A nova regra da Caixa Econômica promete tornar o sonho da casa própria mais difícil de alcançar. A classe média, que já enfrentava desafios para financiar um lar, agora encara uma barreira ainda maior, com a redução do percentual financiado para 70% no sistema SAC e para 50% na tabela Price. Para muitos, isso significa adiar o sonho, mas o impacto real vai além das paredes de uma casa – ele reverbera por toda a cidade.

Com menos acesso ao financiamento, a demanda por aluguel aumentará, e com ela os preços. O aluguel, que já pesa no orçamento de tantas famílias, passará a ser um bem ainda mais disputado. Quem não consegue comprar ou alugar de forma regular acaba recorrendo ao que está ao alcance: a construção de moradias irregulares, muitas vezes em áreas de vulnerabilidade ambiental e sanitária.

Este cenário desencadeia um efeito cascata nas cidades. Com a urbanização descontrolada, áreas de proteção ambiental são invadidas, as encostas se tornam moradias e as beiras de rios ganham novos moradores. Sem um planejamento adequado e serviços básicos, essas regiões estão mais expostas a desastres naturais, como enchentes e deslizamentos. O aumento de construções sem infraestrutura de saneamento também leva ao despejo de esgoto a céu aberto, contaminando solos e cursos d’água e ampliando o risco de doenças.

As prefeituras, já sobrecarregadas, precisarão destinar mais recursos para mitigar esses efeitos. Os custos de manutenção e reparo de áreas invadidas e de serviços básicos se elevam, enquanto outras áreas da cidade sofrem com o abandono – escolas, unidades de saúde e serviços de infraestrutura acabam recebendo menos atenção e investimento.

No fim, a falta de um planejamento urbano acessível e inclusivo acaba pressionando os serviços públicos e degradando a qualidade de vida de todos. O que começa com uma simples regra de financiamento imobiliário, impacta a sociedade em múltiplas esferas. O que vemos hoje é o crescimento de uma cidade desigual, onde a moradia própria se torna um luxo e o aluguel, um peso insustentável.

Os tempos que se avizinham são de desafios. Sem políticas que enfrentem as realidades urbanas de forma abrangente, continuaremos a ver esse ciclo, onde o sonho de um lar seguro se torna cada vez mais um privilégio, e as cidades, com seus bairros cada vez mais segregados, carregam o peso do descompasso.

Lisdeili Nobre - Doutoranda em Políticas Sociais e Cidadania, Delegada de Polícia Civil, Docente do Curso de Direito na Rede UNEX, Cronista de diversos Blogs, Abolicionista Penal, Feminista e Ativista social, Membro da Academia Grapiúna de Artes de Letras, ocupando a cadeira n.º 07 e apresentadora do Política sem Mistério transmitido pela TV i.

@lisdeili.nobre

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