O Policial Civil e administrador Crispiniano Daltro, servidor público estadual, apresentou ao Ministério Público do Estado da Bahia (MPE/BA) um pedido formal de intervenção no sistema de atendimento de saúde para usuários do Planserv e demais cidadãos em situação de urgência e emergência. A solicitação enfatiza a necessidade de abolir a exigência de regulação prévia e cotas que atrasam o atendimento médico em hospitais públicos e privados conveniados ao SUS, colocando vidas em risco.
Daltro embasa seu pedido no artigo 127 da Constituição Federal, que atribui ao Ministério Público a defesa da ordem jurídica e dos direitos sociais. O aposentado destaca que o sistema atual desconsidera o princípio da prioridade no atendimento a situações críticas, prejudicando pacientes em estado grave.
Relatos de Casos Reais: A Burocracia que Atrasou o Socorro
Em sua petição, Crispiniano Daltro relata dois episódios pessoais que ilustram as falhas do sistema:
Caso 1 – Acidente de Trânsito
Após um acidente de carro na Ladeira do Arco do Barbalho, em Salvador, Daltro foi atendido rapidamente pelo SAMU. Contudo, a ambulância ficou parada por mais de 40 minutos aguardando regulação para encaminhamento hospitalar. Mesmo estacionada em frente ao Hospital ISBOT, a regulação determinou que ele e sua esposa fossem levados para outro hospital, distante do local do acidente.
Caso 2 – Infarto
Recentemente, Daltro sofreu um infarto e, diante da demora do sistema de regulação, dirigiu-se por conta própria ao Hospital Agenor Paiva. Após cinco dias aguardando vaga em um hospital especializado, foi transferido durante a madrugada para o Hospital Fundação de Cardiologia da Pituba, em uma ambulância precária. Após nove dias internado, foi submetido a um cateterismo e à colocação de um stent.
Críticas ao Sistema de Regulação
Daltro critica duramente o sistema de regulação vigente, apontando que situações de urgência e emergência devem ser avaliadas por médicos, e não por burocratas. Ele alerta que a regulação baseada em pulseiras de cores e cotas administrativas desconsidera a gravidade dos casos e pode ser fatal.
“Recentemente, um cidadão faleceu na sala de espera de um hospital, portando uma pulseira verde que indicava baixo risco. Esse tipo de tragédia é resultado de um sistema que prioriza a burocracia em detrimento da vida humana”, enfatiza Daltro.
Pedido de Ação do Ministério Público
Diante dos relatos, Crispiniano Daltro solicita que o Ministério Público da Bahia intervenha junto ao governo estadual e ao Planserv para garantir que os hospitais atendam casos de urgência e emergência sem a exigência de regulação ou agendamento prévio. Ele reforça que a decisão sobre a gravidade do caso deve ser exclusiva dos médicos responsáveis pelo atendimento.
O pedido inclui as seguintes solicitações:
1. Garantia de Atendimento Imediato – Que os hospitais públicos e privados conveniados ao SUS atendam imediatamente os casos de urgência e emergência.
2. Fiscalização Rigorosa – Que o Ministério Público fiscalize o cumprimento dessa obrigação e aplique sanções administrativas e judiciais em casos de descumprimento.
3. Autonomia Médica – Que os profissionais de saúde tenham autonomia para avaliar e priorizar o atendimento, sem interferências burocráticas.
Conclusão: Saúde é um Direito, Não uma Cota
A petição apresentada por Crispiniano Daltro é um alerta sobre a urgência de reformar o sistema de saúde na Bahia. A exigência de regulação prévia em casos de urgência e emergência é uma prática que fere o direito à saúde garantido pela Constituição Federal e coloca vidas em risco.
O Ministério Público tem o dever de agir em defesa da sociedade, garantindo que o atendimento médico em situações críticas seja imediato e eficiente. Afinal, cada minuto perdido na burocracia pode significar uma vida a menos.
Vide abaixo solicitação ao MPE:
Morte na Sala de Espera: A Tragédia de José Augusto e o debate sobre Negligência Médica
José Augusto Mota da Silva, de 32 anos, perdeu a vida em circunstâncias que geraram comoção e revolta no Rio de Janeiro e em todo o Brasil. Artesão e garçom, ele dividia seus dias entre a praia de Copacabana e um restaurante na Barra da Tijuca, mas foi na Unidade de Pronto Atendimento (UPA) da Cidade de Deus, na Zona Oeste do Rio, que sua história chegou a um fim trágico. Sentado na sala de espera, José Augusto faleceu antes de receber atendimento médico, uma situação que chamou a atenção para questões de negligência e falhas no sistema de saúde pública.
O caso veio à tona através de um vídeo que viralizou nas redes sociais, mostrando o rapaz já sem vida, sentado em uma cadeira da unidade. A família de José Augusto, que reside em Mogi Guaçu, no interior de São Paulo, acusa a UPA de negligência. Segundo Douglas Batista, melhor amigo e responsável por levá-lo à unidade, José Augusto vinha sofrendo de dores intensas no estômago, decorrentes de gastrite. Em consultas anteriores, ele teria recebido apenas medicamentos paliativos, sem que exames mais aprofundados fossem solicitados.
— Nunca pediram um exame específico. Ele já estava muito mal há meses e buscava ajuda, mas sempre voltava para casa com dipirona — lamentou Douglas. Ele também criticou a triagem da UPA, que classificou o caso como de baixa prioridade, mesmo com o paciente apresentando febre e fortes dores.
José Augusto, que era conhecido pela dedicação ao trabalho e pela luta para superar dificuldades, foi enterrado no último domingo em sua cidade natal. Seu caso mobilizou a Comissão de Saúde da Câmara do Rio de Janeiro, a Polícia Civil e o Conselho Regional de Medicina, que abriu uma sindicância para apurar responsabilidades no óbito. O prazo para conclusão da investigação é de 90 dias, mas pode ser antecipado.
O caso de José Augusto traz à tona a fragilidade do sistema de saúde pública, especialmente em relação à avaliação de risco e ao tratamento de condições crônicas. Para muitos, ele se tornou um símbolo das vidas perdidas em meio à falta de estrutura e atenção nos serviços de saúde. A história de José Augusto é um alerta para a necessidade de reformas urgentes que garantam atendimento digno e eficaz a todos os brasileiros.