O Centro de Excelência Nelson Mandela, em Aracaju, deu prosseguimento ao acolhimento de novos alunos na manhã desta sexta-feira, 7, com uma atividade diferenciada. Os jovens foram apresentados ao 'Alma Africana', único projeto de uma instituição da rede pública de Educação Básica de Sergipe e da Região Nordeste a ser certificado pelo Selo ODS Educação, em 2024. A premiação será entregue no dia 20 de março de 2025, no Auditório do Museu do Amanhã, no Rio de Janeiro. O projeto Alma Africana conta com recursos do Programa de Transferência de Recursos Financeiros Diretamente às Escolas Públicas Estaduais - Profin Projetos.
A notícia foi anunciada pela cofundadora do Selo Nacional Educação e vice-presidente do Instituto Selo Social, Carina Giuco, que realizou uma videoconferência com os estudantes. Carina também informou que, na ocasião da premiação, os coordenadores do 'Alma Africana' terão um espaço de interlocução aberto com representantes do Ministério da Igualdade Racial, dada a proximidade do projeto com a propositura do Brasil para a criação do 'ODS 18 – Igualdade Étnico-Racial'.
“O Brasil anunciou na Assembleia Geral da ONU de 2023 a adoção voluntária de um 18º Objetivo Global dedicado à igualdade étnico-racial. Já na reunião do G20, sediada no Brasil no ano passado, foi lançado o ODS 18. Trata-se de uma proposta ousada do Brasil, e o país precisa mostrar tudo o que vem desenvolvendo dentro desse ODS. O projeto Alma Africana está em sintonia com a proposta brasileira e ajudará a fortalecer o ODS 18, como referência internacional para os 193 países que integram a ONU”, destacou Carina Giuco.
Juntamente com seus alunos, o professor e coordenador do projeto, Evanílson França, foi pego de surpresa com a notícia. “Nós já estávamos muito felizes com o reconhecimento do Selo ODS Educação, por saber que éramos a única instituição da rede pública de educação básica de Sergipe condecorada. No entanto, a emoção se multiplicou ao descobrirmos que também somos a única instituição da rede pública de educação básica do Nordeste agraciada com o selo e, para completar, vamos representar o Brasil na ONU. Isso é maravilhoso! É um presente em comemoração aos 20 anos do projeto Alma Africana”, falou, orgulhoso, o mestre.
A aluna da 3ª série do Ensino Médio, Joyce Gabriela Santos Silva, que interpreta Elza Soares no espetáculo 'A Elza que vi', do Grupo ParlaCênico de Teatro, disse ter ficado emocionada com os resultados obtidos por ela e seus colegas. “Entrei no ParlaCênico no ano passado, mas eu já conhecia o projeto através da escola, quando assistimos ao espetáculo 'Sobrevivente de Palmares', em 2023. O projeto é lindo e grandioso, além de ser uma experiência indescritível porque a gente se vê no que acontece em cima do palco. Penso que essa questão da representatividade é algo muito importante para nossa formação como estudantes de escola pública. Estamos contribuindo para tornar o ambiente escolar menos desigual e mais representativo”, comentou.
Selo ODS Educação e a Agenda 2030
O Selo ODS Educação é uma certificação concedida a instituições cujas práticas educativas se alinham aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), contribuindo para uma sociedade mais inclusiva, justa e equitativa. Ao todo, foram 170 instituições inscritas de todas as regiões do país, das quais 74 serão certificadas, sendo sete delas sediadas no em Sergipe: Universidade Federal de Sergipe, Instituto Federal de Sergipe – campus Estância, Universidade Pio Décimo, Colégio Santa Chiara, Colégio CCPA, Coesi e Centro de Excelência Nelson Mandela.
O Selo ODS Educação é parte da estratégia de implementação da Agenda 2030 no Brasil, incentivando a internalização e territorialização dos ODSs nas instituições de ensino. A certificação busca engajar a comunidade acadêmica na elaboração de soluções sustentáveis para um mundo mais justo e inclusivo.
Para a coordenadora de Educação do Campo e Diversidade da Secretaria de Estado da Educação (Seed), Geneluça Santana, a conquista do Selo ODS Educação reforça a relevância do projeto 'Alma Africana' e do Centro de Excelência Nelson Mandela, também certificado com o ‘Selo Escola Antirracista’, como agentes transformadores na educação pública de Sergipe, promovendo o reconhecimento da identidade e da história afro-brasileira no ambiente escolar.
“Projetos como esse são importantes principalmente ao público que eles atendem porque não fazem distinção na participação, ao mesmo tempo em que beneficiam toda a comunidade escolar, sobretudo os estudantes negros que se sentem representados. O benefício também se estende para a nossa rede pública estadual, pois neste ano, pela primeira vez, o Estado de Sergipe recebeu o recurso do Valor Aluno Ano Resultado (VAAR) [complementação do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica] por cumprir uma das quatro condicionalidades, isto é, a redução das desigualdades educacionais entre estudantes negros e não negros”, enfatizou a gestora, ao parabenizar os integrantes do projeto.
Reconhecimento nacional
Em setembro de 2024, o projeto Alma Africana já havia sido reconhecido nacionalmente ao receber o 9º Prêmio Educar com Equidade Racial e de Gênero, concedido pelo Centro de Estudos das Relações de Trabalho e Desigualdades (CEERT). A premiação valoriza iniciativas educacionais que promovem a igualdade racial e de gênero no Brasil.
20 anos de projeto
O Projeto Alma Africana nasceu em 2005, na então Escola Estadual Professor Benedito Oliveira. Lá, o projeto desenvolvia seis ações, entre elas: o Seminário de Cidadania Ativa, quando são os estudantes os conferencistas, e as comunidades escolar e local compõem o público, e o lançamento da Antologia Poética.
Em 2009, o projeto migrou para o Centro de Excelência John Kennedy, onde permaneceu até 2022. Nessa unidade de ensino, além das seis ações estratégicas constitutivas do Alma Africana, foram acrescidas mais sete; entre elas: as vivências em comunidades remanescentes de quilombos; o Grupo ParlaCênico de Teatro (que já montou 13 espetáculos e levou mais de 30 mil estudantes de escolas públicas aos teatros sergipanos); a virada pedagógica (quando, durante a noite inteira, ininterruptamente, até às 8 horas da manhã do dia seguinte, são vivenciadas práticas culturais afrodiaspóricas); a Formação para as Diferenças (oferecida a estudantes, a professores e ao público em geral, em parceria com a Universidade Federal de Sergipe); as pesquisas de campo, objetivando mensurar a percepção sobre racismo na capital sergipana.
Neste ano, a coordenação do projeto — composta pelo professor Evanílson França e as professoras Gilmara de Souza Neto, Adalcy Costa dos Santos, Sheila Rodrigues dos Santos Vega, Talita dos Santos e Mariza Santos Cajé — pretende adicionar uma nova ação para fortalecer ainda mais o compromisso com uma educação pública de qualidade e socialmente referenciada. Trata-se do 'Mina Batalha de Rima', que potencializará as poesias produzidas pelas meninas.