O ex-superintendente da Secretaria de Segurança Pública da Bahia (SSP/BA), Rogério Magno Almeida Medeiros, foi preso na segunda fase da Operação Overclean, deflagrada pela Polícia Federal na última segunda-feira (23). Magno, que comandou o setor de inteligência da SSP/BA entre 2011 e 2020, é acusado de repassar informações sigilosas para o grupo criminoso liderado por Marcos Moura, conhecido como “Rei do Lixo”, também preso recentemente.

‘Rei do Lixo’ ficou em silêncio em primeiro depoimento após prisão pela PF 

As investigações apontam que Rogério Magno recebia uma mesada de R$ 6.000 para manter o grupo informado sobre investigações sigilosas. Ele mantinha contatos regulares com Alex Rezende Parente, outro investigado na operação, por meio de mensagens e chamadas telefônicas, que acabaram sendo monitoradas pela Polícia Federal. Transcrições desses contatos revelaram um vínculo próximo entre os dois, com Magno chamando Parente de “irmão” e “amigo” e solicitando serviços pessoais, como dedetização em sua residência, oferecida como "cortesia" por Parente.

Magno foi exonerado por Rui Costa em 31 de outubro de 2020 após ser citado na "Operação Faroeste", que investiga um esquema de venda de sentenças por magistrados na Bahia.

Planilhas apreendidas com o grupo criminoso indicam pagamentos regulares ao ex-superintendente, identificados pela sigla “MAG”. Além disso, Magno teria auxiliado o grupo em operações envolvendo grandes quantias de dinheiro. Na primeira fase da "Operação Overclean", a PF apreendeu R$ 1,5 milhão em um jatinho, supostamente transportado com sua colaboração.

A prisão de Rogério Magno expõe uma crise de confiança no sistema de segurança pública baiano, já que ele foi considerado um dos homens de maior confiança do ex-secretário de Segurança Pública, Maurício Barbosa, ocupando um cargo estratégico no período de 2011 a 2020.

Atualmente lotado na Delegacia do Aeroporto de Salvador, Rogério Magno é acusado de facilitar movimentações ilegais para o grupo criminoso. A Operação Overclean segue em andamento, e novas revelações podem emergir nos próximos dias.

Rogério é acusado de fornecer informações privilegiadas ao grupo criminoso, recebendo pagamentos mensais e outros benefícios, como serviços pessoais financiados pelos líderes do esquema. Ele foi levado à sede da PF em Água de Meninos e entrou pelos fundos, evitando a imprensa.

Além de Rogério, a operação prendeu o vice-prefeito de Lauro de Freitas, que também era responsável pelo fundo municipal de saúde. De acordo com as investigações, ele teria recebido pagamentos mensais da organização criminosa e utilizado contratos fraudulentos com a empresa PAP Saúde Ambiental Ltda para quitar dívidas pessoais. Esse envolvimento coloca em evidência a profundidade do esquema, que teria desviado milhões de recursos públicos.

Outro alvo da operação foi o ex-prefeito de Santa Cruz da Vitória, que teve um mandado de prisão preventiva cumprido. O quarto preso foi localizado em Vitória da Conquista, reforçando o alcance do esquema que se espalhava por diferentes regiões da Bahia. As investigações indicam que os envolvidos usavam suas posições de influência para facilitar contratos fraudulentos e desviar dinheiro público, prejudicando áreas como saúde e infraestrutura.

Advogado de Rogério Magno se manifesta

O advogado do Sindicato dos Policiais Federais da Bahia, Alberto Carvalho, informou que ainda não teve acesso ao processo, mas que aguarda a audiência de custódia para entender os detalhes da prisão de Rogério Magno. Ele destacou que o ex-superintendente não teria conhecimento prévio do motivo da operação.

A prisão de Rogério Magno representa um marco no combate à corrupção dentro das estruturas da segurança pública da Bahia. Ao evidenciar o envolvimento de um alto escalão no favorecimento de atividades criminosas, o caso lança luz sobre a vulnerabilidade dos sistemas de inteligência e a necessidade urgente de reformulações e maior fiscalização interna. A Operação Overclean continua investigando a amplitude dos esquemas criminosos, o que pode levar a mais desdobramentos e prisões.

A situação também coloca em xeque a gestão política da segurança no estado, com possíveis implicações para aliados do governo, abalando a confiança da sociedade nas instituições públicas.

Demissão da cúpula da Secretaria de Segurança Pública, enquanto é tempo.

O governador Jerônimo Rodrigues enfrenta um momento crítico em sua gestão. A crescente insegurança pública na Bahia exige uma decisão urgente e inadiável: a demissão de toda a cúpula da Secretaria de Segurança Pública (SSP). Não se trata apenas de uma recomendação, mas de um alerta que, caso ignorado, poderá agravar ainda mais a já delicada situação da segurança no estado, claramente comprometimento pelos mesmos membros desde a deflagrada Operação Faroeste, envolvendo membros da SSP/BA, e agora surge outra "Operação Overclean",  com a prisão de mais um agente federal, que ocupava o cargo de superintendente do setor de inteligência da SSP/BA, investigado, não deixa dúvidas do comprometimento e...que foi nomeado no período de 2008, quando a Pasta foi assumida por um grupo de servidores policiais civis federais.

 Em 2008, quando ainda no cargo policial, atuando como dirigente sindical, alertei por diversas vezes a direção do Partido sobre os riscos que estávamos enfrentando. Na época, filiado ao Partido dos Trabalhadores (PT), fiz chegar às mãos do então governador Jaques Wagner uma carta em que renunciava ao movimento sindical e anunciava minha desfiliação do partido. Meu gesto foi um protesto contra a falta de prioridades claras na gestão da segurança pública e a ausência de mecanismos de controle para enfrentar a criminalidade que já começava a se consolidar.

A resposta a meu posicionamento foi dura:  críticas, ataques pessoais e até tentativas de destruir minha carreira policial, com oferenda de medalhas a membro da alta cúpula da instituição policial, com objetivo de comprometer e desqualificar minha reputação. Contudo, os anos passaram e, infelizmente, meus alertas se confirmaram. Hoje, a Bahia se encontra em um cenário de calamidade na segurança pública. Salvador, em particular, tornou-se uma "Cidade Nua", exposta à violência, retirando da polícia administrativa (PM), realizar o serviço de policiamento preventivo e eficaz e com uma  obstrução política da Polícia Judiciária Investigativa (PC) que carece de estrutura e valorização.

Esse quadro de descontrole deixa claro governador que o estado se tornou refém do crime organizado. O poder público parece incapaz de reagir, enquanto os municípios sofrem com a insegurança crescente.

É hora de agir 
Governador Jerônimo, este é o momento de assumir a responsabilidade de liderar uma mudança profunda na SSP/BA. A inércia ou a tentativa de preservar estruturas ineficazes apenas aprofundarão a crise, comprometendo ainda mais a segurança da população baiana. A demissão de toda a cúpula da SSP/PC/PM, não é uma solução definitiva, mas um primeiro passo necessário para reestruturar a gestão da segurança pública no estado.

Os tempos exigem coragem, ação e decisões firmes. A Bahia não pode mais continuar "batendo continência para cavalos", submetida ao domínio do crime. Se nada for feito, não será por falta de aviso. A história cobrará dos líderes de hoje a responsabilidade por suas escolhas – ou pela falta delas.

Coluna Crispiniano Daltro/PÁGINA DE POLÍCIA, acesse e acompanhe últimas publicações: