Em abril de 2024, o deputado Glauber Braga (PSOL-RJ), expulsou da entrada da Câmara um provocador do MBL que em várias ocasiões vinha lhe molestando. O nome do provocador não importa. Cabe mencionar, entretanto, que além de xingar a mãe do pesolista, foi candidato derrotado a vereador no Rio pelo partido Novo, alcançando pouco mais de 12 mil votos. Já Glauber Braga, conhecido por sua atuação aguerrida, ética e irretocável, até onde se sabe, está na sua quarta legislatura como deputado federal, carregando consigo um mandato concedido por mais de 78 mil eleitores.
Criado em 2014, o MBL se projetou para a política pela agressividade durante o golpe contra Dilma e a campanha de Bolsonaro em 2018, tornando-se um dos mais importantes grupos da extrema direita no país. De lá pra cá, no entanto, a organização vem acumulando derrotas. Em 2022, o deputado federal Kim Kataguiri (União-SP) causou escândalo ao defender o direito de os nazistas se organizarem em um partido. No mesmo ano, o MBL embarcou na fracassada candidatura de Sergio Moro à presidência, mas pego em suas próprias contradições, tornou-se um aliado incômodo até mesmo para o ex-juiz.
Dos reveses recentes do MBL, a perda de mandato e posterior prisão do vereador Gabriel Monteiro (PL), no Rio, acusado de estupro e assédio sexual, ao lado da cassação do mandato de deputado estadual de São Paulo Arthur do Val (União), conhecido como “Mamãe Falei”, capturado em áudios feitos na Ucrânia em que dizia que as mulheres do país, que buscavam refúgio, eram “fáceis porque são pobres”, tornaram-se peças icônicas da falsa moral professada pelos membros da organização extremista.
A possível cassação de Glauber Braga pode se tornar mais um marco negativo na história do legislativo brasileiro, sempre leniente com desvios de conduta, deslizes éticos, agressões e até acusações de assassinatos. Frequentadora assídua do Conselho de Ética na condição de denunciada, a deputada Carla Zambeli (PL-SP), filmada em outubro de 2022 perseguindo um jornalista com uma pistola, tem novo pedido de cassação por incentivar o plano golpista que envolveu Bolsonaro e os militares. Já Chiquinho Brazão (ex-União), preso em março de 2024 como um dos acusados de ser o mandante do assassinato de Marielle Franco e Anderson Gomes, nunca foi julgado no Conselho e, portanto, continua com o mandato de deputado.
Há uma semana em greve de fome, Glauber Braga tem mobilizado amplos setores da sociedade que veem na tentativa de cassação do seu mandato uma forma de retaliação orquestrada por Arthur Lira (PP-AL) frente à sua atuação no caso do orçamento secreto. Não dá pra dizer que Glauber será salvo, mas a importante coalizão que vai se criando em torno desse absurdo, pode ser um ponto de partida para que o país comece a virar a página da chantagem, da roubalheira e do extremismo que hoje infestam o parlamento brasileiro.
Carlos Zacarias de Sena Júnior (Professor do Departamento de História da UFBA)
(*) Publicado no Jornal A Tarde, (Espaço do Leitor), edição de 18.04.2025.