O Ministério da Justiça e Segurança Pública inicia, na quinta-feira (20/05), uma pesquisa para avaliar a qualidade de vida dos profissionais de segurança pública do país. O levantamento terá duração de três meses e visa subsidiar o planejamento de políticas públicas que atendam aos integrantes do Sistema Único de Segurança Pública (SUSP).
De acordo com o ministério, a pesquisa ficará disponível aos profissionais do Departamento Penitenciário Nacional, da Polícia Federal e da Polícia Rodoviária Federal e ao pessoal das Polícias Militares, dos Corpos de Bombeiros Militares e das Polícias Civis, Técnico-Científicas e Penais nas unidades federativas.
A estimativa é que entre 480 mil e 490 mil profissionais participem da pesquisa.
O link da pesquisa será encaminhado para cada um dos profissionais por e-mail. A participação é voluntária e sigilosa, não havendo qualquer forma de identificação pessoal dos profissionais.
Segundo o Ministério da Justiça, os dados coletados vão fomentar as ações do Programa Nacional de Qualidade de Vida para Profissionais de Segurança Pública e Defesa Social. Criado em 2010, o programa tem como objetivo valorizar o profissional da área de segurança, reduzindo os riscos de morte como também atuando na prevenção da saúde durante o exercício de suas relevantes funções.
“Precisamos conhecer as características e necessidades do profissional que está na ponta, trabalhando para proteger a população”, disse o ministro da Justiça e Segurança Pública, Anderson Torres.
Preocupação dos governadores é que o Presidente possa usar o estudo apenas para inflamar sua base eleitoral para as eleições de 2022.
Em guerra com os governadores há mais de um ano, o governo Jair Bolsonaro encomendou uma pesquisa nacional sobre a qualidade de vida de todos os policiais brasileiros. O Ministério da Justiça e Segurança Pública colocará à disposição dos profissionais de segurança, entre eles policiais militares e policiais civis dos 26 estados e do Distrito Federal, um questionário que abordará questões salariais e de moradia, entre outros pontos.
O motivo é nobre: criar políticas públicas públicas para valorizar os policiais. No entanto, governadores ouvidos pelo blog estão preocupados com uso político que o presidente Bolsonaro fará com os resultados. "Vem coisa por aí", resumiu um deles. "Preocupante. Vamos monitorar", anunciou outro.
O resultado da pesquisa é previsível: há uma grande insatisfação dos policiais com as condições de trabalho e financeiras. A dúvida é se Bolsonaro usará a pesquisa para melhorar a vida dos policiais ou para infernizar ainda mais a dos governadores. Ou os dois. Vale lembrar que 2022 teremos eleições.
A pesquisa será feita por e-mail. As secretarias estaduais de segurança vão enviar ao Ministério da Justiça os contatos do policiais que acessarão o link do questionário. A dedução é que o primeiro efeito será a criação de um grande banco de dados com os contatos de todos os policiais do país. Abre-se uma possiblidade de uma ponte direta do governo federal com o policial da base, passando por cima da institucionalidade.
Mas o secretário Nacional de Segurança Pública do MJSP, Renato Paim, ao lançar a pesquisa garantiu:
"A participação é voluntária e sigilosa, não havendo qualquer forma de identificação pessoal dos profissionais. Os dados serão tratados coletivamente e nenhuma informação pessoal será compartilhada."
A desconfiança dos governadores se dá pelo histórico do bolsonarismo, que sempre esteve ao lado de PMs amotinados que desafiaram a autoridade do governadores, como ocorreu em Sobral, no Ceará, em fevereiro de 2020. Além disso, o governo Bolsonaro é acusado de ter abandonado o projeto do Sistema Único de Segurança Pública (Susp), lançado no governo de Michel Temer pelo ex-ministro da Segurança Pública, Raul Jungman. Sem nenhuma ação estruturante neste área, agora lança a pesquisa.
O raio-X da insatisfação policial coincide com a volta de movimentos sociais e setores da oposição às ruas. Em Pernambuco, no sábado (29), policiais militares não seguiram os protocolos e reprimiram com violência as manifestações contra Bolsonaro.
Mais tarde, em entrevista a Globonews, o deputado Vitor Hugo defendeu a atuação policial: as manifestações pró-governo não são reprimidas, na sua visão, porque são feitas pelo cidadão do bem, ordeiro e vestido de verde e amarelo (assista aqui). Já os atos da oposição são compostos por vândalos, que fazem quebra-quebra e usam camisas vermelhas. Portanto, merecem repressão, segundo ele.
Policiais inflamados por esse discurso, ressentidos com governadores e respaldados pelo governo federal com a pesquisa na mão é tudo que Bolsonaro quer para 2022.