A cerimônia do Kuarup, ritual indígena do Xingu, em Mato Grosso, poderá se tornar manifestação da cultura nacional. Projeto de lei com esse objetivo ( PL 6.177/2019 ) foi aprovado pela Comissão de Educação e Cultura (CE) nesta terça-feira (17) e segue para sanção presidencial. Com origem na Câmara dos Deputados, a proposta recebeu parecer favorável do relator, senador Wellington Fagundes (PL-MT).
O Kuarup reúne diversas etnias do Alto Xingu e é realizado entre os meses de agosto e setembro no Parque Nacional do Xingu, no norte de Mato Grosso. No ritual, são abordados temas profundos e universais, como a morte e o luto, ao mesmo tempo em que se homenageia a memória de entes queridos. Essa alternância entre momentos de luto e celebração da vida reflete a filosofia indígena de que a continuidade da existência e a convivência harmoniosa em comunidade são essenciais após a perda de entes queridos. O auge da cerimônia acontece quando troncos de árvore são lançados simbolicamente na água, representando a despedida, a transformação e a transcendência.
A celebração representa uma prática religiosa que destaca a figura de Mavutsinim, a divindade criadora, que, segundo a tradição, moldou o mundo e os primeiros homens a partir dos troncos da árvore Kuarup. A narrativa, que foi documentada pelo indigenista Orlando Villas Bôas, revelou a tentativa de Mavutsinim de ressuscitar os mortos, transformando troncos de madeira em seres humanos por meio de um ritual complexo, que inclui cânticos, danças e celebrações comunitárias. Elementos simbólicos, como os troncos ornamentados e a interação com a natureza ao redor, desempenham papel essencial nesse rito, que busca honrar os ancestrais e fortalecer os laços e a coesão social da comunidade.
Para Wellington Fagundes, o reconhecimento do Kuarup como expressão genuína da cultura nacional é uma forma de valorizar e preservar as contribuições dos povos originários à cultura e à sociedade brasileiras contemporâneas.
Segundo ele, a medida também “estimula o diálogo intercultural que enriquece a convivência e a compreensão mútua entre os diversos grupos que compõem o tecido social do país”.
A senadora Damares Alves (Republicanos-DF) considerou o dia histórico para o povo do Xingu. A parlamentar sugeriu que a comissão visite o Xingu em 2025.
— São dias de celebração à vida. De manifestar o choro, a saudade e que, no fim, fecha o luto. É um momento especial e indo até lá daremos uma grande visibilidade a essa que é uma das mais lindas manifestações culturais do país — afirmou Damares.