POLÍCIA CIVIL “VIPs do 92”
DÉCADAS DE PERSEGUIÇÃO E ESCÂNDALOS: O Desabafo de um Investigador e a Crise na Polícia Civil da Bahia.
Relatos de perseguição pessoal e denúncias de irregularidades administrativas expõem fragilidades e falta de ética na Segurança Pública baiana.
18/01/2025 22h13
Por: Carlos Nascimento Fonte: Editoria de Polícia

A Polícia Civil da Bahia enfrenta uma crise institucional que mescla relatos de perseguições pessoais e escândalos administrativos. O investigador aposentado Crispiniano Daltro e os desdobramentos do caso “VIPs do 92” colocam em evidência problemas estruturais e éticos que afetam diretamente a governança da corporação.

O caso Crispiniano Daltro

Crispiniano Daltro, investigador aposentado, denuncia uma década de perseguições que começaram após sua reintegração aos quadros da Polícia Civil, em 2013, por decisão judicial. Ele acusa o ex-Delegado-Geral Bernardino Brito Filho de arquitetar um Processo Administrativo Disciplinar (PAD) em 2014, sob a alegação de abandono de plantão, mesmo sem escalas de serviço que comprovassem a acusação.

O PAD, mesmo com prazos prescritos e determinação da Procuradoria Geral do Estado (PGE) para encerramento em maio de 2023, seguiu ativo até julho daquele ano, e novos despachos ainda tramitam de forma sigilosa. Além disso, Daltro relata a suspensão de seus salários e benefícios desde 2018, somada a tentativas anteriores de descontar valores arbitrários em seu contracheque. Para ele, trata-se de uma perseguição pessoal que comprometeu sua vida profissional e financeira.

“Espero que ele [Bernardino Brito] pague por todo o mal que fez, não só a mim, mas a muitos colegas policiais civis”, declarou Daltro, que ainda luta para restaurar seus direitos e dignidade.

O Escândalo “VIPs do 92”

Paralelamente, outro episódio envolvendo o ex-Delegado-Geral Bernardino Brito Filho evidencia problemas éticos na gestão da Polícia Civil. Denunciado pelo Ministério Público da Bahia por falsificação de documentos, falsa identidade e peculato, Bernardino e seu motorista, Diego Emanuel Carneiro dos Santos, foram acusados de usar recursos públicos para fins pessoais.

A investigação começou em abril de 2021, quando Diego foi abordado pela RONDESP dirigindo uma viatura descaracterizada da Secretaria de Segurança Pública e portando uma identidade funcional falsificada. Ele revelou que o documento havia sido emitido sob orientação de Bernardino Brito, supostamente para facilitar sua identificação administrativa. No entanto, o motorista não estava a serviço oficial no momento, mas transportava músicos a pedido do então Delegado-Geral.

O caso reacendeu debates sobre a emissão indiscriminada de documentos funcionais para servidores administrativos. A Portaria nº 644, que regulamentava as identidades, foi revogada pela Delegada-Geral Heloísa Campos de Brito em abril de 2021, dias após a denúncia.

Reflexões e Consequências

Os episódios envolvendo Crispiniano Daltro e Bernardino Brito Filho revelam lacunas graves na governança da Polícia Civil da Bahia, expondo práticas que fragilizam a ética, a responsabilidade administrativa e a confiança pública. O relato de Daltro reforça a necessidade de combater perseguições pessoais e garantir o cumprimento de decisões judiciais, enquanto o escândalo “VIPs do 92” destaca o impacto negativo do favorecimento pessoal e do uso indevido de recursos públicos.

Esses casos mostram que a ausência de fiscalização eficaz e de protocolos claros compromete não apenas os servidores diretamente afetados, mas também a credibilidade da instituição como um todo. Reformas estruturais, transparência e responsabilização são urgentes para restaurar a confiança na corporação e assegurar que a Polícia Civil cumpra sua missão de proteger a sociedade com ética e justiça.

A Polícia Civil da Bahia enfrenta uma encruzilhada que exige mudanças profundas. Casos como o de Crispiniano Daltro e o escândalo envolvendo Bernardino Brito Filho não são apenas denúncias isoladas; são sintomas de um sistema que precisa urgentemente de reformas. É essencial que autoridades e gestores públicos assumam o compromisso de garantir que práticas de perseguição, favorecimento e desvios de conduta não se repitam.

A segurança pública, enquanto pilar da sociedade, só será fortalecida quando suas instituições forem exemplos de integridade e justiça. Para isso, é necessário não apenas punir os responsáveis, mas também implementar políticas que assegurem ética e transparência em todos os níveis. O desabafo de Crispiniano Daltro e os desdobramentos do caso “VIPs do 92” devem servir como alerta e ponto de partida para um novo modelo de governança na Segurança Pública baiana.