O ex-Delegado-Geral da Polícia Civil da Bahia, Bernardino Brito Filho, e seu motorista, Diego Emanuel Carneiro dos Santos, foram denunciados pelo Ministério Público Estadual por falsificação de documentos, falsa identidade, peculato e favorecimento pessoal. O caso, que ganhou destaque após abordagem policial em abril de 2021, levantou questionamentos sobre a conduta de autoridades e fragilidades no controle administrativo da corporação.
A abordagem e as descobertas iniciais
No dia 7 de abril de 2021, policiais da RONDESP abordaram Diego Emanuel no bairro Cassange, em Salvador. Ele dirigia uma viatura descaracterizada da Secretaria de Segurança Pública da Bahia (SSP/BA) e portava uma carteira de identificação funcional falsificada, com distintivo da Polícia Civil. Durante a abordagem, ele se apresentou como policial civil, o que gerou desconfiança por conta de contradições em suas declarações.
O motorista revelou que o documento funcional havia sido emitido sob orientação do ex-delegado-geral, supostamente para facilitar a identificação dos servidores administrativos. No entanto, a investigação apontou que Diego não estava a serviço oficial no momento, mas transportava músicos a pedido de Bernardino Brito Filho, caracterizando uso indevido de recursos públicos.
Denúncias de irregularidades administrativas
A denúncia destacou um padrão de permissividade e favorecimento envolvendo servidores contratados pelo regime REDA (Regime Especial de Direito Administrativo). Esses servidores, conhecidos como "VIPs do 92", frequentemente atuavam como motoristas e eram vistos utilizando trajes e distintivos da Polícia Civil, mesmo sem serem policiais.
O episódio reacendeu debates sobre a emissão de identidades funcionais administrativas. A portaria que regulamentava tais documentos foi revogada dias após o ocorrido, reforçando a necessidade de maior controle interno para evitar abusos.
Repercussões e exonerações
O caso gerou forte repercussão e levou à exoneração dos motoristas ligados ao ex-delegado-geral por determinação do governador Rui Costa. Além disso, organizações como o SINDPOC denunciaram a recorrência de práticas semelhantes, cobrando providências para coibir o uso indevido da estrutura policial.
Em declarações emocionadas, Diego Emanuel negou ter se passado por policial e alegou estar sendo usado como "bode expiatório". Já Bernardino Brito Filho justificou a emissão das identidades como medida administrativa legítima, mas sua versão foi contestada pelas evidências e contradições apontadas pela investigação.
Reflexões sobre ética, governança e confiança pública na segurança
O caso envolvendo o ex-Delegado-Geral Bernardino Brito Filho e seu motorista, Diego Emanuel Carneiro dos Santos, transcende a denúncia de falsificação de documentos e peculato. Ele revela lacunas graves na governança da segurança pública, expondo fragilidades em processos administrativos que deveriam ser pautados pela ética e pela responsabilidade. Quando agentes ou servidores, sejam administrativos ou de alta hierarquia, utilizam recursos públicos para fins pessoais ou desviam-se de suas funções, a integridade de todo o sistema é colocada em xeque.
Este episódio destaca a necessidade de revisitar práticas e protocolos dentro da Polícia Civil da Bahia e de outras corporações pelo país. A emissão indiscriminada de documentos funcionais, a permissividade em relação à conduta de servidores administrativos e a cultura de favorecimento pessoal demonstram a urgência de se implementar reformas estruturais. Transparência, fiscalização e responsabilização efetiva são pilares indispensáveis para restaurar a credibilidade de instituições que, por essência, devem ser exemplos de integridade.
Além disso, o caso reforça a importância de separar relações de trabalho de vínculos pessoais no serviço público. A utilização de motoristas administrativos para tarefas particulares ou em situações que comprometem a imagem da corporação revela como interesses privados ainda têm espaço em instituições públicas. Essa prática é incompatível com os princípios constitucionais da moralidade administrativa e da impessoalidade.
Por fim, o impacto desse caso vai além do ambiente policial. Ele gera uma reflexão necessária sobre como a sociedade enxerga e confia nas forças de segurança. Episódios como este comprometem a relação entre o cidadão e o Estado, minando a confiança em agentes que deveriam ser os primeiros a proteger o bem comum.
Cabe às autoridades tomar este caso como um divisor de águas, promovendo mudanças que não apenas punam os responsáveis, mas também garantam que tais falhas não voltem a se repetir, fortalecendo a segurança pública e sua missão de servir à população com ética e justiça.