popular, revelando a complexidade e a beleza do Brasil profundo, especialmente do sertão. Suassuna se tornou um símbolo de resistência cultural e uma referência para aqueles que acreditam na arte como um instrumento de transformação social.
Resenha do Filme "O Auto da Compadecida" (2000)
A adaptação cinematográfica de O Auto da Compadecida, dirigida por Guel Arraes, foi lançada em 2000, originalmente como uma minissérie exibida pela TV Globo e posteriormente transformada em filme. A produção tornou-se um sucesso de público e crítica, consolidando-se como uma das melhores obras da cinematografia brasileira.
A direção de Guel Arraes se destaca por manter a essência da obra de Ariano Suassuna, preservando o humor característico e os diálogos espirituosos. Arraes também conseguiu explorar a beleza visual do sertão nordestino, criando uma ambientação que valoriza as paisagens áridas e a simplicidade das vilas sertanejas.
O elenco é um dos pontos fortes da obra. Matheus Nachtergaele interpreta João Grilo com maestria, dando vida a um personagem carismático e astuto, enquanto Selton Mello se destaca como Chicó, o covarde e mentiroso amigo de João. A química entre os dois atores é perfeita e faz a narrativa fluir com leveza e humor. Outros destaques incluem Fernanda Montenegro no papel de Nossa Senhora, trazendo serenidade e empatia, e Lima Duarte como o Severino do Aracaju, um cangaceiro temido.
A produção combina comédia e crítica social de forma envolvente, mantendo o tom cômico, mas sem deixar de lado a reflexão sobre a miséria e os dilemas éticos enfrentados pelos personagens.
O Auto da Compadecida é uma obra atemporal que, tanto na literatura quanto no cinema, continua fascinando públicos de todas as idades. A adaptação de Guel Arraes honra a peça original, preservando o espírito nordestino e a crítica social presentes no texto de Ariano Suassuna. A mistura de drama e comédia, aliada às atuações memoráveis e à direção competente, faz do filme um dos maiores clássicos do cinema brasileiro.
A relevância de Suassuna e de sua obra vai além do entretenimento: ele nos convida a refletir sobre as contradições humanas e sociais, revelando que, mesmo diante da adversidade, o espírito de resistência e solidariedade pode prevalecer.
O Auto da Compadecida nos ensina que, entre o rigor da justiça e a compaixão divina, o ser humano precisa encontrar o equilíbrio para sobreviver e se redimir.
Ficha Técnica de "O Auto da Compadecida" (2000)
Elenco Principal
Equipe Técnica
Prêmios e Indicações
AUTO DA COMPADECIDA EM HD