Sob este título circulou nas redes na semana anterior uma fotografia da ministra de Segurança da Argentina, Patricia Bullrich, com seu rosto manchado de sangue, em uma expressão macabra acorde com a brutal repressão policial à marcha semanal pacífica dos aposentados, nas quartas-feiras, em Buenos Aires. O protesto dos aposentados e o povo que saiu às ruas junto às torcidas de mais de 30 clubes de futebol, para dar apoio e proteção aos seus pais e avós.
A participação das torcidas, organizadas ou não, se deu a partir dos golpes dos subordinados da ministra aos aposentados na manifestação da quarta feira anterior ao 12 de março, agredindo inclusive selvagemente uma anciã com cacetete que veio bater a cabeça no chão. Estes se opõem às medidas do governo, como o veto à reforma da previdência, os cortes nos medicamentos e exigem o aumento das pensões. Houve mais de 150 detidos e muitos feridos.
A marcha em torno do Congresso acontece há bastante tempo e a repressão policial orquestrada pela ministra com o total apoio e incentivo do presidente Javier Milei, veio aumentando seus efetivos, seu armamento - megaoperação com forças federais violando a autonomia de Buenos Aires -, ao ponto da repressão ter disparado deliberadamente um cartucho de gás lacrimogêneo contra um fotógrafo, Pablo Grillo, que até este momento se encontra internado na UTI, com traumatismo craniano, numa batalha contra a morte. Foi a repressão estatal mais violenta desde dezembro de 2001, quando o povo foi às ruas e derrubou o presidente Fernando de la Rúa.
Normalmente, num artigo deste tipo, seria o momento de traçar um retrato da ministra, da instigadora da repressão contra “seu” próprio povo, da apodada borracha (bêbada) pela engenhosidade popular e agora também, de assassina. Mas não vale a pena escrever sobre seu passado, é tão oprobrioso, degradante, indigno, infamante e ignominioso quanto o seu presente, digno apenas de ocupar o cargo que ocupa só num governo como o do atual presidente argentino, um encaixe perfeito de intransigência doentia de fascismo, ultraliberalismo e negacionismo aplaudido, infelizmente, por cerca de 40% da população, segundo estudos recentes, o que demonstra um retrocesso social alarmante, apesar de sabermos que este modelo político não se aplica sem repressão.
Uma sociedade que perdeu uma geração inteira na repressão dos anos 70, um crime humanitário lembrado com orgulho pela equipe presidencial/empresarial assentada hoje na Casa Rosada, uma cópia quase idêntica - só faltou “uma Bullrich” - da equipe do ex-presidente brasileiro.
Não obstante as mentiras da ministra e a violência repressiva, os aposentados voltarão às ruas na próxima quarta-feira, mais uma vez.
Carlos Pronzato
Cineasta, diretor teatral, poeta e escritor e Sócio do Instituto Geográfico e Histórico da Bahia (IGHB)
E-mail: carlospronzato@gmail.com
(*) A minha coluna quinzenal no jornal A Tarde, da Bahia. 18.03.25