Após meses de impasse, Jerônimo Rodrigues anuncia reajuste para a segurança pública; atuação dos sindicatos é questionada
Depois de meses de tratativas discretas e com pouca transparência, o governador da Bahia, Jerônimo Rodrigues (PT), finalmente encaminhou à Assembleia Legislativa do Estado (AL-BA) três Projetos de Lei que promovem alterações na estrutura remuneratória das forças de segurança pública. Os textos preveem reajustes salariais que podem chegar a até 22% para algumas categorias da Polícia Civil, Polícia Militar e Corpo de Bombeiros.
O anúncio foi feito nesta terça-feira (22), marcando o desfecho de um processo de "negociação" marcado por críticas e questionamentos quanto à postura das entidades de classe que representam os servidores da Segurança Pública. De acordo com o governo estadual, as medidas terão impacto estimado de R$ 372 milhões até o fim de 2025, e de R$ 849,8 milhões em 2026.
“Estamos fazendo um gesto de inclusão, um momento histórico, botando na mesa e discutindo. Tô valorizando, reconhecendo a importância dos movimentos, das polícias, das forças de segurança. Eu sempre achei que iríamos chegar em um ponto”, declarou o governador durante o anúncio oficial.
Contudo, apesar do tom conciliador do Executivo, a condução das negociações por parte dos sindicatos tem sido alvo de severas críticas por parte da categoria. Segundo relatos de bastidores, a atuação das entidades sindicais, especialmente dos representantes da Polícia Civil, foi considerada excessivamente passiva. Para muitos servidores, os sindicatos estariam mais alinhados aos interesses do governo do que aos das suas bases, a ponto de atuarem, na prática, como extensões da comunicação institucional do Estado.
O Sindicato dos Policiais Civis da Bahia (SINDPOC), por exemplo, foi ironicamente apelidado de “SindGov” por membros da categoria, em alusão à sua suposta proximidade com o Palácio de Ondina. A crítica se baseia na percepção de que houve pouca mobilização e nenhuma resistência significativa às propostas do Executivo, o que teria enfraquecido o poder de barganha dos trabalhadores da segurança pública.
Em termos práticos, os reajustes serão distribuídos da seguinte forma: os policiais militares (praças e oficiais) e bombeiros terão um ganho médio de 14,76% entre 2025 e 2026. Na Polícia Civil, delegados, peritos criminais, peritos médico-legistas e peritos odonto-legais receberão um reajuste acumulado de 14% no mesmo período. Já os investigadores, escrivães e peritos técnicos do Departamento de Polícia Técnica terão o maior ganho, com aumentos de 22%.
Apesar do avanço, o clima entre os servidores é de frustração com a condução das negociações e de desconfiança quanto ao papel das entidades representativas. Para muitos, os reajustes, embora relevantes, foram definidos sem a devida valorização da luta sindical e da pressão da categoria, que esperava uma atuação mais firme e independente dos seus representantes.
Presidente da ALBA se manifesta
Ivana Bastos reafirma compromisso da ALBA com a valorização das forças de segurança pública
A presidente da Assembleia Legislativa da Bahia (ALBA), deputada Ivana Bastos, reafirmou o compromisso da Casa com o fortalecimento e valorização das forças de segurança pública do Estado. “A Assembleia não medirá esforços para garantir avanços e valorização para os profissionais que atuam na linha de frente da proteção à população baiana”, destacou.
O projeto de lei, que prevê a reestruturação das carreiras e a valorização dos profissionais da Polícia Militar, Corpo de Bombeiros, Polícia Civil e da Secretaria de Administração Penitenciária (Seap), foi encaminhado à ALBA durante ato realizado no Centro de Operações e Inteligência (COI), com a presença de parlamentares, secretários e chefes da segurança pública.
Entre as medidas propostas estão o reajuste de salários e gratificações, a criação de um auxílio fardamento mensal para PMs e bombeiros, promoções por desempenho para a Polícia Civil e a reestruturação das gratificações para os servidores da área penitenciária.
Com o recebimento do projeto, a Assembleia inicia o processo de análise, debate e votação da proposta, cumprindo seu papel constitucional de avaliar medidas que impactam diretamente a vida dos servidores públicos e da sociedade baiana.
“Nós entendemos a importância dessa pauta para os profissionais da segurança e para toda a Bahia. Atuaremos com diálogo, responsabilidade e compromisso para que as propostas avancem com celeridade e garantam os direitos de quem dedica sua vida a proteger a nossa população”, concluiu Ivana Bastos.
Comentário do Capitão Tadeu
Em suas redes sociais, o ex-deputado estadual e Capitão da reserva da PM, Tadeu Fernandes, fez duras observações quanto à maneira como a proposta foi apresentada ao público e aos impactos reais do reajuste:
“Pelo título da reportagem, a sociedade vai pensar que os PMs e BMs terão 22% de reajuste. Não é verdade!
A verdade é esta:
O governador assinou a proposta de reajuste no dia 22/04/2025 (terça-feira), mas a Assembleia Legislativa da Bahia só deverá divulgá-la oficialmente no dia seguinte, 23/04/2025 (quarta-feira).
Segundo o governo, o reajuste será escalonado entre 2025 e 2026:
# Investigadores: 22%, em média;
# Oficiais e Praças da PM e BM: 14,76%, em média;
# Delegados: 14%.
Não gostei do projeto no que diz respeito aos Militares Estaduais. Identifiquei aspectos discriminatórios e já expus minha posição detalhadamente sobre isso.
E quanto à postura das associações?
Minha opinião pessoal:
Se a Força Invicta e a APPM se posicionarem contra a proposta, o governo pode aprová-la de qualquer maneira e excluí-las das futuras discussões sobre a regulamentação da Lei Orgânica Nacional das PMs e BMs.
Se, por outro lado, não se insurgirem neste momento, podem garantir espaço nas negociações da regulamentação dessa importante legislação.
Eis o dilema que coloco para reflexão:
As associações devem perder um pouco agora para tentar ganhar mais adiante na regulamentação da Lei Orgânica?
Ou perderão agora e também perderão a oportunidade futura de avançar?”
A manifestação do Capitão Tadeu expõe um ponto sensível do atual cenário: o equilíbrio entre o enfrentamento político e a necessidade estratégica de diálogo institucional. O debate permanece aberto e promete novas repercussões nos próximos dias.
@sindpocoficial
Reajuste Salarial: Presidente do Sindpoc destaca conquista histórica para as forças de segurança
Em publicação feita no Instagram oficial do Sindicato dos Policiais Civis da Bahia (@sindpocoficial) no dia 23 de abril de 2025, foi celebrada a assinatura e o envio, pelo governador Jerônimo Rodrigues, de um Projeto de Lei à Assembleia Legislativa da Bahia (ALBA), prevendo reajuste salarial e medidas de valorização para os profissionais da segurança pública.
O presidente do Sindpoc, Eustácio Lopes, ressaltou a importância do momento:
“A assinatura deste projeto representa um compromisso com a valorização das nossas forças de segurança, que diariamente arriscam suas vidas para proteger a sociedade. O reajuste salarial, a majoração das titulações e as Promoções Extraordinárias reconhecem o esforço e a dedicação de todos os servidores.”
Lopes também enfatizou o papel decisivo da mobilização das entidades representativas:
“A nossa união foi fundamental. Estamos confiantes na aprovação do projeto, que trará mais dignidade e respeito aos nossos profissionais.”
A publicação ainda expressa agradecimentos ao governador e às autoridades que contribuíram para a formulação da proposta.
Crispiniano Daltro, comenta:
“Não me recordo de tanta expectativa por parte dos policiais quanto à publicação de um reajuste salarial, especialmente diante da polêmica que envolve a isonomia entre policiais civis e militares. A dúvida que paira é: quem será “abençoado” com a maior fatia desse "pão"? O cenário, nos bastidores, tem gerado um verdadeiro fuzuê.
Confesso que tenho minhas desconfianças em relação a essa proposta salarial. Por isso, prefiro aguardar a publicação oficial no Diário Oficial do Estado (DOE), onde se revelará, enfim, qual será a fórmula de reajuste escolhida pelo governador Jerônimo Rodrigues — que, ao que tudo indica, buscará um “arranjo” capaz de agradar tanto gregos quanto troianos.
O que me parece certo é que, mais uma vez, a linha de frente da segurança pública permanecerá enganada e iludida, diante da ausência de uma representação independente e combativa. Somos manipulados com promessas vazias e estratégias astutas.
No fim das contas, resta-nos apenas rezar, pois seguimos, infelizmente, como órfãos institucionais.”
@aepebsindicato
"Colegas Escrivães de Polícia Civil do Estado da Bahia, conforme previamente informado, na final da tarde de hoje, 22/04/2025, participamos a convite do Governador do Estado da Bahia, da reunião para assinatura da mensagem encaminhando o Projeto de Lei com reajuste salarial de 22% entre 2025 e 2025, de majoração dos percentuais aplicados a gratificação por titulação, e promoção extraordinária interstício 2025/2026.
A reunião foi importante para as entidades sindicais e associativas das carreiras da Polícia Civil, externarem demandas represadas, e solicitar empenho na instalação do grupo de trabalho do projeto de lei estadual em atenção ao quanto preconiza a Lei 14.735/2023(Lei Orgânica Nacional das Polícias Civis).
O Governador Jerônimo Rodrigues reafirmou o compromisso da gestão em dialogar com as entidades sindicais e representativa dos policiais do Estado, e pediu para que os representantes possam colaborar com ideias e soluções. Na sequência passou a palavra ao Vice Governador Geraldo Junior, e em seguida ao secretários Marcelo Werner(SSP), Adolpho Loyola(SERIN) e Edelvino Gois(SAEB) participaram da reunião, a presidente da Assembleia Legislativa da Bahia, Ivana Bastos, a Vice Presidente, Fatima Nunes, o Lider do governo, Rosemberg Pinto , e vários deputados estaduais, os quais mostraram comprometidos em buscar soluções para as demandas apresentadas, e prometeram dispensar as formalidades na tramitação do projeto de lei.
Presenciaram a reunião, o Delegado Geral da Policia Civil André Viana, Diretor Geral do DPT Osvaldo Silva, e o Comandante Geral da Policia Militar Cel. Magalhães. Participaram efetivamente as entidades sindicais e associativas: AEPEB SINDICATO, SINDPOC, ADPEB, ASBAC, SINDMOBA, SINDPEP, Força Invicta, APPM e SINPPSPEB.
Continuaremos em busca do nosso objetivo: Reestruturação remuneratória com um novo plano de carreiras, cargos e salários, dedicação, empenho, e bons resultados devem ser precedido de remuneração compatível."
IPC Denilson Neves:
O Investigador de Polícia Civil Denilson Neves expressa profunda decepção com a postura das entidades representativas da Polícia Civil da Bahia, que celebraram uma proposta de reajuste salarial considerada por ele como insuficiente, rebaixada e desrespeitosa. Segundo o policial, não há surpresa quanto à postura do governo estadual, que, há mais de 16 anos, demonstra negligência em valorizar áreas essenciais como educação, saúde e segurança pública.
O ponto mais crítico do comentário recai sobre o Sindicato (Sindpoc), acusado de abandonar a luta por uma reestruturação salarial justa — baseada na Lei Orgânica da Polícia Civil, na Constituição Federal e na Constituição do Estado — para aceitar um reajuste de 22%, parcelado em quatro vezes ao longo de dois anos, que não atende às necessidades da base da categoria.
Denilson considera inadmissível que essa proposta seja tratada como uma conquista, classificando a atitude do sindicato como “governista”, “apática” e “puxa-saco”.
Para ele, o verdadeiro registro histórico desse momento é o "peleguismo" do Sindpoc, que trai a trajetória de luta da entidade em prol dos Investigadores, Escrivães e Peritos Técnicos da Polícia Civil da Bahia.
Chico DenRiAra
"Mais uma vez, enterraram nossos sonhos! Com essa afirmativa, podemos resumir o sentimento que assola os Investigadores e Escrivães da PCBA. Longe de ser uma ação efetiva de valorização dos profissionais de Segurança Pública, esse escárnio transmite toda a falta de vontade do governo da Bahia em mitigar a violência que se avoluma na Bahia. São falaciosos esses índices de reajuste!
Nossa representação sindical fez o jogo do governo.
O SINDPOC e seus diretores foram tragados pela correnteza, seduzidos pelos afagos do poder, que tão somente têm o intuito de mantê-los cativos. O governo tripudiou, humilhou e nos calou. A diretoria do SINDPOC, por sua vez, reforçou a atitude do governo, trabalhando de forma vigorosa para ter aprovado, pela categoria, os interesses governamentais. E aqui vale uma interrogação: o que foi pautado nesse Projeto de Lei, dos onze itens que foram apresentados na “ASSEMBLEIA DO SIM” como condição para a categoria aprovar a proposta do governo?
Assim, mais uma geração de profissionais da PCBA entra para a lista dos que esperaram, esperaram, aposentaram… e a melhora não veio!"
Cenário alarmante
O anúncio do reajuste salarial ocorre em um momento delicado para a segurança pública da Bahia. O estado lidera, há anos, rankings nacionais de violência, figurando entre os mais perigosos do país em índices de homicídios, crimes violentos letais e roubos. Cidades como Salvador, Feira de Santana e Vitória da Conquista têm enfrentado rotineiramente situações de grave risco à vida dos cidadãos, revelando a urgência de políticas eficazes de combate à criminalidade.
Diante desse cenário alarmante, a postura do governo Jerônimo Rodrigues com relação às forças de segurança tem gerado controvérsias. Embora o reajuste represente um avanço formal, muitos enxergam na medida um gesto mais político do que técnico, marcado pela ausência de diálogo autêntico com a base e pela fragilidade das entidades representativas, que pouco pressionaram por melhorias mais substanciais.
A segurança pública exige, além de investimentos financeiros, uma valorização real e estratégica dos seus profissionais — o que passa por reconhecimento, estrutura adequada, respeito institucional e um projeto sólido de valorização das carreiras. A Bahia, assolada pela criminalidade e pela sensação constante de insegurança, precisa mais do que reajustes fragmentados. Precisa de um compromisso firme e transparente do governo com aqueles que arriscam suas vidas todos os dias para proteger a população.
O desafio, portanto, vai além das cifras: é moral, político e estrutural. E a resposta do Estado deve estar à altura da gravidade da crise.