Possível oponente do presidente Lula (PT) em 2026, o governador de Goiás critica PEC da Segurança Pública e fala sobre declaração polêmica de Jerônimo Rodrigues
Pré-candidato à Presidência, o governador goiano Ronaldo Caiado (União Brasil) é um duro crítico do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e do PT. Para ele, a população brasileira está “frustrada” com o petista, que fez diversas promessas na campanha de 2022 e não cumpriu.
Caiado fala sobre a possibilidade de novamente enfrentar Lula no pleito de 2026, como já ocorreu em 1989. Também contou que sua pré-candidatura à Presidência deve ser oficializada em Salvador depois do Carnaval.
Confira a entrevista na íntegra:
O senhor já declarou que é pré-candidato a presidente da República em 2026. O que te leva a ser candidato novamente ao Palácio do Planalto?
A experiência acumulada no decorrer de 40 anos de uma vida pública. Depois os resultados que consegui como governador. Nós somos referência hoje em várias áreas. Somos primeiro lugar em educação, primeiro lugar em estado mais digitalizado. É levado ao cidadão todos os serviços digitais do governo. É o estado que tem programas sociais mais avançados em termos de resultados, de emancipação das pessoas do quadro de pobreza e de extrema pobreza. É um estado que volta os olhos para a infraestrutura. É o único estado no Brasil que repassa hoje às pessoas que estão no Cadastro Único da Pobreza casas a custo zero. Não existia interiorização da saúde em Goiás. Só tinha hospitais em Goiânia, Anápolis e Aparecida. Nós levamos hospitais para oito regiões do estado. Goiás também é o estado mais seguro do Brasil. Chegamos hoje a ser uma referência nacional em relação à segurança. É uma ilha em relação ao Brasil. As pessoas têm a liberdade de transitar em todo o território do estado, podendo falar ao telefone onde desejar. Passar os dias de férias, pode passear na praça com seus filhos, ir ao ponto de ônibus com total tranquilidade. Fora o Distrito Federal, nós somos o estado com a maior resolução de crimes no Brasil: 85%. Não há dificuldade hoje em transitar no estado.
O senhor deseja repetir o confronto que teve com Lula na eleição de 1989?
Será uma boa oportunidade. Eu perdi as eleições de 89, e ele foi para o segundo turno. Será uma oportunidade para nós depois de quase 38 anos de defrontar a nossa trajetória de vida e também o que nós fizemos para nos credenciar para 2027. A sociedade deseja ver pessoas que realmente tenham competência e capacidade de fazer. E não pessoas que digam 'eu vou fazer isso e aquilo', mas não entrega à população. Será uma oportunidade de mostrar a minha trajetória de vida na política com coerência e honradez. Nunca desonrei os votos dos meus eleitores. Tenho uma vida transparente e idônea, tendo capacidade de gestão. É o estado mais bem avaliado do Brasil, enquanto o país na gestão Lula e do PT, tem mostrado um verdadeiro colapso do ponto de vista fiscal e moral.
Há na região Nordeste uma muralha vermelha. O PT e Lula têm sido tradicionalmente vencedores. Como pretende conquistar este eleitorado nordestino?
As pessoas estão se sentindo frustradas. Votaram no PT e de repente viram que não propõe nada. Nós estamos no final do segundo ano de governo (Lula). Não tem nenhum projeto novo. Estão tentando ressuscitar projetos antigos, que não deram certo. Totalmente sem sintonia com o momento que o Brasil vive. É um processo atrasado, sem chegar àquilo que é o sentimento da população. Está perdendo apoio em regiões onde ele tinha uma liderança consolidada. Ou seja, as pessoas cansaram de promessas eternas, do populismo rasteiro. Eu vejo que esse momento agora é consagrar políticos que têm capacidade e habilidade política ao mesmo tempo. Políticos que honrem o seu mandato. Não use seu mandato para enriquecimento ilícito e nem para corrupção. E que ao mesmo tempo tenha resultados junto à população.
Você não pode imaginar a quantidade nordestinos que me ligam todos os dias, até porque eu sou meio nordestino. Minha mulher é baiana. Minhas filhas são meia nordestinas. Eu sempre tive uma ligação muito forte com o Nordeste. Tenho ligações fortes com a minha querida Feira de Santana, cidade da minha esposa. No distrito de Bonfim de Feira, onde nós tínhamos propriedade rural, você chega lá e pergunta qual foi a trajetória do Caiado. Eu sempre fui recebido carinhosamente. As pessoas do Nordeste me ligam para dizer que queriam ter a mesma condição de segurança que tem no estado de Goiás. Eu estarei, a partir de 5 de janeiro, caminhando pelo Brasil.
Eu tive a honra de receber do deputado estadual na época, hoje o prefeito da cidade, Bruno Reis, o Título de Cidadão Baiano. Passado o Carnaval, eu quero estar aí para receber esse título. É uma honraria muito grande para mim. Junto a ele, vou receber também o título que foi conferido também de cidadão soteropolitano.
O União Brasil trabalha com a candidatura de ACM Neto ao governo da Bahia em 2026?
Eu tive uma reunião em Feira de Santana há pouco tempo. Já disse isso aí. É uma exigência que eu tenho, que ele saia candidato a governador para que eu possa disputar também a Presidência da República. Em março, nós podemos fazer esse pontapé inicial da campanha. No dia (em) que eu for receber o meu título de cidadão, faremos o pré-lançamento da minha campanha nacional.
O povo baiano hoje está refletindo porque não elegeu ACM Neto na eleição de 2022. Todos devem estar pensando. Bruno (Reis) fez uma reeleição consolidada do país. Mesmo com a máquina federal e estadual contra ele, o candidato contrário (Geraldo Júnior) teve insignificantes percentuais. Isso mostra que a gestão (de Bruno Reis) está consolidada.
A violência é um dos principais problemas hoje do Nordeste, inclusive, na Bahia. O governador Jerônimo Rodrigues chegou a dizer que Goiás também era uma estado violento. O senhor rebateu, e ele disse que te ligou. Aconteceu essa ligação? Por que o senhor respondeu a fala dele?
Em primeiro lugar, ele incluiu Goiás entre os estados violentos. Não procede. Goiás é o estado mais seguro do país. Eu fiz essa ressalva (a fala dele). Falei que ele se enganou. E aí eu conclui dizendo que é importante deixar a polícia trabalhar, porque eu me preocupei em preparar a minha polícia na área de inteligência e também na área operacional para que nós fizéssemos um combate ao crime organizado no nosso estado, como a qualquer outra forma de crime. Aqui não tem negócio de crime pequeno e crime grande. Aqui em Goiás é lei. Depois de tudo isso, eu me encontrei com ele no dia daquela audiência com o presidente Lula. Nos falamos. Ele disse: ‘olha, Caiado, eu não queria me dirigir como sendo contra Goiás’. Tudo bem. E não teve mais nada a ser discutido em relação a isso. O fato foi colocado. Eu dei a resposta àquilo que não é a realidade do meu estado.
O senhor tem sido contrário à PEC da Segurança Pública apresentada pelo governo Lula. Por quê?
Por um motivo simples. Esse assassinato que teve lá dentro de Guarulhos. Ali é território federal. É crime federal. O uso da arma ali é de uso exclusivo da polícia, um calibre 762. Estava na mão de bandidos. Ali é fruto de contrabando de armas, outro crime federal. Quando você tem uma situação como essa nos Estados Unidos, cada estado tem a sua força, como tem hoje. No momento que o crime é federal, o FBI entra e diz que é assunto do governo federal. Entra e resolve. O que se quer (com a PEC) simplesmente é o seguinte:
O governo federal quer ter o poder de mandar sobre as polícias estaduais, sendo que os governadores é que pagam a conta. Ele quer estabelecer critérios sobre fazer abordagem das pessoas, se deve usar a câmara dos policiais, como é que deve ser a rotina. Isso é um problema local, de cada estado. Por que um crime 100% federal, como esse de Guarulhos, e o governo federal não entrou para resolver? Então, quer propor o quê? Não entra com nada? Só entra em querer dar ordem na minha polícia, e eu pago a conta? Na hora que o crime é federal diz que não tem braço para combater o crime.
Qual a sua proposta?
O que devia fazer é o seguinte. Nós não somos competentes. Então, nós vamos passar nossa verba aqui para os estados. E vamos cobrar meta e eficiência para que os estados também façam o combate aos crimes federais. Qual é a minha proposta? Que a PEC seja não de passar poderes ao Ministério da Justiça, mas sim passar poderes aos estados para legislar sobre crimes: a legislação penal e a legislação penitenciária.
Aí sim, eu não vou ficar dependendo do governo federal na hora que eu quiser transferir um preso, por exemplo. Temos que ter cada vez mais poder de legislar nos estados. O governo federal não pode definir regras vinculares, como se o crime em Goiás fosse igual ao crime na Bahia ou igual ao crime no Amazonas e no Rio Grande do Sul.
O governo Lula desconhece a situação da segurança pública no país?
Não é que desconheça. É que o PT nunca na história conseguiu enfrentar o crime. Eles sempre foram complacentes, para não dizer coniventes, com o crescimento da criminalidade no país. Você nota que os governos petistas têm uma complacência com crime impressionante. Isso levou o Brasil para situação que está hoje.
O senhor teve desentendimentos com o ex-presidente Jair Bolsonaro. Inclusive, agora na eleição de Goiânia, onde tiveram candidatos diferentes. Espera ter o apoio de Bolsonaro mesmo assim em 2026?
Eu sempre apoiei o ex-presidente Bolsonaro em todos os momentos, de todas as campanhas dele. Ele que fez questão de vir a Goiânia lançar um candidato para confrontar com o candidato que eu havia lançado. Quem veio aqui para poder derrotar o candidato que eu havia lançado foi ele. Não fui eu. Então, não partiu do meu lado nenhum sentimento de confronto com o ex-presidente. Foi fundamental para que realmente entendesse que cada líder nacional tem que também saber ouvir e respeitar as lideranças estaduais e municipais. Política se faz assim. Não é impondo candidatura.
E o senhor espera o apoio dele?
Ele é pré-candidato. Então, vamos devagar. Passo a passo. Ele se colocou como pré-candidato e vamos respeitar. Isso não é impeditivos para que a gente possa se colocar na disputa.
A inelegibilidade dele é possível reverter na sua avaliação?
Não cabe a mim fazer um julgamento ou opinar sobre uma questão que está no Supremo ou no Tribunal Superior Eleitoral. Então, eu acho que esse fato é um fato que deve ser aguardado por nós.
O campo da direita e o centro-direita conseguem a união para enfrentar o governo Lula?
É muito difícil num primeiro turno construir uma unidade 100% num campo onde você tem muitos pré-candidatos que desejam também disputar as eleições. Se conseguir, ótimo. Se não conseguir, que esse critério fique definido para o segundo turno.
O senhor tem uma imagem de defensor do agronegócio, do ruralismo. Isso pode te prejudicar para conseguir votos do eleitorado mais progressista?
Tenho uma vida na defesa do produtor rural. Agora, não é que o produtor rural não seja progressista. É o setor que mais absorve tecnologia no país. A agropecuária brasileira é o Vale do Silício. Aqui se produz com alta tecnologia. Os países não conseguem superar. Então, o que nós sempre defendemos é uma centro-direita inteligente, que acredita na ciência, que debate respeito ao meio ambiente, que produz inovação e tecnologia. É essa a centro-direita que o Brasil deseja que chegue à Presidência da República em 2026.
Publicado originalmente no Jornal Correio