Nas últimas eleições municipais, testemunhamos mudanças significativas no cenário político de Salvador. A reeleição de Bruno Reis consolidou o grupo governista, enquanto a surpreendente ascensão de Kleber Rosa revelou um voto de insatisfação por parte do eleitorado progressista. Por outro lado, a derrota de Geraldo Júnior, apoiado pelo PT, mostrou que alianças políticas não garantem mais o sucesso automático. A renovação de 39% na Câmara Municipal sinaliza que os eleitores estão em busca de representantes mais próximos de suas demandas.
No campo da segurança pública, o cenário na Bahia é igualmente desafiador. A crescente insatisfação dos profissionais, refletida no aumento de exonerações na Polícia Civil, revela problemas estruturais, como salários defasados e condições de trabalho inadequadas. Além disso, o desvio de efetivo para funções ostensivas compromete a investigação policial, um fator preocupante para a eficiência das corporações.
Com a nova Lei Orgânica das PMs e Bombeiros em fase de implementação, há expectativa de modernização, mas também incertezas sobre sua eficácia em resolver questões salariais e promover a integração entre as forças. A segurança pública será, sem dúvida, um dos maiores desafios para o próximo ciclo político e administrativo na Bahia.
Para conversar sobre esses temas e fazer sua análise, entrevistamos o Capitão Tadeu, oficial da reserva da PM, advogado, especialista em segurança pública, ex-vereador, ex-deputado estadual e candidato nas últimas eleições.
Capitão Tadeu, obrigado por aceitar nosso convite. Vamos conversar sobre segurança pública, política e seus planos para o futuro.
PÁGINA DE POLÍCIA: Como o senhor avalia sua trajetória como vereador e deputado estadual?
CAPITÃO TADEU: Avalio de forma muito positiva meus mandato. Com honestidade e dedicação ao interesse público, acima dos interesses de Partidos e grupos políticos.
PP: Quais foram seus maiores desafios e conquistas?
CAPITÃO TADEU: O maior desafio foi a falta de visão política da coisa pública por parte dos eleitores. A maior conquista foi criar uma cultura jurídica dentro do ambiente militar.
PP: Como foi a experiência na última campanha eleitoral?
CAPITÃO TADEU: Muito ruim a experiência nas campanhas. O dinheiro prevalece na compra de votos. Poucos são os eleitores que valorizam a honestidade e projetos dos candidatos.
PP: Por que acredita que não obteve êxito dessa vez?
CAPITÃO TADEU: Porque me recusei a comprar VOTOS. O mais votado dentre os militares recebeu mais de 500 mil reais de doação. Eu recebi apenas 20 mil reais de doação.
PP: Como o senhor avalia o resultado das eleições em Salvador e o cenário político atual?
CAPITÃO TADEU: Esperado o resultado para prefeito. Bruno Reis não tinha concorrente forte.
PP: Apesar do esforço de vários candidatos ligados às forças de segurança, nenhum representante policial foi eleito. Como o senhor analisa esse resultado?
CAPITÃO TADEU: Cálculos estimativos indicam que cerca de 20%, no máximo, de militares estaduais, votaram e conquistaram votos de familiares para Militares Estaduais. MUITO POUCO!
PP: Como o senhor avalia o desempenho dos candidatos militares estaduais nas eleições para vereador em Salvador, considerando a quantidade de votos obtidos e a falta de apoio interno da tropa?
CAPITÃO TADEU: A análise dos resultados da eleição dos militares estaduais em Salvador traz questões importantes para refletirmos sobre a participação política da nossa tropa e a representatividade que estamos construindo.
1. Tivemos 17 candidatos militares (PM/BM) identificados até agora em Salvador, somando 32.805 votos. No entanto, um único candidato civil — um jornalista —, sozinho, conquistou mais de 35 mil votos, superando toda a votação conjunta dos candidatos militares. Isso é um sinal claro da fragilidade política que ainda persiste entre nós, militares estaduais.
2. Estima-se que 10.000 votos dos militares vieram de trabalhos comunitários, fruto do esforço dos candidatos em suas campanhas nas comunidades. Se excluirmos esses votos, restariam 22.805 votos atribuídos ao apoio direto de militares e seus familiares.
3. O efetivo de PMs, BMs ativos, veteranos e pensionistas em Salvador gira em torno de 20.000 eleitores. Se considerarmos um mínimo de 5 familiares próximos por militar (pai, mãe, cônjuge, filho e irmão), teríamos um potencial eleitoral de 120.000 votos apenas com a família policial e bombeiro.
4. Diante desse cenário, a votação de 22.805 votos representa apenas 19% do potencial mínimo estimado. Em outras palavras, 81% dos militares e seus familiares não votaram em candidatos da própria tropa.
Precisamos encarar essa realidade: a maior derrota não foi dos candidatos, mas do coletivo da nossa tropa. Quando a própria família militar não apoia seus representantes, como esperar que as autoridades civis valorizem a nossa causa?
Essa eleição não apenas mostrou uma falta de unidade interna, mas levantou uma questão crucial: Quem realmente perdeu? Os candidatos militares ou a tropa como um todo? Se queremos fortalecer nossa representatividade, é essencial que cada um de nós, militares e familiares, repense sua participação política.
PP: Muitos candidatos se mostraram ativos nas redes sociais e outros tinham forte atuação reivindicatória para a categoria. Por que, na sua opinião, não conseguiram mobilizar o apoio necessário?
CAPITÃO TADEU: Desinteresse pela eleição para Vereador. Muitos milagres estaduais acreditam, equivocadamente, que Vereador não é importante para os anseios da categoria estadual.
PP: Como o senhor avalia a segurança pública no estado atualmente? O que pode ser feito para melhorar a eficiência e integração das forças policiais?
CAPITÃO TADEU: Mesmo com um grande esforço dos policiais e uma gestão boa do Secretário de Segurança Pública, a segurança pública apresenta um quadro muito ruim. Os resultados positivos que existem, frutos do bom trabalho dos policiais, são pequenos para o quadro que deixaram chegar nos últimos anos.
PP: Muitos policiais civis têm pedido exoneração por diversos motivos, especialmente salariais. Como o senhor enxerga essa situação?
CAPITÃO TADEU: Desestímulo por falta de perspectivas na carreira. A carreira policial, civil e militar, não oferece nem boa remuneração e nem valorização profissional.
PP: O que muda para a Polícia Militar da Bahia com a nova Lei Orgânica Nacional das PMs e Bombeiros?
CAPITÃO TADEU: Pode mudar muito, mas vai depender da boa vontade do governador. Para melhorar, a PM dependerá, exclusivamente, da visão estadista do Governador. O que não ocorreu nos seus dois primeiros anos de gestão.
PP: Qual a sua opinião sobre o subsídio como forma de remuneração dos policiais?
CAPITÃO TADEU: Dependerá do valor do Subsídio. Se o Subsídio for baixo, é melhor investir, inicialmente, no Soldão, com Gratificações revigoradas.
Sobre o Futuro político:
PP: O senhor pretende disputar novas eleições no futuro?
CAPITÃO TADEU: Vou ouvir a opinião daqueles que me apoiam, antes de decidir.
PP: Gostaria de deixar alguma consideração final? Que mensagem gostaria de deixar para seus eleitores e colegas de corporação?
CAPITÃO TADEU: Espero que os eleitores tenham interesse pelos projetos para melhorar a sociedade, da mesma forma que tem pela política ideológica partidária, Alguns debatem apenas ideologia política e não se interessam por Projetos que melhoram a vida das pessoas.
PP: Tadeu, agradecemos muito pela sua participação. Desejamos sucesso nos seus próximos projetos.
A entrevista com Capitão Tadeu oferece uma visão crítica e sincera sobre as recentes eleições e o atual cenário da segurança pública na Bahia. Sua análise revela uma preocupação profunda com a influência do dinheiro nas campanhas eleitorais, destacando que a honestidade e a dedicação ao interesse público, embora fundamentais, não são devidamente valorizadas por uma parte significativa do eleitorado. A ausência de representantes policiais eleitos reflete não apenas o desinteresse de parte da categoria, mas também a falta de compreensão sobre a importância estratégica de cargos como o de vereador para defender pautas corporativas.
No campo da segurança pública, Tadeu aponta que, apesar dos esforços dos policiais e da gestão atual, os resultados são insuficientes diante do agravamento dos problemas ao longo dos anos. A evasão de policiais civis, impulsionada por salários baixos e falta de perspectivas na carreira, evidencia um quadro crítico que requer atenção urgente. A nova Lei Orgânica das PMs e Bombeiros surge como uma oportunidade de modernização, mas sua eficácia dependerá da disposição política do governo em promover mudanças significativas.
Por fim, Capitão Tadeu adota uma postura reflexiva sobre seu futuro político, ressaltando que sua decisão de concorrer a novos cargos será pautada por consultas aos seus apoiadores. Sua mensagem final é um apelo para que eleitores e colegas de corporação priorizem projetos que tragam melhorias concretas para a sociedade, em vez de se deixarem guiar exclusivamente por ideologias partidárias. Essa perspectiva reforça a necessidade de um debate mais pragmático e comprometido com o bem-estar coletivo.