A morte de celebridades que acabam classificadas como mortes suspeitas (de complexo diagnóstico diferencial) produziu mais um caso na semana passada. Liam Payne, cantor britânico pop de grande sucesso internacional, ex-integrante da banda One Direction, cuja carreira solo estava consolidada, morreu em Buenos Aires, no último dia 16 de outubro, após cair da sacada do terceiro andar de um quarto do Hotel Casa Sur, localizado no bairro de Palermo.
A tríade celebridade–drogas–morte suspeita é bastante conhecida. A história recente desse tipo de ocorrência inclui Matthew Perry, encontrado morto em 28 de outubro de 2023 (caso abordado na edição de número 208 dessa coluna); Michael Jackson, morto em 25 de junho de 2009; e, mais remotamente, Marilyn Monroe, encontrada morta em um quarto de hotel no dia 5 de agosto de 1962. São três casos de grande repercussão, que exemplificam o contexto.
No caso de Liam, a polícia argentina divulgou que o exame cadavérico indicou como causas da morte politraumatismo e hemorragia interna e externa. Estas seriam as causas diretamente relacionadas ao evento de queda, conhecido como morte por projeção, que pode se dar em três situações de etiologias distintas: homicídio, suicídio e acidente.
Informações divulgadas apontam que Liam Payne apresentava, na hora de sua morte, uma combinação de benzodiazepínicos (medicamento para a ansiedade), cocaína, crack e a chamada cocaína rosa, detectados em seu organismo, segundo resultados parciais de exames toxicológicos realizados no corpo do cantor.
A chamada cocaína rosa é, na verdade, um coquetel de drogas que raramente apresenta a própria cocaína em sua composição, sendo uma mistura de cetamina, algum estimulante (geralmente cafeína) e MDMA, também conhecido como ecstasy, além de adoçantes responsáveis pela coloração distinta, característica da qual advém o codinome da droga.
Está claro que os resultados toxicológicos definitivos terão grande valor na conclusão do caso.
Sobre a cocaína rosa, as informações que circulam nos veículos que cobrem o caso, divulgadas pela organização espanhola Energy Control, dão conta de que:
“A cocaína rosa, também conhecida como tusi (ou tuci), é considerada uma droga de festas, que tem chamado a atenção na Colômbia e em parte da Europa, especialmente no balneário badalado de Ibiza. O nome “oficial” é uma adaptação do termo 2C-B (“two cee bee” em inglês, pronunciado “tusibí“).
É um alucinógeno que foi sintetizado pela primeira vez na década de 70 nos EUA e proibido mundialmente desde 2001. Possui outros apelidos como “água feliz“, segundo a ONU, ou “Eros” e “Vênus“, apontou a rede de reabilitações do Reino Unido, UKAT. Sua composição pode variar muito. Não há uma receita única da droga. É comum cada produtor adicionar o seu “toque secreto“, que geralmente inclui opioides, metanfetamina, benzodiazepínicos e, em alguns casos, alucinógenos como LSD e mescalina, e até fentanil — um potente anestésico que, quando misturado com álcool, pode ser fatal.
Cada substância usada tem efeitos específicos. Composto por diversas substâncias estimulantes, depressoras e psicodélicas, a droga pode causar efeitos mais dissociativos quando contém cetamina, ou mais estimulantes, se contém MDMA e/ou cafeína. A cocaína rosa pode provocar “psicose tóxica” e comprometer a atenção. A depender de cada combinação e usuário, também podem ocorrer sintomas como sonolência, liberação de serotonina, dopamina e noradrenalina, além de diminuição da dor. Em casos extremos, pode ocorrer psicose tóxica, episódios psicóticos e neurotoxicidade em processos cognitivos como atenção e memória.
As informações divulgadas sobre a perícia realizada no local do fato indicam a presença de vestígios de drogas e objetos empregados comumente para o seu uso, localizadas no quarto do cantor. Além de um pó branco, cachimbo de papel alumínio, velas e um sabonete (que as autoridades argentinas investigam se teria sido empregado para esconder as drogas vendidas a ele por um funcionário do próprio hotel). Também foram encontrados medicamento ansiolítico e álcool no ambiente. Vários danos em móveis e utensílios estariam associados ao relato de funcionários do hotel, que inclusive foram responsáveis por acionar a polícia, alegando que um de seus hóspedes estaria em surto e quebrando seu ambiente.
Se Liam caiu da sacada de seu quarto, configurando um acidente, ou se projetou-se de forma voluntária (um suicídio), talvez nunca se possa ter certeza. Essas são as duas linhas consideradas mais prováveis para sua morte violenta. O que certamente vai restar dessa história são a tristeza e a lamentação de sua legião de fãs.
CÁSSIO THYONE ALMEIDA DE ROSA - Membro do Conselho de Administração do Fórum Brasileiro de Segurança Pública. Graduado em Geologia pela UnB, com especialização em Geologia Econômica. Perito Criminal Aposentado (PCDF). Professor da Academia de Polícia Civil do Distrito Federal, da Academia Nacional de Polícia da Polícia Federal e do Centro de Formação de Praças da Polícia Militar do Distrito Federal.
fontesegura.forumseguranca.org.br/ | EDIÇÃO Nº. 251.
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