João Belchior Marques Goulart, conhecido carinhosamente como Jango, nasceu em 1º de março de 1919, na cidade de São Borja, Rio Grande do Sul, berço de importantes líderes políticos da história brasileira, como Getúlio Vargas. Desde jovem, Jango demonstrava grande interesse pelas questões sociais e pela realidade do trabalhador brasileiro, que vivia em condições precárias.
Formado em Direito pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Jango não seguiu a advocacia como carreira principal, mas essa formação foi crucial para moldar seu entendimento sobre justiça e a importância de reformas estruturais. Sua proximidade com Getúlio Vargas, mentor político e figura central no Estado Novo, influenciou profundamente sua trajetória, levando-o a ingressar no Partido Trabalhista Brasileiro (PTB).
No PTB, Jango consolidou-se como uma voz progressista, defendendo o fortalecimento dos direitos trabalhistas, a ampliação do acesso à educação e a redução das desigualdades sociais. Suas posições o colocaram como uma figura de destaque na política nacional. Seu compromisso com as causas populares foi amplamente reconhecido, tornando-o uma liderança natural entre os trabalhadores, sindicatos e setores progressistas.
Um defensor dos Direitos Trabalhistas
Ainda jovem na política, Jango assumiu, em 1953, o cargo de Ministro do Trabalho, Indústria e Comércio no governo de Getúlio Vargas. Sua gestão foi marcada por ações ousadas, como o aumento de 100% no salário mínimo, o que gerou grande impacto positivo na renda dos trabalhadores mais pobres. No entanto, essas políticas enfrentaram resistência por parte das elites econômicas, que viam em Jango um perigo para a manutenção de seus privilégios.
Além disso, o período como ministro destacou sua habilidade em negociar com diferentes setores sociais, buscando promover avanços sem desestabilizar as bases econômicas do país. Mesmo assim, seu perfil reformista tornou-o alvo de ataques de setores conservadores, que já articulavam narrativas contrárias à sua ascensão.
Jango emerge nesse contexto como um político que personificava o sonho de um Brasil mais justo e igualitário. Sua formação acadêmica, aliada à experiência como líder trabalhista, moldou uma visão política que buscava a redistribuição de renda e a ampliação dos direitos sociais. Ele foi uma figura central na política brasileira do século XX. Influenciado por Getúlio Vargas, com quem manteve uma relação próxima, ingressou no Partido Trabalhista Brasileiro (PTB) e tornou-se um defensor fervoroso dos direitos trabalhistas e da justiça social.
A vida política e o governo de Jango
Após ser ministro do Trabalho de Vargas, onde implementou importantes políticas de valorização salarial, Jango foi eleito vice-presidente nas chapas de Juscelino Kubitschek (1956) e Jânio Quadros (1960). Com a renúncia de Jânio, assumiu a presidência em 1961, em meio a uma grave crise política que culminou na imposição de um sistema parlamentarista, posteriormente revogado por plebiscito.
Como presidente, Jango propôs um programa de Reformas de Base, incluindo reforma agrária, urbana, educacional e tributária, além da nacionalização de empresas estrangeiras. Essas medidas enfrentaram forte resistência das elites conservadoras, dos militares e de parte da classe média, que as viam como uma ameaça ao "status quo".
A polarização política atingiu seu ápice em 31 de março de 1964, quando um golpe militar depôs Jango, instaurando uma ditadura que duraria 21 anos. Forçado ao exílio, viveu no Uruguai e na Argentina até sua morte, em 6 de dezembro de 1976, sob circunstâncias controversas que levantam suspeitas de envenenamento, reforçadas por investigações recentes.
O legado de Jango
Embora controverso, o seu legado é marcado por sua luta pela justiça social e pelos direitos dos trabalhadores. Suas Reformas de Base, mesmo interrompidas, permanecem referência em debates sobre a desigualdade no Brasil. A redemocratização e a revisão histórica do golpe de 1964 reabilitaram sua imagem como um líder comprometido com o progresso social. Sua trajetória é um lembrete poderoso da importância de se preservar a democracia e enfrentar as desigualdades que ainda persistem no Brasil.
A política externa independente
Além de seu foco nas questões internas, Jango tentou imprimir uma política externa independente e alinhada aos interesses nacionais. Ele deu continuidade à Política Externa Independente iniciada por Jânio Quadros, diversificando as relações diplomáticas e buscando reduzir a dependência dos Estados Unidos. Essa postura equilibrou as relações entre Oriente e Ocidente e fortaleceu parcerias Sul-Sul, especialmente com países da América Latina e África.
Apesar de sua estratégia pragmática, que incluía o estreitamento de laços com a União Soviética, China e Cuba, a polarização da Guerra Fria gerou críticas internas e externas. Documentos históricos mostram que os Estados Unidos apoiaram abertamente a conspiração que resultou no golpe de 1964, temendo que o Brasil seguisse o caminho de Cuba.
Exílio e Morte
Após o golpe, ele foi forçado ao exílio, vivendo no Uruguai e na Argentina. Sua morte, em 1976, permanece envolta em mistério, com investigações apontando para a possibilidade de envenenamento durante a Operação Condor, uma aliança entre ditaduras latino-americanas. Ele foi um presidente que ousou desafiar as elites e as pressões externas em nome de um projeto de país mais justo e soberano. Sua trajetória de lutas, reformas e resistência reflete as dificuldades de liderar em tempos de crise política e polarização.
Seu legado inspira reflexões sobre a importância de preservar a democracia e combater as desigualdades sociais no Brasil. Apesar de ter sido deposto antes de implementar suas reformas, ele deixou um marco como um líder que priorizou a justiça social e a soberania nacional.
A coragem de propor mudanças estruturais em um contexto adverso, somada à sua visão estratégica de longo prazo para o desenvolvimento do Brasil, transforma sua trajetória em um exemplo de resistência. Sua memória é um alerta para os desafios que ainda enfrentamos na construção de um país mais igualitário e independente. Jango permanece vivo na história como um símbolo de que, mesmo diante da adversidade, é possível lutar por um Brasil mais justo, democrático e soberano. Sua vida, marcada por conquistas, exílio e morte trágica, é um lembrete de que os avanços sociais exigem determinação e compromisso com o bem comum.
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Deraldo Goulart, diretor do filme Jango em 3 Atos, cita detalhes da produção do documentário:
Jango em Três Atos - Documentário Completo
FILME | Jango - Como, quando e por que se derruba um presidente, 1984
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Documentário João Goulart Jango